Entre os cerca de 50 mil fiéis que se reuniram na Praça São Pedro, no Vaticano, para a canonização dos Beatos João Batista Scalabrini e Artêmides Zatti, centenas eram salesianos coadjutores (ou salesianos irmãos), vindos de todo o mundo.
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No discurso do Papa Francisco recordou alguns fatos de ambos os santos, falou sobre migrantes, unidade e ir em socorro aos necessitados. Confira um trecho:
“Os dois Santos, canonizados hoje, nos lembram a importância de caminhar juntos e saber agradecer. O Bispo Scalabrini, que fundou uma Congregação para o cuidado dos migrantes, aliás, duas: uma masculina e outra feminina, afirmava que, no caminhar comum daqueles que emigram, é preciso não ver só problemas, mas também um desígnio da Providência. Há uma migração, neste momento, aqui na Europa, que nos faz sofrer muito e nos leva a abrir nossos corações: a migração de ucranianos que fogem da guerra. Não nos esqueçamos hoje da martirizada Ucrânia.
Scalabrini olhava mais além, olhava adiante, para um mundo e uma Igreja sem barreiras, sem estrangeiros. Por sua vez, o irmão salesiano Artêmides Zatti foi um exemplo vivo de gratidão: curado da tuberculose, dedicou toda a sua vida a favor dos outros, a cuidar com amor e ternura dos doentes. Conta-se que o viram carregar aos ombros o corpo morto de um dos seus doentes. Cheio de gratidão por tudo o que havia recebido, quis dizer o seu «obrigado» ocupando-se das feridas dos outros.”
João Batista Scalabrini
São João Batista Scalabrini foi um bispo da Igreja Católica na cidade de Piacenza e fundador da Congregação dos Missionários de São Carlos, ou Scalabrinianos. Conhecido como “Pai dos Migrantes” e fundador dos missionários de São Carlos Borromeu.
Dom João Batista teve como destaque o ministério o trabalho com os migrantes. Entre os anos de 1850 e 1900, foram milhões de europeus que deixaram seus lares e pátria em busca da sobrevivência. Para eles o Bispo criou a Casa dos Migrantes.
Em 1887, fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeu, conhecidos atualmente como padres scalabrinianos, para a assistência religiosa, moral e social aos emigrantes em todo o mundo, e criou a Sociedade São Rafael, um movimento leigo a serviço dos migrantes. E em 1895, fundou a Congregação das Missionárias de São Carlos Borromeu, hoje das irmãs scalabrinianas, e concedeu reconhecimento diocesano às Irmãs Apóstolas do Sagrado Coração, enviando-as para o trabalho com os emigrantes italianos do Brasil em 1900.
Pai dos migrantes
O Papa, na celebração de canonização, ainda orientou aos peregrinos em sempre terem o exemplo de São João Batista Scalabrini em uma gratuidade generosa ao encontrar as pessoas mais necessitadas.
“Por isso, exorto vocês, missionárias e missionários scalabrinianos, a sempre se inspirarem em seu Santo Fundador, pai dos migrantes, de todos os migrantes. Que seu carisma renove em vocês a alegria de estar com os migrantes, de estar a seu serviço, e de fazê-lo com fé, animados pelo Espírito Santo, na convicção de que em cada um deles encontramos o Senhor Jesus. Isso ajuda vocês a terem o estilo de uma gratuidade generosa, a não poupar recursos físicos e econômicos para promover os migrantes de forma integral; e também ajuda vocês a trabalhar na comunhão de propósitos, como uma família, unida na diversidade”, completou Francisco.
Morreu no dia 1o de junho de 1905, na cidade de Piacenza, Itália, deixando esta mensagem aos seus filhos e filhas: “Levai onde quer que esteja um migrante o conforto da fé e o sorriso de sua pátria. Devemos sair do templo, se quisermos exercer uma ação salutar dentro do templo“. O papa João Paulo II beatificou-o com o título de “Pai dos Migrantes” em 1997.
Artêmides Zatti
Artêmides Zatti nasceu em Boretto, província de Reggio Emilia (Itália), no dia 12 de outubro de 1880, de Luís Zatti e Albina Vecchi, uma família de agricultores. Desde pequeno foi habituado ao trabalho e ao sacrifício.
Foi confiado a ele a tarefa de assistir um jovem sacerdote, doente de tuberculose, que morre em 1902. No dia em que Artêmides devia receber o hábito clerical contraiu também ele a doença. Retornando àquela casa, o Padre Cavalli destinou-o ao hospital missionário de Viedma. Com ele, Artêmides pede e obtém de Maria Auxiliadora a graça da cura com a promessa de dedicar toda a vida ao cuidado dos doentes. Curou-se e manteve a promessa.
Em 1908 emitiu os votos perpétuos. Foi de uma dedicação absoluta aos doentes. Maria Auxiliadora jamais o abandonou. Quando Dom Bosco sonhava com os coadjutores salesianos, seguramente desejava-os santos como Artêmides. Em 1950, tendo caído da escada, foi obrigado ao repouso. Depois de alguns meses manifestaram-se os sintomas de um câncer. Faleceu em 15 de março de 1951. João Paulo II beatificou-o em 14 de abril de 2002. Os restos mortais repousam na capela dos Salesianos em Viedma.
Caminhar juntos
O Pontífice usou as palavras do Evangelho para falar sobre os novos santos, e ainda propôs um caminhar ao lado dos mais necessitados. Ao caminhar juntos, disse o papa, os leprosos do Evangelho saem da exclusão em que vivem para se mostrar aos outros e pedir ajuda.
“Trata-se de uma imagem significativa também para nós: se formos honestos conosco mesmos, havemos de nos lembrar que todos estamos doentes no coração, todos somos pecadores, todos necessitamos da misericórdia do Pai. Consequentemente deixaremos de nos dividir com base nos méritos, nas funções que desempenhamos ou em qualquer outro aspecto exterior da vida, e caem assim os muros interiores, caem os preconceitos, e por fim descobrimo-nos irmãos.”
Isto, disse ele, é o que significa ser “sinodal”, que é “também a vocação da Igreja. Interroguemo-nos até que ponto somos verdadeiramente comunidades abertas e inclusivas em relação a todos; se conseguimos trabalhar juntos, padres e leigos, ao serviço do Evangelho; se temos uma atitude acolhedora”.
Falando então sobre São João Batista Scalabrini, Francisco condenou a exclusão dos migrantes. “É escandalosa a exclusão dos migrantes! Mais, a exclusão dos migrantes é criminosa, fá-los morrer diante dos nossos olhos. E assim temos hoje o Mediterrâneo, que é o cemitério maior do mundo. A exclusão dos migrantes é repugnante, é pecaminosa, é criminosa. Não abrir as portas a quem precisa”, lamentou.
O Papa concluiu, convidando a rezar “para que estes nossos santos irmãos nos ajudem a caminhar juntos, sem muros de divisão; e a cultivar esta nobreza de alma tão agradável a Deus que é a gratidão”.