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Os Bons Ladrões que Evangelizei

– Não vamos me assaltar hoje, que tal? – Falei colocando as mãos abraçando uma a outra, em postura de oração – Acredito que Deus deseja algo diferente para vocês hoje!

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Foto: Pexels

Há um ano, na Semana Santa de 2017, eu estava indo para meu curso de mestrado no Centro de Humanidades da UFC, vestido com uma calça jeans, blusa e tênis. Carregava uma pasta com meus cadernos e livros. Com meu celular e fones de ouvido, ouvia a playlist do terço feito pela Canção Nova e, em minha mão direita, segurava o terço, rezando com os mistérios gozosos da segunda-feira da semana santa.

Ao longe, avistei dois jovens, do outro lado da rua, eles estavam sérios e calados, olhando para mim. Logo pensei, “ihh, Deus, vou ser assaltado agora” – Demorando para atravessar a rua, ainda tive esperanças de que fossem passar direto, mas nos últimos segundos vieram em minha direção com velocidade e determinação.

Calmamente, retirei os fones de ouvido e os deixei pendurados em minha blusa, onde podia-se avistar o Tau que uso, como membro consagrado da Comunidade de Aliança no Shalom. Mentalmente, orei em línguas e uma paz sobrenatural me atingiu. Chegando a mim e abrindo a mochila, o primeiro jovem anunciou o assalto mostrando uma arma:

Bora, playboy, passa tudo; passa o celular e a carteira! Vamo, vamo!

Lembrei de todas as precauções a serem tomadas em momentos assim: manter-se calmo, cooperar com o assaltante, não lhes dirigir a palavra, a não ser que seja feita uma pergunta direta, não entrar em confronto físico e entregar-lhes tudo o que pedirem. Na teoria estava tudo claro, mas a oração em línguas moveu-me para outra atitude, inesperada (e de nenhuma forma encorajada a ninguém):

– Não vamos me assaltar hoje, que tal? – Falei colocando as mãos abraçando uma a outra, em postura de oração – Acredito que Deus deseja algo diferente para vocês hoje!

Você não nos ouviu não?! Passa tudo cara!

    – E que tal rezarmos juntos? – Sorri e continuei – Qual o nome de vocês? Sou missionário e desejo muito rezar com vocês!

Eles olharam um para o outro e o que segurava a arma caiu na gargalhada e disse:

– Mano, esse cara é malucão! Hahahahhahahaha – Eu sou o Pedro – Respondeu guardando a arma e fechando a mochila.

– E eu sou o João. Você é doido, cara.

    – Posso tá doido mesmo. Sei que não deveria fazer isso. Mas tenho certeza de que é isso que Deus quer para vocês hoje.

A cena tornou-se algo incrível e emocionante. Eu e os dois bons ladrões demos as mãos em círculo e eu fiz a seguinte oração:

– Senhor Jesus, você que na cruz perdoou o bom ladrão, peço que você venha sobre esses dois jovens e os perdoe de todos os pecados. Batiza-os, Jesus, no teu Espírito Santo e que eles comecem essa segunda-feira de semana santa de uma forma totalmente nova, que eles sejam transformados! Alcança a família deles e as necessidades que eles vivem hoje. É isso que te peço. Muito obrigado! Pai nosso… Amém!

Aí, cara, desculpa aí. A gente não sabia que você era de Deus, não. Valeu aí, mano, valeu mesmo. Dá próxima vez toma mais cuidado, tá ligado? Vai pela Av. 13 de maio e não anda com fone de ouvido não, porque os cara percebe e vai em cima de ti, tá ligado?

Ainda cheio de paz, respondi:

– Obrigado pelas dicas, João e Pedro. Não vou esquecer de vocês na minha oração. Sei que não deveria ter feito isso, não tenho explicação, só posso dizer que acredito que foi Deus. Deus abençoe vocês! Shalom!

Enquanto eles saiam, a distância de onde eu estava e o portão do CH da UFC parecia que estava a um quilômetro de distância; minhas pernas começaram a tremer e o sangue na minha cabeça começou a sumir. Mil pensamentos passaram na minha mente, o que mais gritava era: VOCÊ É LOUCO, WILLIAM! ISSO NÃO SE FAZ! IMPRUDENTE! IRRESPONSÁVEL! – Entrei na UFC, sentei-me no primeiro batente que vi e comecei a rezar em línguas novamente. Quanto mais rezava mais em paz ficava. Os pensamentos de Deus são maiores que os meus, a violência, a morte não ganham da misericórdia, do amor de Deus! Sou louco mesmo, se assim Deus quiser! Lembrei-me novamente do ladrão crucificado com Jesus e dei graças porque pude não só perdoá-los, mas rezar por eles, amando-os com o coração de Jesus. O mesmo Jesus que nessa semana viverá Sua paixão e morrerá para me salvar, te salvar e, acima de tudo, salvar meus amigos ladrões, João e Pedro!

Uma santa e feliz semana santa a todos!


Comentários

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  1. Certamente foi a coisa mais louca que li hoje. Mas me faz rir muito imaginando a cena. Deus tem dessas coisas. Quem diria alguém evangelizando logo Pedro e João.