Nas minhas andanças por este Brasil e mundo afora, tem me dado grande alegria conhecer jovens que têm gosto pela oração. Todo jovem é como vinho novo, que tem sua efervescência e vitalidade; coloca em tudo o que faz entusiasmo e vida, sabe experimentar a presença de Deus como o consolador e confortador, aquele que vem ajudar em todos os momentos da vida. O jovem deixa-se envolver pelo entusiasmo e todos os seus sentimentos cantam a alegria da vida.
A espontaneidade juvenil é o que mais toca aos que os olham enquanto rezam. Escutar as orações dos jovens é ver-se envolvido em tantos sentimentos fugazes e profundos ao mesmo tempo. O jovem não sabe deixar-se envolver pela reflexão, ele é sempre aquele grito de amor apaixonado; é também o grito da revolta diante de tantas situações que levam a marca do sofrimento, da fome, da miséria e do desespero.
Não há dúvida que os jovens sentem-se à vontade nos movimentos carismáticos, porque aí encontram o seu “lugar e espaço sagrados” para exteriorizar tudo o que se passa dentro deles. É na dança, na coreografia religiosa, no teatro, nos cantos alegres e amorosos que tudo se faz vida e experiência de amor. O sorriso e as lágrimas se misturam numa sóbria sabedoria.
Nós, mais adultos, precisamos parar um pouco, sair de nós mesmos e voltar à nossa juventude para assim compreender a oração dos jovens de hoje. Não podemos contemplar somente de longe, é preciso deixar-se envolver e, quando não os compreendemos, assumir uma atitude de silêncio, de respeito por aquilo que se passa dentro do coração deles…
A solidão é terrível especialmente na juventude
Todo jovem gosta de encontrar amigos e, em determinados momentos da vida, sente-se terrivelmente sozinho e reclama diante de Deus por isso; e pede amigos para partilhar a vida, para vencer a solidão, para sentir-se parte do mundo que lhe parece grande demasiado, para não se perder.
A solidão é terrível em qualquer etapa da vida, mas especialmente na juventude. Lembro que, quando era jovem, isto é, 40 anos atrás… tantas vezes me surpreendia silenciosamente e com os olhos fixos para o céu, pedindo a Deus a graça de encontrar amigos que me ajudassem a me abrir à vida e me ensinassem a vencer os momentos de solidão.
Era pastor e sempre ocupado com as minhas ovelhas, que não me ajudavam muito a compreender os problemas da vida; elas estavam ocupadas em procurar alimento e eu, pobre também, me recordava de vez em quando que estava com muita fome… Mas o desejo de ter amigos era muito grande… Depois, escutando as orações dos jovens, me convenci que todo “jovem normal” sente o desejo de sair do seu mundo pequeno e restrito, de fugir dos que não o entendem e buscar alguém que possa acolhê-lo.
Como eu rezava quando era jovem…
Este artigo me tem obrigado a parar e voltar no tempo, quando tinha entre 15 e 23 anos, no início da minha vida carmelitana; a oração passou por tantas modificações que às vezes não é fácil me reconhecer no que desejava, no que pedia e na forma como pedia.
O mesmo percebemos lendo a “História de uma alma”, de Santa Teresinha do Menino Jesus, identificamos como ela, voltando no tempo, tenta recordar como rezava quando se encontrava no mosteiro das Irmãs Beneditinas, “escondia-se atrás da cortina, e dizia que estava pensando”. Também lendo as primeiras cartas dela notamos que a sua oração foi evoluindo até a sua maturidade espiritual.
Aspectos da oração juvenil para mim quando era mais novo
Deus, para mim, aos 15 anos, era o Senhor do mundo, que deveria atender meus pedidos: uma vida melhor economicamente, porque minha mãe era pobre e viúva e não podia me dar o que eu via em meus colegas e eu não podia me permitir aquele luxo.
A pergunta que surgia era a seguinte: “Por que os outros podem e eu não; Por que Deus está sendo injusto comigo, que sou um menino ‘órfão’, sofrido e sem ninguém?”
Recordo que esse tipo de oração era muito frequente e às vezes achava justo ter inveja e ciúme dos outros, e quando Deus não me dava o que desejava, batia os pés e fazia todo tipo de mortificações que podia. Tinham-me ensinado que sem sacrifício Deus não atende…
Os jovens de hoje também são capazes de fazer qualquer sacrifício físico, jejuns, para obter de Deus a graça. Aos 15 anos, a graça era querer “arrancar” com força os benefícios divinos.
A riqueza me fascinou por pouco tempo. Também pedi a Deus, mas muito de passagem, a graça de ter uma família, porém quase imediatamente me apaixonei pela vida religiosa.
