Planejamento, reorganização orçamentária, noites em claro e até algumas unhas roídas. Um filho muda a vida de um homem e é natural que se pense como tudo será com a chegada dele. Um pai quer sempre o melhor futuro para o rebento: a melhor casa, a melhor educação, uma condição financeira mais favorável do que a que se tem.
Li esses dias sobre casais brasileiros que estão viajando a Miami para que o filho, prestes a vir ao mundo, nasça lá e obtenha a cidadania estadunidense, garantida por lei a qualquer criança nascida no país, inclusive se for filha de turistas ou imigrantes ilegais. O parto e todo o serviço médico é facilitado por uma clínica fundada por um brasileiro e um colombiano, que oferece “pacotes” a partir de U$ 9 mil.
‘Queremos que ele seja cidadão do mundo. Somos conhecedores das dificuldades que nós, brasileiros, enfrentamos em decorrência dessa crise sem precedente e por isso ponderamos que seria interessante dar essa oportunidade para que no futuro, ele possa optar, ou não, em permanecer no Brasil’, explica um advogado que pagou pelos serviços da clínica.
O valor mais baixo cobrado na clínica, equivalente a quase R$ 40 mil, justifica um privilégio que vai durar por toda a vida do pimpolho. Sentir na pele os efeitos da crise política e econômica que o Brasil enfrenta assusta e faz pensar no porvir. Mas se pararmos para pensar ainda mais, talvez até com um pouco mais de perspicácia, nada garante que obter a cidadania americana hoje será sinônimo de uma vida melhor e feliz no futuro.
A frase do pai contente por abrir caminho para o filho na Terra do Tio Sam me fez lembrar de um outro pai e uma outra história. Ser “cidadão do mundo” fica aquém de ser “cidadão na casa paterna”.
Santa Teresinha do Menino Jesus cita várias vezes a palavra “pátria” e a expressão “casa paterna” nos seus escritos ao se referir ao céu, à vida eterna, aquela que não se acaba nem com a morte, ou melhor, aquela que começa com a morte. Tinha tanta esperança no céu que fez de tudo para alcançá-lo e neste caminho foi feliz, plenamente feliz na terra. Para nascer também na pátria celeste, ela contou com a ajuda de seu pai, Louis Martin, que sabia que valia a pena todo o esforço para morar no melhor de todos os países, onde se é acolhido independentemente de sua cidadania.
O sr. Martin ficou viúvo quando Teresa, a mais nova das cinco filhas, tinha só quatro anos. Mesmo com as dificuldades financeiras que poderiam aparecer, ele aposentou-se de seu ofício de relojoeiro para dedicar-se mais de perto às suas meninas. Sem ser irresponsável, procurou dar importância àquilo que era, de fato, mais importante. Ensinou-lhes a alegria, a virtude, a paciência diante dos sofrimentos e das perdas inevitáveis, o amor que se esquece de si e se dá ao outro. Ensinou-lhes a viver. Deu-lhes o melhor futuro, aquele que nada nem ninguém pode tirar. O sr. Martin é santo junto com sua esposa Zélia Guérin. O sr. Martin é “de verdade”, e como ele existem milhões de homens assim, graças a Deus, pais “de futuro”.
Emanuele Sales