O tempo do Advento inaugura um novo Ano Litúrgico na Igreja. Sempre que encerramos um ciclo e damos início a um novo, somos provocados a lançar um olhar sobre a nossa vida para decidirmos se queremos prosseguir da forma que nos encontramos, ou se existem ajustes a serem feitos em nossa rota.
Na penumbra dos festejos natalinos, límpida e inegável se encontra a alegria da filiação reencontrada.
A Liturgia inaugura a feliz espera pelo Natal com a notícia mais revolucionária da história: Patrem habemus. Sim, temos um Pai. Esta é a festa da paternidade divina. Na penumbra dos festejos natalinos, límpida e inegável se encontra a alegria da filiação reencontrada. Não somos órfãos, temos o Pai.
Como não poderia ser diferente, é também neste tempo que redescobrimos os tesouros da fraternidade. Se é verdade que temos um Pai, não podemos renunciar ao fato de que temos irmãos! E como é bom possuí-los.
Uma das alegrias do Natal está em deixar Deus tocar nossa carne pelas mãos de nossos irmãos.
Sem dúvida alguma, a vivência comunitária por vezes nos desafia. É necessário que seja assim para que as sementes de eternidade que são lançadas em nossa história não sufoquem no pântano de nossas más inclinações. Se formos um pouco honestos, logo admitiremos que os momentos mais difíceis da vida em comunidade são precisamente aqueles em que somos revelados tal como somos, sem enfeites, teatros ou aparências.
A este respeito já nos dizia Jean Vanier:
A comunidade é o lugar em que são revelados os limites, os medos e os egoísmos da pessoa. Descobrimos sua pobreza e suas fraquezas, sua incapacidade de se entender com algumas pessoas, seus bloqueios, sua afetividade ou sexualidade perturbadas, seus desejos insaciáveis, suas frustrações, seus ciúmes, sua raiva e sua vontade de destruir. Enquanto estamos sós, podemos acreditar que amamos todo mundo. Vivendo com os outros o tempo todo, compreendemos o quanto somos incapazes de amar, o quanto recusamos os outros e o quanto nos fechamos em nós mesmos. Se somos incapazes de amar, o que resta de bom em nós?
(Comunidade, lugar do perdão e da festa)
Uma das alegrias do Natal está em deixar o Cristo tocar a nossa carne pelas mãos de nossos irmãos. Se nós negamos essa experiência dolorosa e salvífica, nos tornamos o mais infeliz tipo de gente: os órfãos do Advento. Estes, tendo um Pai, vivem como órfãos, tendo irmãos vivem como ermos. Não sejamos assim! Que Deus os abençoe.
Por Amanda Escarião, Consagrada da Comunidade de Aliança.