“ Com tal convite, Jesus – longe de ser um obstinado masoquista – quer encerrar para sempre a prática tão usual –ontem como hoje – de ser cristão e viver sob a lei de talião. Não se pode pensar o futuro, construir uma nação, uma sociedade sustentada na «equidade» da violência. Não posso seguir Jesus, se a ordem que promovo e vivo é «olho por olho, dente por dente». Nenhuma família, nenhum grupo de vizinhos ou uma etnia e menos ainda um país tem futuro, se o motor que os une, congrega e cobre as diferenças é a vingança e o ódio. ”
Jesus propõe a primeira regra de ouro ao alcance de todos: fazer aos outros aquilo que gostaríamos fizessem a nós. Isso significa reciprocidade e implica amar-se e ajudar-se sem esperar nada em troca.
Paradoxo humano
O Pontífice faz uma amarga constatação: “o mundo desconhecia – e continua sem conhecer – a virtude da misericórdia, da compaixão, matando ou abandonando deficientes e idosos, eliminando feridos e enfermos, ou divertindo-se com os sofrimentos dos animais”.
“ Superar os tempos de divisão e violência supõe não só um ato de reconciliação ou a paz entendida como ausência de conflito, mas o compromisso diário de cada um de nós. Trata-se de uma atitude, não de fracos, mas de fortes, uma atitude de homens e mulheres que descobrem que não é necessário maltratar, denegrir ou esmagar para se sentirem importantes; antes, pelo contrário… ”
O Papa aponta então para o paradoxo de Moçambique: um território cheio de riquezas naturais e culturais, mas com uma quantidade enorme da sua população abaixo do nível de pobreza. “E por vezes parece que aqueles que se aproximam com o suposto desejo de ajudar, têm outros interesses. E é triste quando isto se verifica entre irmãos da mesma terra, que se deixam corromper; é muito perigoso aceitar que a corrupção seja o preço que temos de pagar pela ajuda externa.”
Agir a serviço de interesses políticos ou pessoais é ser ideológico. Este é o termômetro, disse o Papa.
“Se Jesus for o árbitro entre as emoções em conflito do nosso coração, entre as decisões complexas do nosso país, então Moçambique tem garantido um futuro de esperança.”
Despedida
A missa no estádio Zimpeto foi o último compromisso do Papa em Moçambique. Antes de deixar o estádio, Francisco fez sua saudação final:
“ Irmãs e irmãos moçambicanos, sei do sacrifício que tivestes de fazer para participar nas celebrações e encontros e também que se molharam todos. Espero que com água benta! Aprecio-o e agradeço-o de coração. E agradeço também a quantos não o puderam fazer, em consequência dos recentes ciclones: Queridos irmãos, senti de igual modo o vosso apoio! E digo a todos: tendes tantos motivos para esperar! Vi-o, toquei-o com a mão nestes dias. Por favor, guardai a esperança; não deixeis que vo-la roubem. ”
Da sacristia, o Pontífice se dirige diretamente ao aeroporto internacional de Maputo para a cerimônia de despedida. A próxima etapa é a capital malgaxe, Antananarivo, onde Francisco chegará depois de três horas de voo.