Nossa vida tem, por assim dizer, o que vamos chamar aqui de diversos estratos. Há em nós uma vida vegetativa, que nos é comum com os vegetais, e se manifesta no crescimento das unhas, cabelos, na assimilação dos alimentos, etc.; também temos uma vida animal que nos é comum com os animais, e se manifesta na nossa capacidade de ver, ouvir, tocar, de cheirar, de mover-nos, de comer, de dormir, etc.
Ainda mais, gozamos de uma vida racional que temos em comum com os anjos e que se manifesta em nossa capacidade de conhecer, de querer, de amar, e por último, num grau muito superior a todos os níveis anteriores, recebemos uma Vida Divina que nos é comum com Deus: a graça santificante pela qual participamos da mesma vida intratrinitária de Deus.
1. O Pecado Mortal
Quando cometemos um pecado grave expulsamos a Deus de nós e perdemos a graça santificante. Por isso o pecado é a desgraça maior que existe no mundo. Pecar gravemente é o pior e mais imbecil, o mais terrível e criminal, o mais absurdo e abjeto: é atuar contra a vontade de Deus, é atentar contra sua glória, é ofender ao que é infinitamente bom, é privar-se da graça de Deus, é submeter-se à escravidão do Diabo, é converter-se em candidato ao Inferno.
“Se, cheios de fé, víssemos o fundo de uma alma manchada com um pecado mortal, morreríamos sacudidos de terror” (São João Maria Vianney). Justamente, pois, exclamava São Domingos Sávio: “Morrer antes de pecar!”, e Frei Mamerto Esquiú: “Deus me conceda odiar este mal com todo meu coração e me envie a morte antes de cometê-lo”. José de São Martim assim expressava: “Que Deus o livre de viver e morrer em pecado mortal, são os votos de seu velho amigo”.
Pecado mortal é pensar, desejar, dizer, fazer, ou omitir algo contra a lei de Deus em matéria grave, sabendo-o e querendo-o (ou seja é preciso matéria grave, conhecimento, e liberalidade).
Assim como pela graça temos uma antecipação do Céu na alma, pelo pecado mortal temos uma antecipação do Inferno, e se chegamos a morrer, assim seja com um só pecado mortal, vamos ao Inferno, “Que mundo poderia acolher a um deserto de Deus?” (São Clemente Romano). Quem vive em pecado mortal, está condenando a si mesmo.
“Quem comete o pecado, é escravo” (Jo 8,34). “Cada um é escravo daquele que o domina” (2Pd 2,19): como é o Diabo quem vence o homem induzindo-o a pecar, quem comete pecado mortal fica submetido à servidão do Diabo, “aquele que comete pecado é do diabo” (1Jo 3,8), e por isso os pecadores estão enredados pelo “laço do demônio, que os tinha cativos de sua vontade” (2Tm 2,26).
Ao pecado grave se dá o nome de pecado mortal, porque ao privar a alma da graça, priva-a da vida sobrenatural, sendo assim uma antecipação da morte eterna. Por isso Deus nos ensina: “A pessoa que peca é a que morrerá” (Ez 18,20). “O pecado que leva à morte” (Rm 6,16).
Assim como se deve fugir de uma cobra venenosa porque se nos morde nos mata, assim deve-se fugir do pecado: “Foge do pecado como da serpente” (Eclo 21,2).
Quando um cristão peca mortalmente, só pode ser perdoado caso se confesse ante o sacerdote. “Verdade é que existe o ato perfeito de contrição que justifica, mas ainda assim este deve conter o desejo de confissão” (São Pedro Julião Eymard). Deve confessar-se dizendo o número de pecados cometidos, contra quais mandamentos e as circunstâncias que agravam ainda mais o pecado mortal, até o ponto de fazê-lo mudar de espécie. A modo de exemplo, são pecados mortais os seguintes atos cometidos com plena advertência e deliberada vontade;
Alguns exemplos de matéria grave
* Não crer algo ensinado por Deus e a Igreja, ou cultuar outros deuses (contra o 1º mandamento)
* Blasfemar o Santo nome de Deus, da Virgem e dos Santos; (contra o 2º mandamento)
* Faltar à Missa dos Domingos e Festa de guarda, sem grave motivo; (contra o 3º mandamento)
* Matar , suicidar-se, abortar: “crime abominável” (Concílio Vaticano II);
* Consentir em maus pensamentos, desejos, olhares, conversas, ações contra a pureza, contra a fidelidade, contra a transmissão da vida;
* Roubar uma quantia importante;
* Caluniar ou difamar a uma pessoa em algo grave, etc.
