O Patriarcado ortodoxo de Moscou afirmou que a descoberta do ‘Evangelho de Judas’, cujo texto foi publicado por cientistas americanos e suíços, não afeta a doutrina cristã e só tem interesse histórico.
”Não podemos imaginar que a descoberta de um texto atribuído a um personagem do início do cristianismo ou mesmo de um dos discípulos de Cristo mude a composição da Sagrada Escritura”, declarou o porta-voz do departamento de Relações Exteriores do Patriarcado de Moscou, o padre Mikhail Dudkó.
A organização National Geographic divulgou nessa quinta-feira o original e a tradução para o inglês do texto de um papiro encontrado no Egito em 1978. É a única cópia existente do ‘Evangelho de Judas’, traduzido para o copta a partir do original em grego.
Segundo o texto, Judas não foi o traidor que vendeu Jesus por 30 moedas de prata, mas um discípulo privilegiado, encarregado da missão mais difícil: sacrificá-lo para ajudar a sua essência divina a escapar da prisão do corpo e subir ao céu.
O porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa disse que textos relativos ao período inicial do cristianismo já foram encontrados outras vezes e continuarão sendo. Por isso, ”o interesse no ‘Evangelho de Judas’ é acima de tudo, histórico”. ”Não há possibilidade alguma de incorporar o livro à Sagrada Escritura. Mas ele pode revelar novos detalhes históricos”, explicou Dudkó.
Ele acrescentou que será necessário um minucioso estudo para determinar o verdadeiro valor histórico do documento. O diácono Andrei Kuráyev, conhecido teólogo ortodoxo russo e professor da Academia Espiritual de Moscou, opinou que o ‘Evangelho de Judas’ tem pouco a acrescentar aos conhecimentos sobre a vida de Jesus Cristo e dos apóstolos.
”Não pode ser obra de Judas Iscariotes pela s imples razão que Judas se enforcou no mesmo dia em que Cristo foi crucificado. Portanto, não pode haver nenhum ‘Evangelho de Judas’, e o texto, provavelmente, foi criado por alguma das seitas gnósticas dos séculos III e IV”, afirmou. Kuráyev lembrou que na época, principalmente no Egito, surgiram várias correntes ocultistas pseudocristãs. Algumas delas cultuavam os personagens bíblicos mais detestados, como os cainitas, que prestavam culto a Caim, o primeiro assassino, e os ofitas, que veneravam a Serpente que tentou Adão e Eva.
”O chamado ‘Evangelho de Judas’ pode ampliar nosso conhecimento sobre as crenças gnósticas daqueles tempos. Mas dificilmente mudará ou aumentará nosso conhecimento sobre a vida de Cristo e da primeira comunidade apostólica”, opinou.
O teólogo russo apontou ainda a diferença entre uma divulgação na imprensa e uma publicação científica, que deve descrever a história da descoberta, o estado físico do manuscrito, o grau de conservação, uma análise da escrita e do contexto cultural. ”Enquanto não forem cumpridas estas condições, não pode haver um comentário sério sobre o ‘Evangelho de Judas”’, disse Kuráyev.
Comunidade Católica Shalom