Formação

Paulo, os carismas e a comunidade

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Enquanto o ano paulino segue seu curso, podemos continuaraprendendo com esse grande homem que foi Paulo de Tarso. Apaixonado e seduzidopor Jesus Cristo, que veio ao seu encontro luminosamente no caminho de Damasco,Paulo não deixava, no entanto, de ser extremamente realista.

 

Tinha especial amor pelas comunidades que fundava em nome doSenhor Jesus e sob o impulso de seu Espírito Santo, e a elas dedicava o melhorde suas energias e forças. Porém, essas comunidades nem sempre deixavam dedar-lhe muito trabalho e preocupação. É ele mesmo quem diz, dirigindo-se a umadelas, que ama seus membros como filhinhos e por eles sofre as dores do parto.

 

Talvez a comunidade à qual Paulo deu mais importância tenhasido a de Corinto. A ela escreveu duas de suas mais lindas cartas. A primeira,sobretudo, escrita em um momento delicado para a vida da comunidade e para oministério apostólico de Paulo também. A comunidade de Corinto era muitoagraciada com dons especiais e muitos de seus membros recebiam graçassensíveis, falavam em línguas, tinham êxtases, enfim, viviam alguns dos muitos fenômenos extraordinários que ao longo da história doCristianismo caracterizaram a experiência dos místicos.

Porém, aqueles que eram agraciados com tais carismas,sobretudo o de falar em línguas, não estavam administrando as graças recebidascomo deveriam, na opinião de Paulo. Achavam-se melhores que os outros, faziamtodas as reuniões e assembléias comunitárias girarem em torno de suas pessoas,necessitavam de um intérprete especial para “traduzir” para o resto dacomunidade aquilo que falavam quando inspirados pelo Espírito.

Paulo, no capítulo 11 da primeira carta aos Coríntios, tratadesse assunto com seus irmãos mais novos. E o faz sem medir palavras. Deixa-ossaber claramente que o que mais importa não são os dons individuais de cada um,mas o crescimento da comunidade como um todo. Portanto, o discernimento dosespíritos e dos carismas que são dados a membros da comunidade devem serrealizados com o critério inarredável do benefício que a mesma comunidaderecebe com eles.

Falar em línguas não parece ser para Paulo algo de primeiraimportância na vida da comunidade de Corinto. Pois se causa divisão e contendasentre os cristãos, significa que o Espírito de Deus não está agindo ali. Ou aomenos que o mau espírito está infiltrado na ação do Espírito Santo. E Paulo éclaro: é melhor falar cinco palavras simples, que todo mundo entenda e pelasquais a comunidade seja edificada do que falar cinco mil que ninguém entende esó causam confusão e divisão.

Ao dizer isso, Paulo deixa claro a seus amados irmãos quenão fala isso por ciúme de um dom que ele talvez não tenha recebido. Enumeratodas as abundantes graças místicas que recebeu do Senhor para mostrar que issonão é o que importa.

O que importará então? Se algo tão espiritual como aglossolalia – nome técnico do falar em línguas – não é o mais importante, o queserá realmente fundamental na vida cristã? Paulo responde nesse capítulo etambém nos outros dois que vão se seguir. O mais importante é o amor, acaridade, que faz a comunidade estar unida e buscar apenas a glória de Deus enão a sua própria. O amor, a caridade que faz cada um esquecer-se de si mesmoem benefício dos outros. A comunidade importa muito mais do que eu e minhasensibilidade espiritual. O que importa, portanto, é que ela esteja atendida epossa crescer.

No capítulo 12, Paulo continuará falando da importância deos cristãos formarem um só corpo. Assim, os dons dados a um são dados embenefício de todos. E no capítulo 13 termina sua exortação à comunidade deCorinto entoando o maravilhoso hino à caridade. De que serviriam todos os donsextraordinários se falta o amor?

Com Paulo aprendamos, pois, em nossas assembléias ecomunidades a valorizar antes a caridade, antes o amor que qualquer outracoisa. Só assim teremos a garantia de que Deus está entre nós. Ele é amor, esteé um ingrediente que não pode jamais faltar em nossa vida cristã.

Maria Clara Bingemer  autora de “A Argila e oespírito – ensaios sobre ética, mística e poética” (Ed. Garamond), entre outroslivros


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