2. O Pecado Venial
Existe outro tipo de pecado. É o pecado venial ou leve. Este pecado não priva a alma da graça de Deus nem a condena ao Inferno, mas impede a perfeição e a caminhada da alma para Deus, levando-a ao vício, à escravidão do pecado, ao relaxamento da consciência, ao arrefecimento do amor por Deus e a conseqüente piora dos tipos de pecados.
Pecado venial é pensar, desejar, dizer, fazer ou omitir algo contra a lei de Deus em matéria leve.
É um tipo de pecado essencialmente distinto do pecado mortal. Este tem como castigo o Inferno eterno; aquele não impede de entrar no Céu, mas sim tem como pena o Purgatório por algum tempo, caso não tenha dado tempo deste pecado conduzir ao seu conseqüente pecado mortal, ao qual ele é porta.
O pecado mortal só se perdoa com a confissão (ou com um ato de contrição perfeita que implica o propósito de confessar-se o quanto antes); o venial, em contra partida, através do arrependimento sincero acrescido de muitas maneiras piedosas: mediante uma boa obra, uma oração, uma esmola, água benta, o sinal da cruz, e também mediante a confissão.
Mas ainda que o pecado venial não parecça algo tão grave, não se pode deixar de lutar também contra ele, pois consenti-lo é levar vida medíocre de cristão, e conseqüentemente deixar de caminhar para a santidade. Devemos sim é seguir o conselho de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Deveis ser perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48).
Não nos deve, porém, desanimar o fato de cairmos muitas vezes em pecado leve, já que “o justo cai sete vezes”, mas “se levanta” (Pr 24,16). E deve-se lutar contra ele não só porque cada vez devemos amar mais a Deus, senão também porque os pecados veniais podem nos ir levando insensivelmente a cometer pecados mais graves, pois “o que menospreza o pouco aos poucos cairá na miséria” (Eclo 19,1), e “moscas mortas fazem com que o perfumista rejeite o óleo, um pouco de insensatez conta mais que a sabedoria e glória” (Ecl 10,1).
A tentação, ainda que nos incita ao pecado, não é no entanto pecado; Jesus foi tentado e no entanto “nele não há pecado” (1Jo 3,5). Quando uma tentação se converte em pecado? Quando não se rejeita a tentação, por exemplo um mau pensamento, e ainda, sabendo que é mau se entretêm nele; então comete pecado mortal ou venial, segundo a gravidade do mesmo. Quando se rejeita a tentação, não somente não cai em pecado, senão que faz um ato de virtude, já que “podia pecar e não pecou, fazer o mal e não o fez” (Eclo 31,10).
O que são Pecados capitais
Alguns pecados se chamam capitais porque são a origem de outros pecados e de vícios. São a soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula, a preguiça (Cat.I.C., 1866). Eles poderão ser veniais ou mortais de acordo com a matéria em que incidem.
Pecados contra o Espírito Santo
“Aquele, porém, que blasfemar contra o Espírito Santo, jamais será perdoado: é culpado de pecado eterno” (Mc 3,29; cf. Mt 12,32; Lc 12,10). Deus sempre está disposto a perdoar-nos, mas se nós não queremos, respeita nossa liberdade e não nos obriga a aceitarmos seu perdão. Diz-se que nunca se perdoam pela falta de disposição em nós de receber o perdão. Costuma-se enumerar seis tipos de pecados contra o Espírito Santo: desesperar-se de alcançar perdão dos pecados, presumir que sem cumprir os mandamentos de Deus, Ele nos vai salvar, impugnar a verdade conhecida, ter inveja da graça alheia, obstinar-se no mal e impenitência final.
