Igreja

Papa: atenção para não escolher a ideologia no lugar da fé

Existe uma maneira de ser cristão “desde que”, isto é, somente em determinadas condições, que Papa Francisco indica na homilia da missa da manhã desta terça-feira (8) na Casa Santa Marta. Falando daqueles cristãos que julgam tudo, mas partindo “da pequenez do coração deles”, lembra que o Senhor se aproxima com misericórdia a todas as realidades humanas porque Ele veio para salvar, não para condenar.

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A primeira leitura da liturgia do dia, extraída do Livro do profeta Jonas, prossegue a narração bíblica iniciada na segunda-feira (7) e que será concluída na quarta (8), em que se descreve a relação contraditória entre Deus e o próprio Jonas. O Papa busca o trecho precedente em que se lê a primeira chamada do Senhor que quer enviar o profeta a Nínive para pregar aquela cidade à conversão. Mas Jonas tinha desobedecido à ordem e se dirigiu para o lado oposto, distante do Senhor, porque aquela tarefa para ele era muito difícil.

Depois ele embarcou para Társis e, durante a tempestade provocada pelo Senhor, foi jogado no mar porque se sentia culpado daquele desastre, foi engolido por uma baleia e, então, após três dias e três noites, foi novamente jogado na praia. E Jesus, como disse Francisco, “pega essa figura de Jonas no ventre do peixe por três dias como a imagem da própria Ressurreição”.

Diante da conversão, Deus se arrepende

Na leitura desta terça-feira, a segunda chamada: Deus se dirige de novo a Jonas e, desta vez, Jonas obedece, vai a Nínive e aquelas pessoas acreditam na sua palavra e querem se converter tanto que Deus “se corrige em relação ao mal que tinha ameaçado de fazer a eles e não o faz”.

“O teimoso Jonas, porque essa é a história de um teimoso, o teimoso Jonas fez bem o próprio trabalho e depois foi embora”, comenta Francisco. Na quarta-feira (9) vamos ver como a história vai terminar, isto é, como Jonas fica irritado com o Senhor porque é muito misericordioso e porque cumpre o contrário daquilo que tinha ameaçado fazer pela boca do próprio profeta. Jonas repreende o Senhor:

Senhor, não era talvez isso que dizia quando eu estava no meu país? Por esse motivo me apressei pra fugir a Társis, porque eu sei que tu és um Deus misericordioso e piedoso, vagaroso em irar-se, de grande amor e que se arrepende em relação ao mal ameaçado. Mais ou menos, Senhor, tira-me a vida: eu contigo não quero mais trabalhar porque para mim é melhor morrer do que viver”, prossegue o Papa. É melhor morrer que  continuar esse trabalho de profeta contigo que, ao final, faz o contrário daquilo que me mandou fazer.

A indignação de Jonas pela misericórdia do Senhor

E ele sai da cidade, constrói uma cabana e de lá espera para ver o que o Senhor fará. Jonas esperava que Deus destruísse a cidade. O Senhor então fez crescer  um pé de mamona para lhe fazer sombra. Mas logo deixa que um verme roa a raiz da mamona e ela seque. Jonas fica novamente indignado com Deus por aquele pé de mamona. “Tiveste compaixão de uma planta”, diz a ele o Senhor, pela qual não fizeste nenhum esforço,  e “eu não deveria ter compaixão de uma grande cidade como Nínive?”

Aquele diálogo entre o Senhor e Jonas é entre dois obstinados, observa o Papa:

Jonas, obstinado com suas convicções de fé e o Senhor obstinado em sua misericórdia: ele nunca nos deixa. Bate na porta do coração até o fim, está lá. Jonas, obstinado porque concebia a fé com condições; Jonas é o modelo daqueles cristãos “desde que”, cristãos com condições. “Eu sou cristão, mas desde que as coisas sejam feitas assim” – “Não, não, essas mudanças não são cristãs” – “Isso é heresia” – “Isso não está certo” … Cristãos que condicionam Deus, que condicionam a fé e a ação de Deus.

Os cristãos “desde que” têm medo de crescer

Francisco enfatiza que é este “desde que” que faz com que tantos cristãos se fechem “nas próprias ideias e acabem na ideologia: é o mau caminho da fé para a ideologia”. “E hoje existem tantos assim” –  prossegue o Papa – e esses cristãos têm medo: “de crescer, dos desafios da vida, dos desafios do Senhor, dos desafios da história”, apegados  “às suas convicções, às suas primeiras convicções, às suas próprias ideologias”.

São os cristãos que – afirma ainda o Pontífice –  “preferem a ideologia à fé” e se afastam da comunidade”, têm medo de se colocar nas mãos de Deus e preferem julgar tudo, mas a partir da pequenez do próprio coração”. E conclui:

As duas figuras da Igreja, hoje: a Igreja daqueles ideólogos que se escondem em suas próprias ideologias, ali, e a Igreja que mostra o Senhor que se aproxima de todas as realidades, que não sente repugnância: as coisas não causam repugnância ao  Senhor , os nossos pecados não lhe são repugnantes. Ele se aproxima para acariciar os leprosos, os doentes. Porque Ele veio para curar, veio para salvar, não para condenar.


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