O Papa Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta, no Vaticano, na manhã desta sexta-feira (17/04), da Oitava da Páscoa. Na introdução, dirigiu seu pensamento às mulheres grávidas:
“Gostaria que hoje rezássemos pelas mulheres gestantes, as mulheres grávidas que se tornarão mães e estão inquietas, se preocupam e fazem uma pergunta: Em qual mundo meu filho viverá? Rezemos por elas, a fim de que o Senhor lhes dê a coragem de levar estes filhos adiante com a confiança de que será certamente um mundo diferente, mas será sempre um mundo que o Senhor amará muito”, frisou o Papa.
Na homilia, o Pontífice comentou o Evangelho do dia (Jo 21,1-14), em que Jesus Ressuscitado aparece aos discípulos retornados à margem após uma pesca infrutuosa no mar de Tiberíades. Convidados pelo Senhor a lançar novamente as redes, enchem-nas de peixes.
Francisco pontuou que essa é uma cena que se realiza com naturalidade, porque os discípulos tinham crescido na familiaridade com Jesus. Nós, cristãos – explicou –, devemos crescer nesta familiaridade, que é pessoal, mas comunitária.
Confira a homilia, na íntegra.
Os discípulos eram pescadores: Jesus os tinha chamado propriamente no trabalho. André e Pedro estavam trabalhando com as redes. Deixaram as redes e seguiram Jesus. João e Tiago, a mesma coisa: deixaram o pai e os moços que trabalhavam com eles e seguiram Jesus.
O chamado foi feito propriamente no trabalho deles de pescadores. E esta passagem do Evangelho de hoje, este milagre, da pesca milagrosa nos leva a pensar em outra pesca milagrosa, aquela contada por Lucas, no capítulo quinto: Também ali aconteceu o mesmo.
Fizeram uma pesca, quando pensavam não ter (nada). Após a pregação, Jesus disse: “Tomai o largo” – “Mas trabalhamos a noite inteira sem nada apanhar!” – “Ide”. “Confiantes na palavra – disse Pedro – lançarei as redes”. Era tamanha a quantidade (de peixes) – diz o Evangelho – que “foram tomados de espanto”, por aquele milagre.
Hoje, nesta outra pesca, não se fala de espanto. Vê-se uma certa naturalidade, se vê que houve um progresso, um caminho percorrido no conhecimento do Senhor, na intimidade com o Senhor; direi a palavra justa: na familiaridade com o Senhor.
Quando João viu isso, disse a Pedro: “Mas é o Senhor!”, e Pedro vestiu sua roupa e atirou-se na água para ir até o Senhor. Na primeira vez, ajoelhou-se diante d’Ele: “Afasta-te de mim, Senhor, que sou um pecador”. Desta vez não diz nada, é mais natural.
Ninguém perguntava: “Quem és?” Sabiam que era o Senhor, era natural, o encontro com o Senhor. A familiaridade dos apóstolos com o Senhor tinha crescido.
Também nós, cristãos, em nosso caminho de vida nos encontramos neste estado de caminhar, de progredir na familiaridade com o Senhor. O Senhor – poderia dizer – é de certo modo “aberto”, mas “aberto” porque caminha conosco, sabemos que se trata d’Ele.
Ninguém lhe perguntou, aí, “quem és?”: sabiam que era o Senhor. Uma familiaridade cotidiana com o Senhor, é a do cristão.
E, certamente, fizeram a primeira refeição do dia juntos, com o peixe e o pão, certamente falaram de muitas coisas com naturalidade.
Esta familiaridade dos cristãos com o Senhor sempre é comunitária. Sim, é íntima, é pessoal, mas em comunidade. Uma familiaridade sem comunidade, uma familiaridade sem o pão, uma familiaridade sem a Igreja, sem o povo, sem os sacramentos, é perigosa.
Pode tornar-se uma familiaridade – digamos – gnóstica, uma familiaridade somente para mim, separada do povo de Deus. A familiaridade dos apóstolos com o Senhor sempre era comunitária, se dava sempre à mesa, sinal da comunidade. Sempre era com o Sacramento, com o pão.
Digo isso porque alguém me fez refletir sobre o perigo deste momento que estamos vivendo, essa Pandemia, que fez que todos nos comunicássemos também religiosamente através da mídia, inclusive esta Missa, estamos todos comunicados, mas não juntos, espiritualmente juntos. O povo é pequeno.
Há um grande povo: Estamos juntos, mas não juntos. Também o Sacramento: hoje vocês terão, a Eucaristia, mas as pessoas que estão em conexão conosco (terão) somente a Comunhão espiritual. E esta não é a Igreja. Esta é a Igreja de uma situação difícil, que o Senhor a permite, mas o ideal da Igreja é sempre com o povo e com os Sacramentos. Sempre.
Antes da Páscoa, quando saiu a notícia que eu celebraria a Páscoa em São Pedro (na Basílica de São Pedro) vazia, um bispo me escreveu – um bom bispo: Bom – e me repreendeu. “Mas como é possível, (a Basílica de) São Pedro é tão grande, por que não colocam 30 pessoas ao menos, para que se veja as pessoas? Não haverá nenhum perigo…”.
Eu pensei: “Mas, o que esse tem na cabeça, para me dizer isso?” No momento, não entendi. Mas como é um bom bispo, muito próximo do povo, algo quererá dizer-me. Quando o encontrar, lhe perguntarei. Depois entendi.
Ele me dizia: “Esteja atento para não viralizar a Igreja, para não viralizar os Sacramentos, para não viralizar o Povo de Deus”. A Igreja, os Sacramentos, o Povo de Deus são concretos.
É verdade que neste momento devemos ter esta familiaridade com o Senhor desse modo, mas para sair do túnel, não para permanecer aí. E essa é a familiaridade dos apóstolos: Não gnóstica, não viralizada, não egoísta para cada um deles, mas uma familiaridade concreta, no povo.
A familiaridade com o Senhor na vida cotidiana, a familiaridade com o Senhor nos Sacramentos, no meio do Povo de Deus. Eles fizeram um caminho de amadurecimento na familiaridade com o Senhor: aprendamos nós a fazê-lo também.
Desde o primeiro momento, eles entenderam que aquela familiaridade era diferente daquilo que imaginavam, e chegaram a isso. Sabiam que se tratava do Senhor, partilhavam tudo: a comunidade, os Sacramentos, o Senhor, a paz, a festa.
Que o Senhor nos ensine essa intimidade com Ele, essa familiaridade com Ele, mas na Igreja, com os Sacramentos, com o santo povo fiel de Deus.
Assim seja.