Pecados que clamam ao céu
O homicídio voluntário (cf. Gn 4,10); o pecados dos sodomitas (cf. Gn 18, 20; 19,13), a opressão do pobre (cf. Ex 3, 7-10); o lamento do estrangeiro, da viúva e do órfão (cf. Ex 22, 20-22) e a injustiça para com o assalariado (cf. Dt 24, 24-25).
3. A luta do Cristão
A vida cristã é luta. É luta contra a carne; contra o mundo, inimigo de Deus; é luta contra o Diabo, que busca perder-nos.
Para perseverar no bem, deve-se lutar contra o mal, obrando “com temor e com tremor” nossa salvação. (Fl 2,12).
O Concílio de Trento nos ensina que devemos “temer por razão da luta que ainda (nos) aguarda com a carne, com o mundo e com o Diabo, da qual não podemos sair vitoriosos se não colaborarmos com a graça de Deus” (Decreto sobre a Justificação) para vencer esses inimigos.
“Não está o homem condenado a trabalhos forçados aqui na terra?” (Jó 7,1). “Acaso Jesus não disse que veio trazer a espada?” (cf. Mt 10,34). São Paulo dizia de si mesmo: “combati o bom combate, … guardei a fé” (2Tm 4,7) e São Pedro: “vosso adversário, o Diabo, rodeia como um leão a rugir. Resisti-lhe firmes na fé” (1Pd 5,8). “Ao Paraíso devemos chegar cansados. Por haver trabalhado aqui exaustivamente, lá se viverá de rendas. É por ele que devemos acumular um forte capital de virtudes” (Beato Vicente Grossi).
Para combater, disse São Paulo, deve revestir-se com “a armadura de Deus” (Ef 6,10-17). Detalhemos este formoso texto:
– “Cingidos com o cinturão da verdade”. O amor à verdade é uma virtude fundamental para o cristão. Por isso deve-se “abraçar a verdade” (Ef 4,15), deve-se “amar a verdade” (cf. 2Ts 2,10), deve-se lutar por ela; “luta pela verdade até a morte, e o Senhor Deus combaterá por ti” (Eclo 4,33). Por fim, essa verdade é o mesmo Cristo: “Eu sou a Verdade” (Jo 10,6).
– “Vestindo a justiça como couraça”. A justiça nos faz dar a Deus todo o que se deve dar e ao próximo o que lhe corresponde. Essa justiça se identifica com a santidade, e permite que nossa “caridade seja sincera, odiando o mal e aderindo ao bem” (cf. Rm 12,9). Porque não só deve-se fazer o bem, senão também se deve lutar contra o mal: “Iahweh ama os que odeiam o pecado” (Sl 97,10). Só o malvado “não rejeita o mal” (Sl 36,5), e o que não rejeita o mal se faz cúmplice do mesmo. Devemos abster-nos “até da aparência do mal” (1Ts 5,22).
– “Calçados os pés com o zelo para prolongar o Evangelho da paz”. Muitas vezes a melhor defesa é um bom ataque. Devemos ter alma de apóstolos, zelo pela casa de Deus, compaixão de tantas almas que estão às escuras.
– “Sempre na mão o escuda da fé”. A fé “vence o mundo” (1Jo 5,4), vence ao Diabo: “resisti-lhe firmes na fé” (1Pd 5,9); vence a carne: “a fé limpa o coração” (Santo Agostinho).
– “Tomai o casco da salvação”. Cristo é o único que “tem palavra de vida eterna” (Jo 6,68), é o único que nos salva. Essa salvação chega a nós através dos Santos Sacramentos.
– “E a espada do Espírito…” Que é a palavra de Deus, dada pelo Espírito Santo. E é “espada cortante” (cf. Hb 4,12), da qual deve-se aprender a sem um bom esgrimista.
“Aos homens corresponde lutar e a Deus dar a vitória” (Santa Joana D’Arc).
Olá, gostaria de saber onde esta escrito na bíblia sobre o purgatório
Oi
Para refletir