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Os mártires espanhóis

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No dia 28 de outubro passado, na Praça de São Pedro, no Vaticano, foram proclamados bem-aventurados 498 mártires, vítimas da perseguição religiosa na Espanha nos anos de 1934 a 1937. Entre eles estão bispos, sacerdotes, religiosos(as) e fieis leigos, homens e mulheres; três deles tinham 16 anos e o mais velho 78 anos. Como se tornaram mártires no contexto da guerra civil houve quem visse com reserva o ato, julgando terem eles morrido, não por causa da fé, mas por motivações políticas.

A propósito levo até o leitor(a) algumas afirmações do episcopado espanhol que, em 1937, através de uma carta coletiva dirigida ao mundo inteiro, esclarecia sobre a situação de perseguição religiosa instalada na Espanha: “Acrescentamos que a hecatombe produzida pela revolução comunista foi premeditada. Pouco antes da revolta, haviam chegado da Rússia 79 agitadores especializados.

A Comissão Nacional de Unificacão Marxista, nos mesmos dias, ordenava a constituição de milícias revolucionárias em todos os povos. A destruição das igrejas foi sistemática e em série… Já em 1931 a Liga Atéia tinha em seu programa um artigo que dizia: ‘Plebiscito sobre o destino que se deve dar às igrejas e casas paroquiais’; um dos Comitês provinciais dava essa norma: ‘o local ou locais destinados ao culto se tornarão armazéns coletivos, mercados públicos, bibliotecas populares, casas de banho ou higiene pública, etc….

Para a eliminação de pessoas significativas que se consideravam inimigas da revolução se haviam já formados ‘listas negras’. Em algumas, e em primeiro lugar, figurava o Bispo. Dos sacerdotes dizia um chefe comunista, diante da atitude do povo que queria salvar seu pároco: ‘temos ordem de destruir toda sua semente’… Ainda que sejam prematuras as cifras, contamos umas 20.000 igrejas e capelas destruídas ou totalmente saqueadas.

Os sacerdotes assassinados foram uma média de 40% a 80%, nas dioceses atingidas. Do clero secular uns 6.000. Foram caçados com cães, através dos montes, buscados com fúria em esconderijos…Foi crudelíssima a revolução. As formas de assassinato se revestiram de características de horrenda barbárie. Calcula-se um número superior a 300.000 de leigos(as) que sucumbiram assassinados, por suas idéias políticas e especialmente religiosas… A muitos se amputaram os membros ou foram espantosamente mutilados antes de serem mortos… tiveram os olhos vazados, a língua cortada…queimados e enterrados vivos”… Aí está uma pequena amostra da carta coletiva dos bispos espanhóis dirigida o mundo cristão.

Oferecemos ainda ao leitor(a) duas afirmações de Mons. Cárcel Ortí, autor do livro “Martires españoles sel siglo XX” (BAC, 1995): A primeira: “Os mártires espanhóis, assassinados no período, era gente pacífica submetida à perseguição religiosa. Não foram vítimas de uma repressão política, não caíram em campo de batalha; foram assassinados por causa de sua fé, porque eram católicos. A Igreja não os declara bem-aventurados por serem de direita ou de esquerda, fascistas ou comunistas, mas porque são pessoas que viveram sua vida cristã com coerência, com fidelidade ao evangelho, com entrega absoluta ao magistério e ao ensinamento da Igreja e coroaram sua vida cristã com o sacrifício supremo do sangue”.

A segunda: “foi uma perseguição religiosa sem precedentes… Destruiu-se, queimou-se e saqueou-se tudo aquilo que tinha a ver com a Igreja: templos, seminários, residências de bispos, conventos, sedes de associações católicas… Algumas igrejas foram destroçadas e com elas tesouros artísticos… Jovens e adultos foram assassinados unicamente por crerem, em execuções sumárias. Em muitos casos os perseguidores instigavam a abjurar a fé. Muitos sacerdotes e leigos foram assassinados por não quererem blasfemar…Os perseguidores violaram sacrários, descarregaram suas pistolas contra o Santíssimo Sacramento ou contra imagens de Maria… jogaram as hóstias pelas ruas. Tudo o que tinha caráter sagrado era destruído. Não era perseguição política”.

Concluo dando a palavra ao Cardeal José Saraiva Martins que assim explicitou o significado da Beatificação: “Este grupo tão numeroso de beatos manifestou até ao martírio o seu amor a Jesus Cristo, a sua fidelidade à Igreja Católica e a sua intercessão junto a Deus por todo o mundo. Antes de morrer perdoaram aqueles que os perseguiram até rezaram por eles como se deduz dos processos de beatificação instruídos nas arquidioceses de Barcelona, Burgos, Madrid, Mérida-Badajoz, Oviedo, Sevilha e Toledo; e nas dioceses de Albacete, Ciudad Real, Cuenca, Gerona, Jaén, Málaga e Santander”. Como afirma o Catecismo da Igreja Católica: “… o martírio é o testemunho supremo prestado à verdade da fé” (n. 2473). O contexto foi político, mas a perseguição foi religiosa, como atestam documentos da época.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba (SP)No dia 28 de outubro passado, na Praça de São Pedro, no Vaticano, foram proclamados bem-aventurados 498 mártires, vítimas da perseguição religiosa na Espanha nos anos de 1934 a 1937. Entre eles estão bispos, sacerdotes, religiosos(as) e fieis leigos, homens e mulheres; três deles tinham 16 anos e o mais velho 78 anos. Como se tornaram mártires no contexto da guerra civil houve quem visse com reserva o ato, julgando terem eles morrido, não por causa da fé, mas por motivações políticas.

