Em uma transmissão que durou cerca de 18 minutos, o jornalista espanhol Jorgi Évole teve a oportunidade de conversar com o Papa Francisco sobre a atual crise global provocada pelo COVID-19.
Depois de breves comentários sobre as imagens da Praça São Pedro vazia, vistas na transmissão da oração e da bênção extraordinária Urbi et orbi realizada pelo Papa Francisco na sexta-feira, 27, o jornalista espanhol Jordi Évole, começou a entrevista perguntando como o Pontífice se sente.
O Santo Padre respondeu que está inserido no problema e relatou que por respeito a Quarentena, não está recebendo grupos, mas continua trabalhando normalmente; recebe inclusive audiências pessoais que já estavam marcadas. Na entrevista, o Papa Francisco deixa perceber que o toca muito proximamente a atual situação de crise que está vivendo o mundo.
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Jornalista: O senhor tem alguma mensagem para quem perdeu seus entes queridos, quem trabalham na “linha de frente” (médicos, enfermeiros, paramédicos, assistentes sanitários, etc), nos trabalhadores das redes de abastecimento das cidades e para quem vive este período com medo?
Papa Francisco: A quem sofreu a perda de alguém, que se pode dizer a quem ultimamente perdeu um familiar? A última coisa que faria seria lhe dizer algo. É muito melhor fazê-lo sentir a minha proximidade. Hoje em dia é mais apreciado a ‘linguagem dos gestos’ que as palavras. Claro, é evidente que é necessário dizer algo, mas, – de início – acredito que seja melhor entregar um gesto de proximidade.
Aos profissionais que estão na ‘linha de frente’, eles eu os admiro, porque nos ensinam o significado da palavra ‘compromisso’. Agradeço o seu testemunho. Para mim, são a imagem dos ‘santos da porta do lado’. Inclusive, se não são crentes, ou são agnósticos, ou se vivem a fé da sua própria maneira, eles são o vivo testemunho do ‘viver pelo outro’.
Aos que abastecem supermercados, as farmácias (dentre outros), é graças a eles que está funcionando todo o sistema, é por eles que não falta o essencial. Desenvolvem seu trabalho à altura do que a situação exige. A eles também devemos reconhecimento.
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Assim, reitera que: “Inclusive se as soluções concretas que se devem tomar – para cada caso – velem por um ‘mal menor’, a lógica do ‘salve-se quem puder’ não é a resposta para nenhum ponto de vista”.
Nessa linha, na sua reflexão, mais do que despedir aos trabalhadores, agredir os outros ou ignorá-los, as medidas devem basear-se no acolher, no auxiliar, na solidariedade e no aproximar-se aos que têm pouca ou nula esperança, porque não veem onde ou em quem possam se apoiar.
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Jornalista: Os governantes das diversas nações estão à altura das circunstâncias?
Papa Francisco: Tenho visto uma responsabilidade conforme a situação de crise, mas reconheço também que houve casos em que a resposta foi lenta e em tempos não tão propícios. Como foi o caso, estes últimos já são de domínio público.
Mesmo se foi contestado que as informações não foram entregues a tempo, é preciso reconhecer que a população em geral também subestimou a magnitude do problema. Era predominantemente isso não vai acontecer comigo ou está longe da minha realidade. Esse mecanismo de defesa, que é a projeção, alienou a calamidade; isso nos levou a não vê-la no concreto, mas no controle remoto, o que levou a não dar à situação o peso certo.
Jornalista: Pecamos com arrogância?
Papa Francisco: Uma das coisas que mais me preocupa hoje é a presunção de não serei tocado, do sou um preferido.
[Nesse momento, o Santo Padre cita uma notícia de um episódio de violência ocorrido em um dos prédios de Roma, onde um inquilino atacou o porteiro porque este o lembrou que ele não podia sair, pois estava em quarentena.]
Comentários como: isso acontece porque as pessoas não se cuidam ou porque não respeitam, apenas levam à violência verbal e psicológica, que em nenhum caso ajuda a lidar com a situação atual.
Peço a recuperação da convivência; essa será uma grande conquista depois que essa emergência terminar. Por seu lado, a solidão galopante que é vista hoje é preocupante. Intervimos na convivência, o toque de mão em mão não nos lembramos do que é. Essa imagem da família é sempre mais recorrente do que quando todos estão em um único espaço: cada um vive em seu próprio mundo. Vemos quem assiste televisão, conversa com amigos ou navega na internet.
O que a quarentena nos oferece é redescobrir esse tempo para nos encontrarmos novamente. Hoje redescobrimos a necessidade de estar perto e de acariciar nossos entes queridos.
Jornalista: Diante desta crise, é possível sofrer uma crise de fé?
Papa Francisco: Sim. Na minha vida, é claro, eu as tive, mas não neste momento. Mas quando tive que vivê-las, venci-as por mérito da Graça de Deus. Esse caminho é o mais seguro, o mais concreto e o que nos faz bem.
Jornalista: O senhor é otimista?
Papa Francisco: Não gosto da palavra otimismo, porque me parece maquiagem. Antes, tenho esperança na humanidade, nos povos, nas pessoas que desta crise tirarão ensinamentos para quando for a sua vez de voltar à normalidade de suas vidas. Tenho fé que vamos sair melhor (conclui).
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