Perseguição. Se você procurar mesmo nos dicionários modernos disponíveis, nenhuma definição daria conta de expressar e definir minhas atitudes diante dos servos e discípulos de Jesus. Hoje em dia, vocês falam muito de bullying, na maioria dos casos entre jovens e crianças na escola. Tem ainda o cyberbullying, quando alguém persegue outra pessoa por meio de recursos virtuais, por uma razão em particular, seja esta concreta ou aleatória. Entretanto, penso que nenhuma dessas definições chegariam perto de expressar a perseguição que infligi contra os cristãos, antes da minha conversão.
Deixe primeiro eu me apresentar, meu nome é Paulo de Tarso, conhecido também como Apóstolo Paulo, ou simplesmente São Paulo. Fui um dos maiores propagadores da mensagem de Jesus, a Paz completa de Deus entre nós. Sou ainda o autor de 13 epístolas do Novo Testamento. Porém, antes de receber o choque da ressurreição de Jesus e ser mergulhado em sua paz, eu era conhecido como Saulo. Tornei-me famoso pelo empenho que dediquei em perseguir, torturar e matar muitos dos primeiros cristãos, ali nos arredores de Jerusalém.
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Minhas motivações
As ciências que vocês desenvolveram no mundo moderno dizem que um perseguidor se diverte com a malícia, a obsessão, o mal, a hostilidade, a raiva, o ciúme, a culpa, etc. De fato, o objetivo de um perseguidor é ter controle sobre outras pessoas, motivado por diversos movimentos interiores. Por vezes, ele usa como recurso o medo, de modo que vai, pouco a pouco, se apoderando de todos os aspectos da vida do outro.
Confesso que, no meu caso, essas coisas que as ciências modernas de vocês tentam explicar, dentro de mim, se disfarçavam de zelo, amor e respeito pelas leis e tradições do meu povo. Nasci no ano cinco, em Tarso, na Cilicia, região que vocês chamam atualmente de Turquia. Esse era um próspero centro mercantil e intelectual de domínio Romano. Meus pais eram judeus, mas gozavam dos privilégios da cidadania romana.
Passei os primeiros anos de minha vida em meio à comunidade judaica, frequentando a escola da Sinagoga. Tornei-me tecelão. Um antigo costume de meu povo era de ensinar às crianças algum trabalho útil. Ainda adolescente, fui enviado a Jerusalém, pois o interesse de meus pais era me familiarizar de modo profundo com a religião e a cultura de nosso povo hebreu. Em Jerusalém, estudei no Templo de Salomão, reedificado e embelezado por Herodes Agripa, o governador da Palestina na época.
Durante cinco anos fui educado e formado por Gamaliel, um dos rabinos mais influentes que havia. Além da Torá, estudei a tradição oral, um conjunto de regras de nosso povo, que regulava todas as atividades cotidianas. No fundo, fui preparado para tornar-me um rabino do grupo mais tradicional da fé judaica.
Concluí meus estudos e retornei a Tarso. Ali, alternava meus trabalhos na sinagoga e na fabricação de tendas, serviço que prestava na companhia de meu pai. Se você lê as Escrituras, verá que meu nome aparece pela primeira vez numa ocasião muito forte e significativa. Foi justamente quando assassinaram Estevão, um fiel servo de Deus, que anunciava o nome de Jesus e sua salvação. Após apedrejarem-no, com minha aprovação, depuseram suas vestes ensanguentadas aos meus pés (cf. At 7,58).
Morte de um perseguidor e o nascimento de um perseguido
Fui muito impactado pela morte desse servo, embora não assumisse, se me perguntassem. Naquele instante, uma inquietação crescente se instalou dentro de mim. Enquanto ele era assassinado, entre uma pedrada e outra, dizia de joelhos, com o olhar voltado para o céu: “Senhor, não leves em conta este pecado” (cf. At 7,60). Após essas palavras, morreu. Eu havia aprovado tudo isso, todo esse espetáculo de maldade, disfarçada de zelo (cf. At 8,1).
Contudo, eu continuava implacável, respirando ameaças, ódio e morte contra os discípulos do Senhor (cf. At 9,1). Inclusive, para formalizar meu ódio disfarçado de zelo, pedi cartas de recomendação para as sinagogas de Damasco, a fim de levar presos para Jerusalém todos os homens e mulheres que encontrasse seguindo esse caminho (cf. At 9,2).
Aconteceu, porém, que durante a viagem, já próximo de Damasco, vi-me cercado por uma luz muito forte que vinha do céu. Cai por terra, em seguida fui interpelado por uma voz que me dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 9,4) Eu, atônito, perguntei: “Quem és, Senhor?” (V-5). Ele me respondeu, mais ou menos com essas palavras: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues. Como é duro para ti deixar de ser teimoso e alterar tua opinião e ponto de vista a meu respeito e dos meus discípulos” (cf. At 9, 5).
Fiz-lhe ainda outra pergunta que orientou tudo o que eu realizaria a partir de então: “Senhor o que queres que eu faça? Ele me respondeu: levanta-te, entra na cidade, ali direi o que deves fazer” (At 9,6).
Cego para a glória desse mundo, mas com visão ampla do Reino de Deus
Os que estavam comigo ficaram confusos, pois ouviram a voz, mas não viam ninguém (cf.At 9,7). Então, me pegaram pela mão e me levaram para Damasco. Ali fiquei três dias sem poder ver, além disso, nada comi nem bebi (cf. At 9,8-9). Deus, todavia, fez uma revelação a um grande servo, Ananias. Este, mesmo com muito medo, devido à minha fama de perseguidor violento, obedeceu (cf. At 9,13).
Jesus o encorajou dizendo: “Vai, porque esse homem é um instrumento que escolhi para anunciar o meu nome aos pagãos, aos reis e ao povo de Israel. Eu vou mostrar-lhe quanto ele deve sofrer por minha causa” (cf. At 9,15-16).
Ananias obedeceu, entrou em minha casa, impôs suas mãos sobre mim e disse: “Saulo, meu irmão, o Senhor Jesus, que te apareceu quando vinhas no caminho, ele me mandou aqui para que tu recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo” (At 9,17). No mesmo instante, eu fiquei curado, caíram de meus olhos, algo semelhante a escamas. Em seguida, levantei-me e fui batizado em nome de Jesus (cf. At 9,18).
A partir desse dia, impactado com o choque da gloriosa ressurreição de Jesus, dirigi-me a todos que meu discurso e testemunho pudessem alcançar. Tornei-me o apóstolo dos gentios, pois intuí, por graça de Deus, que a salvação e a paz completa que havia encontrado, eram para todos os povos, raças, línguas e nações, e não apenas para o povo judeu.
Se meu testemunho te alcançou, faça com que ele chegue também a outros corações.
São Paulo, apóstolo dos gentios, rogai por nós!
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