A minha oração era querer uma vida diferente e suplicava ao Senhor que Ele me desse a possibilidade de sair de casa. Queria ser padre, provavelmente em mim aconteceu o que acontece ainda com tantos jovens: achava que o padre tinha uma vida tranquila, cômoda, não lhe faltava nada e ele não tinha problemas… O exemplo do meu vigário suscitava em mim o desejo de imitá-lo. Ele tinha uma boa voz e eu me esforçava, indo atrás do rebanho, para cantar, mas… nisto não vinguei e continuo a ser mais desentoado que sino rachado.
Mas tudo isso fazia parte de minha vida e sonhava, sonhava, sonhava… com uma vida de vigário, dirigindo uma paróquia e estando à frente dos fiéis. Sonho que também nunca se realizou, porque mais tarde pedi ao Senhor a vida religiosa; achava esta mais bonita e pensava que os religiosos fossem mais santos que os diocesanos… mas também vi que isso nem sempre é verdade.
Pedi ao Senhor para estudar, ser inteligente, gostava de ler e queria saber tudo de cor. Havia em mim grandes sonhos e desejos que sempre pedia como criança diante do Senhor.
Outro aspecto de minha oração era a preocupação com os pobres. Ficava indignado quando via as injustiças acontecerem entre os “sem voz nem vez”. Então rezava ao Senhor para que fizesse justiça, que ajudasse os pobres a ter o mínimo necessário para sobreviver, que lhes proporcionasse meios para melhorar de vida.
Há sonhos e ideais no coração do jovem
A espontaneidade é outro aspecto da minha oração juvenil. Como todo jovem, eu era o que era e não media as palavras para falar com Deus. E Ele sempre me entendeu. Há, no coração de jovem, sonhos e ideais que nem sempre são possíveis de expressar; são os momentos de silêncio que nos permitem ver o nosso rosto como num espelho embaçado, sem nitidez…
Mais tarde, duas jovens carmelitas descalças me ajudaram a compreender a oração dos jovens: Santa Teresa de Los Andes, que entrou no Carmelo aos 19 anos e morreu antes de completar 20; o seu diário traça o perfil de uma jovem generosa, desejosa de ser amada e de amar, que encontra no Senhor toda a sua alegria, aquele Deus que ela gosta de chamar “Deus, alegria infinita”.
A outra é Elisabeth da Trindade, que entrou no Carmelo de Dijon – na França – aos 21 anos e lá sentiu bem forte a presença de Deus, descobrindo-o como “habitante do seu coração”; ela o chamava carinhosamente “o meu três”. “É tão linda esta presença de Deus! Como gosto de encontrá-la aqui, no mais profundo do meu ser, no céu da minha alma, pois Ele jamais me abandona… Parece-me ter encontrado o meu céu na terra, porque o céu é Deus e Deus está na minha alma. O dia em que compreendi isto, tudo se iluminou dentro de mim e muito gostaria de sussurrar este segredo àqueles que amo.”
O que dizer aos jovens
Hoje, teria um conselho para dar aos jovens: não importa o que se passa dentro do coração, o que importa é sentir Deus como o amigo que nos escuta e nos acolhe em qualquer momento: antes, durante e depois das fugas; como o pai da parábola, quando voltamos, Deus se lança ao nosso pescoço, nos abraça e nos cobre de beijos…
A oração de todo jovem deve, continuamente, ser “borbulhante” como vinho novo, cheia de sentimentos contraditórios, mas sinceros. Que a oração do jovem surja de sua vida e que possa apresentar a Deus o que dentro dele se passa.
Nos retiros que ministro para jovens, tenho-lhes aconselhado a “escrever” para Deus o que gostariam de dizer a Ele. Na leitura dessas orações, percebe-se o que se passa dentro deles; são orações que despertam em nós grandes interesses. Recordo uma oração que dizia: “Senhor, tu és um cara legal, bom, mas tens um defeito: fazer-me esperar demais pelo que te peço; já estou desanimado de pedir”.
Outro queria que Deus lhe arrumasse uma namorada; a pedia tão perfeita que, provavelmente, diante dela Deus mesmo perderia a sua perfeição. São desejos de jovens que Deus compreende. O que importa é saber que a oração tem sua expressividade em cada idade, e Deus é totalmente o Outro que nos escuta sempre de forma personalizada e própria.
Não há esquemas para rezar, é deixar o coração amar e desabafar, e quem melhor do que um jovem sabe fazer isso? Que os jovens continuem a ser eles mesmos e a surpreender-nos com suas orações corajosas, ousadas, cheias de entusiasmo e de lágrimas… E que Maria, boa educadora de Jesus jovem, continue a educar todos os jovens na escuta do Evangelho e de tudo o que Jesus continua a dizer para todas as idades e épocas da história.