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Olhar para o pobre é olhar para nós mesmos

Meu amigo de Assis me ensinou e me ensina que o Amor é a resposta que o mundo precisa.

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Perceber que o Amor de Deus sempre vence, e que o auxílio dos santos são uma verdadeira arma para nos aproximar ainda mais dEle. Essa com certeza é uma das frases que levo em minha vida desde a minha experiência com o Amor de Deus, e como ela faz sentido.

Sempre achei que santidade, como é dito, era algo muito distante de mim, um pensamento quase que inalcançável. Olhava isso na vida dos santos e pensava: “Meu Deus, eu não vou viver isso, não tem condições”. Até que em 2016, ingressei no vocacional da Comunidade Católica Shalom na missão de Santo Amaro, e logo de cara vieram me falar de um tal de Francisco de Assis, e brevemente relataram sua história que pra mim já chamou atenção.

Foi então que me decidir por comprar o livro “O Irmão de Assis” pela internet, e nesse período até que chegasse o livro fui assistindo a todos os filmes de São Francisco sem estar entendendo o porquê de tanto desejo por conhecer a vida dele.

Conhecer o outro e me conhecer

Em junho daquele ano, eu e alguns vocacionadas fomos convidados a ir a uma abordagem de rua em uma determinada região de São Paulo, que sempre passava por ali mas nunca tinha tido aquele olhar diferente por aquelas pessoas. E em um determinado momento, um homem de 40 anos se aproximou de mim, com rosto bastante machucado e disse “Podemos conversar?”, eu sem entender muito disse “Sim” e logo nos sentamos ali no chão mesmo e começamos.

Ele ia contando como era a sua vida e e como havia sido aquele dia em específico para ele, que havia apanhado muito, pois estava brigando com outros homens das ruas por causa de papelão e que precisava daquele dinheiro do papelão para tirar o filho da prisão que inclusive tinha a mesma idade que eu. Enfim, ali ficamos em cerca de 30 minutos, só nós dois. Até que perguntei o nome dele e levei um susto quando ele disse “Marcos”.

Sim, ele tinha o mesmo nome que eu. E ali, naquele momento, lembrei de uma das cenas de um filme, em que São Francisco diz que olhar para o pobre é olhar para nós mesmos. Percebia que estava olhando para mim ao conversar com aquele rapaz. Dei um abração nele, e saímos. Depois desse dia, não via a hora do meu livro chegar pra mergulhar ainda mais na história daquele que estava me inspirando tanto a conhecer o outro e a me conhecer.

No caminho para o trabalho

Nesse período, foi crescendo em mim um desejo enorme pelos meus irmãos mais pobres, algo muito inexplicável, eu mal conseguia mais andar na rua sem parar em um ou outro para conversar e saber da sua vida, mesmo que não tivesse nada a oferecer, o simples fato de ouvir e estar com eles já era satisfatório para mim.

Até que em um desses momentos, estava no caminho para o trabalho e finalizando o santo terço, e sentia de fazer um caminho diferente naquele dia, mesmo que fosse demorar mais a chegar, e então mudei o percurso. Nesse caminho, passava de uma lado da rua quando na outra calçada eu olhei um rapaz deitado no chão, e logo não hesitei e fui até ele. Toquei no seu ombro, dei bom dia, me apresentei e ele me olhou e virou para o outro lado.

Então, eu sentei do lado da cabeça dele até que ele virasse para mim. Quando ele viu que eu não ia embora, se levantou, olhou pra mim e eu perguntei se estava tudo bem, ele logo se pôs a chorar e abaixar a cabeça. Esperei e esperei, até que ele levantasse a cabeça e perguntei se poderia abraçá-lo, me esquecendo completamente da forma como estava vestido para o trabalho e da forma como aquele irmão estava. Disse a ele logo em seguida para que me esperasse, pois na hora do intervalo no almoço eu voltaria ali para que conversássemos e ele disse que não sairia dali.

Fui para o trabalho, mas minha mente e meu coração estavam longe, estava naquele rapaz, e aquele também era o mês em que no vocacional faria uma apresentação sobre os baluartes da vocação e o meu grupo falaria sobre São Francisco.

Uma das melhores tarde da minha vida

Bom, no almoço, fiz como prometido, voltei lá e encontrei com ele, agora ele já mais a vontade comigo, levei água, suco e um lanche para nós e conversamos ali no chão, demos risada, falei sobre mim também e perguntei seu nome e idade: Sérgio, 28 anos. Mas o desejo de ficar com aquele rapaz ainda não tinha acabado, e então pedi para ele ficar ali até hora que eu fosse embora do trabalho para que conversássemos mais e ele aceitou.

Quando sai, fui ao encontro dele, e então estávamos contando um ao outro sobre as nossas vidas quando um senhor, do outro da rua do portão da sua casa nos olhava, e o Sérgio um pouco incomodado perguntou se eu o conhecia e logo disse que não. Então o senhor veio até nós, nos deu boa tarde e nos ofereceu Danone, já perguntando se poderia se sentar ali conosco também.

Nós ficamos felizes e obviamente aceitamos. Aquela foi uma das melhores tarde da minha vida, como eu estava feliz com tamanha simplicidade do Sérgio e daquele senhor, me sentia muito a vontade. E em um determinado momento, o senhor nos convidou para entrar na casa e nós aceitamos. Antes de entrar, ele ainda não havia falado o nome dele, e então eu perguntei e para minha surpresa seu nome era Francisco.

Entramos na casa do senhor Francisco e de cara já vimos uma imagem de São Francisco de Assis na parede, sentamos nos sofá , tomamos um café e continuamos aquela conversa que já vinha desde aquele manhã com o Sérgio. No final da tarde, pedi ao Sérgio que me esperasse só por mais um dia para que eu levasse algumas roupas no dia seguinte para ele. Ele disse que era andarilho mas que com certeza estaria lá a minha espera.

O sentido na minha vocação

Eu sai daquele lugar, com uma vontade de voar, estava encontrando o sentido na minha vocação, na minha vida. Como havia feito um caminho diferente aquele dia, estava voltando para casa e por telefone contando há um amigo do Shalom sobre aquele experiência incrível quando me deparo com uma barraca de jornal que tinha como nome São Francisco de Assis. Ele estava, junto à Jesus, me ensinando a Amar os que mais precisam.

Quando voltei no dia seguinte, entreguei as roupas ao Sérgio, o senhor Francisco também deu algumas roupas a ele e alimentos, e eu dei a ele um terço que havia ganhado quando cheguei na Obra Shalom, ele novamente se emocionou e disse que havia encontrado um amigo pra vida toda. E foi embora!

Não havia mais dúvida no meu coração, ninguém mais era um desconhecido para mim, a partir dali não precisaria mais de uma data ou momento específico para conhecer os meus irmãos, todos os dias ia e voltava nos caminho procurando outros “Sergios” e “Marcos” pois sabia que São Francisco estava juntos a Jesus comigo para amá-los.

Marcos Ronald, 25 anos, Postulante da Comunidade de Aliança no Shalom Santo Amaro


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