A propósito levo até o leitor(a) algumas afirmações do episcopado espanhol que, em 1937, através de uma carta coletiva dirigida ao mundo inteiro, esclarecia sobre a situação de perseguição religiosa instalada na Espanha: “Acrescentamos que a hecatombe produzida pela revolução comunista foi premeditada. Pouco antes da revolta, haviam chegado da Rússia 79 agitadores especializados.

A Comissão Nacional de Unificacão Marxista, nos mesmos dias, ordenava a constituição de milícias revolucionárias em todos os povos. A destruição das igrejas foi sistemática e em série… Já em 1931 a Liga Atéia tinha em seu programa um artigo que dizia: ‘Plebiscito sobre o destino que se deve dar às igrejas e casas paroquiais’; um dos Comitês provinciais dava essa norma: ‘o local ou locais destinados ao culto se tornarão armazéns coletivos, mercados públicos, bibliotecas populares, casas de banho ou higiene pública, etc….

Para a eliminação de pessoas significativas que se consideravam inimigas da revolução se haviam já formados ‘listas negras’. Em algumas, e em primeiro lugar, figurava o Bispo. Dos sacerdotes dizia um chefe comunista, diante da atitude do povo que queria salvar seu pároco: ‘temos ordem de destruir toda sua semente’… Ainda que sejam prematuras as cifras, contamos umas 20.000 igrejas e capelas destruídas ou totalmente saqueadas.

Os sacerdotes assassinados foram uma média de 40% a 80%, nas dioceses atingidas. Do clero secular uns 6.000. Foram caçados com cães, através dos montes, buscados com fúria em esconderijos…Foi crudelíssima a revolução. As formas de assassinato se revestiram de características de horrenda barbárie. Calcula-se um número superior a 300.000 de leigos(as) que sucumbiram assassinados, por suas idéias políticas e especialmente religiosas… A muitos se amputaram os membros ou foram espantosamente mutilados antes de serem mortos… tiveram os olhos vazados, a língua cortada…queimados e enterrados vivos”… Aí está uma pequena amostra da carta coletiva dos bispos espanhóis dirigida o mundo cristão.

Oferecemos ainda ao leitor(a) duas afirmações de Mons. Cárcel Ortí, autor do livro “Martires españoles sel siglo XX” (BAC, 1995): A primeira: “Os mártires espanhóis, assassinados no período, era gente pacífica submetida à perseguição religiosa. Não foram vítimas de uma repressão política, não caíram em campo de batalha; foram assassinados por causa de sua fé, porque eram católicos. A Igreja não os declara bem-aventurados por serem de direita ou de esquerda, fascistas ou comunistas, mas porque são pessoas que viveram sua vida cristã com coerência, com fidelidade ao evangelho, com entrega absoluta ao magistério e ao ensinamento da Igreja e coroaram sua vida cristã com o sacrifício supremo do sangue”.

A segunda: “foi uma perseguição religiosa sem precedentes… Destruiu-se, queimou-se e saqueou-se tudo aquilo que tinha a ver com a Igreja: templos, seminários, residências de bispos, conventos, sedes de associações católicas… Algumas igrejas foram destroçadas e com elas tesouros artísticos… Jovens e adultos foram assassinados unicamente por crerem, em execuções sumárias. Em muitos casos os perseguidores instigavam a abjurar a fé. Muitos sacerdotes e leigos foram assassinados por não quererem blasfemar…Os perseguidores violaram sacrários, descarregaram suas pistolas contra o Santíssimo Sacramento ou contra imagens de Maria… jogaram as hóstias pelas ruas. Tudo o que tinha caráter sagrado era destruído. Não era perseguição política”.

Concluo dando a palavra ao Cardeal José Saraiva Martins que assim explicitou o significado da Beatificação: “Este grupo tão numeroso de beatos manifestou até ao martírio o seu amor a Jesus Cristo, a sua fidelidade à Igreja Católica e a sua intercessão junto a Deus por todo o mundo. Antes de morrer perdoaram aqueles que os perseguiram até rezaram por eles como se deduz dos processos de beatificação instruídos nas arquidioceses de Barcelona, Burgos, Madrid, Mérida-Badajoz, Oviedo, Sevilha e Toledo; e nas dioceses de Albacete, Ciudad Real, Cuenca, Gerona, Jaén, Málaga e Santander”. Como afirma o Catecismo da Igreja Católica: “… o martírio é o testemunho supremo prestado à verdade da fé” (n. 2473). O contexto foi político, mas a perseguição foi religiosa, como atestam documentos da época.

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
Arcebispo de Sorocaba (SP)


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