Formação

Os Cristãos Leigos no Mundo

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Papa João Paulo II
Jubileu dos Leigos

“Tu o dizes: eu sou rei” (Jo 18,37). Assim responde Jesus a Pilatos num dramático diálogo… Jesus, Verbo eterno do Pai, é apresentado como princípio e fim de toda a criação, como Redentor do homem e Senhor da história…

Sim, ó Cristo, tu és Rei! A tua realeza se manifesta paradoxalmente na cruz, na obediência ao desígnio do Pai, “que – como escreve o apóstolo Paulo – nos libertou do poder das trevas e nos transferiu ao reino do seu Filho dileto, por obra do qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (Col 1,13-14). Primogênito dos que ressuscitam dos mortos, tu, Jesus, és o Rei da humanidade nova, restituída à sua dignidade originária.

Tu és Rei! O teu reino, porém, não é deste mundo (cf. Jo 18,36); não é fruto de conquistas bélicas, de dominações políticas, de impérios econômicos, de hegemonias culturais. O teu é um “reino de verdade e de vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz” (cf. Prefácio de Cristo Rei), que se manifestará na sua plenitude no final dos tempos, quando Deus será tudo em todos (cf. 1Cor 15,28). A Igreja, que já sobre a terra pode degustar as primícias do futuro cumprimento, não cessa de repetir: “Venha o teu reino” (Mt 6,10).

Venha o teu reino!

Venha o teu reino! Rezam assim, em cada parte do mundo, os fiéis que neste dia estão ao redor de seus Pastores para o Jubileu do Apostolado dos Leigos. E eu me uno com alegria a este universal coro de louvor e de oração, celebrando com vocês, queridos fiéis, a santa missa junto à Tumba do apóstolo Pedro.

Agradeço ao Cardeal James Francis Stafford, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos… Saúdo os queridos irmãos no episcopado, os sacerdotes e religiosos e religiosas presentes. Estendo minha saudação, em particular, a vocês, leigos ativamente dedicados à causa do Evangelho: olhando para vocês, penso também em todos os membros de comunidades, associações e movimentos de ação apostólica; penso nos pais e mães que, com generosidade e espírito de sacrifício, atendem à educação dos filhos na prática das virtudes humanas e cristãs; penso em quantos oferecem à evangelização o contributo de seus sofrimentos, acolhidos e vividos em união com Cristo.

Saúdo de modo especial a vocês, queridos participantes do Congresso do Laicato Católico, que se inseriram no contexto do Jubileu do Apostolado dos Leigos. O encontro de vocês tem como tema “Testemunhas de Cristo no novo milênio”…

Com o Concílio Ecumênico Vaticano II, na Igreja verdadeiramente chegou a hora do laicato e tantos fiéis leigos, homens e mulheres, compreenderam com maior clareza a própria vocação cristã, que, por sua mesma natureza, é vocação ao apostolado (cf. Apostolicam Actuositatem, 2). Há 35 anos de sua conclusão, eu digo: é preciso retornar ao Concílio. É necessário retomar nas mãos os documentos do Vaticano II para neles redescobrir a grande riqueza de estímulos doutrinais e pastorais.

Em particular, devem retomar os documentos dirigidos a vocês, leigos, aos quais o Concílio abriu extraordinárias perspectivas de envolvimento e emprenho na missão da Igreja. O Concílio não recordou a participação de vocês nas funções sacerdotal, profética e real de Cristo? A vocês, os padres conciliares confiaram, de modo especial, a missão de “procurar o reino de Deus tratando as coisas temporais e orientando-as segundo Deus” (Lumen Gentium, 31).

De então, floresceu uma vivaz estação agregativa, na qual junto ao associassionismo tradicional surgiram novos movimentos e comunidades (cf. Christifideles Laici, 29). Hoje, mais que nunca, queridos irmãos e irmãs, o apostolado de vocês é indispensável para que o Evangelho seja luz, sal e fermento de uma nova humanidade.

O que significa ser cristãos hoje, aqui, agora? Mas o que comporta essa missão? O que significa ser cristãos hoje, aqui, agora? Ser cristão jamais foi fácil e não o é hoje. Seguir Cristo exige a coragem de escolhas radicais, freqüentemente contracorrente. “Nós somos Cristo!”, exclamava santo Agostinho. Os mártires e as testemunhas da fé de ontem e de hoje, entre os quais tantos fiéis leigos, demonstram que, se necessário, não se deve hesitar nem mesmo em dar a vida.

Por isso, o Jubileu convida todos a um sério exame de consciência e a uma constante renovação espiritual para uma ação missionária sempre mais incisiva. Queria aqui relembrar quando, cerca de 25 anos atrás, perto da conclusão do Ano Santo de 1975, meu admirável antecessor, o Papa Paulo VI, escrevia na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi: “O homem contemporâneo escuta mais as testemunhas que os mestres… ou se escuta os mestres o faz porque são testemunhas” (n.41).

São palavras ainda válidas diante de uma humanidade rica de potencialidade e de atenção, ameaçada, porém, por múltiplas insídias e perigos. Basta pensar, entre outros, nas conquistas sociais e nas revoluções no campo genético; no progresso econômico e no subdesenvolvimento existente em vastas áreas do planeta; no drama da fome no mundo e nas dificuldades existentes para conseguir a paz; na rede capilar das comunicações e nos dramas da solidão e da violência que registra o jornal cotidiano.

Queridos féis leigos, quais testemunhas de Cristo, vocês são chamados especialmente a levar a luz do Evangelho aos gânglios vitais da sociedade. São chamados a ser profetas da esperança cristã e apóstolos daquele “que é, que era e que vem, o Onipotente!” (Ap 1,4).

“A santidade é o adorno de tua casa!” (Sl 92,5)… A santidade continua a ser para os fiéis o maior desafio. Devemos ser gratos ao Concílio Vaticano II, que nos recordou que todos os cristãos são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade.

Queridos irmãos e irmãs, não tenham medo de aceitar este desafio: ser homens e mulheres santos! Não esqueçam que os frutos do apostolado dependem da profundidade da vida espiritual, da intensidade da oração, de uma formação constante e de uma adesão sincera às diretrizes da Igreja. A vocês repito o que disse aos jovens durante a recente Jornada Mundial da Juventude: se vocês fossem o que deveriam ser – se vivessem de fato o cristianismo –, poderiam incendiar o mundo.

Aguardam a vocês compromissos que podem parecer desproporcionais às forças humanas. Não se desencoragem! “Aquele que iniciou em vocês esta boa obra, a levará a cumprimento” (Fl 1,6). Conservem sempre fixo o olhar sobre Jesus. Façam dele o coração do mundo.

E tu, Maria, Mãe do Redentor, sua primeira e perfeita discípula, ajude-nos a ser as suas testemunhas no novo milênio. Faça que o teu Filho, Rei do universo e da história, reine na nossa vida, nas nossas comunidades e no mundo inteiro!

“Louvor e honra a ti, ó Cristo!” Com a tua cruz remiste o mundo. A ti confiamos, ao início de um novo milênio, nosso empenho a serviço deste mundo que tu amas e que nós também amamos. Sustente-nos com a força da tua graça! Amém.


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