Além do dom da transverberação e das chagas, o Padre Pio de Pietrelcina recebeu de Deus outros dons ou carismas numerosos: jejuns prolongados, êxtases, ciência infusa, introspecção das consciências, profecia, perfume, bilocação, curas, milagres.
Jejuns prolongados
No dia 18 de março de 1915, o Padre Pio, escrevendo de Pieltrecina ao padre Benedito, lhe confidenciou: “A satisfação, caro padre, das necessidades da vida, como comer, beber, dormir etc., causam-me tanto peso, que não saberia encontrar paralelo senão nas penas que nossos mártires tiveram de enfrentar no ato da prova suprema…”
Ele viveu, de fato, até a idade de 81 anos, com pouco mais ou pouco menos de trezentas calorias ao dia. Excluía quase totalmente o lanche e o jantar e, no almoço, limitava-se a provar as iguarias que lhe eram apresentadas. O que lhe dava vida e o mantinha vivo era a eucaristia, “centro” e “motor da minha vida, o meu tudo”, como o Padre Pio costumava dizer.
Êxtase
Muitas vezes durante a santa missa, que celebrava todos os dias com participa;’ao total no sacrifício de Cristo na cruz e com amor infinito, podia-se vê-lo “num estado de absorção em Deus e de suspensão dos sentidos”. Nesse estado podia-se observá-lo também durante o dia, especialmente quando rezava.
Ciência infusa – Introspecção das consciências – Profecia
Num opúsculo intitulado Padre Pio, o padre Nello Castello afirma que médicos, cientistas, políticos, sacerdotes e o homem da rua recorriam a ele para receber conselhos; levavam problemas graves, idéias para serem clareadas, disputas e perguntas difíceis, cada um no próprio nível, e o Padre Pio dava sempre a resposta exata. Não somente, mas em suas cartas, dezenas de vezes ele escreveu: “Jesus pede para dizer-lhe… Jesus diz para escrever-lhe assim…”.
O Padre Pio conhecia as consciências, o futuro, o passado de seus filhos espirituais; um dia, disse a um deles: “Conheço você, por dentro e por fora, melhor do que você pode ver-se no espelho”. Às vezes, ele escrevia e falava línguas que nunca havia estudado.
Profetizou o pontificado de Paulo VI; o fim de alguns homens políticos; que a moeda italiana se tornaria um “papel inútil”; previu a crise econômica, ainda antes de 1960, e o mesmo fenômeno da descristianização atual, ainda na década de 1950.
Perfume
Seria possível que um capuchinho estigmatizado e, como era voz corrente, com fama de santidade, fosse tão vaidoso que se regasse diariamente de perfume precioso, intenso, cheiroso e delicado? Algumas pessoas, que ignoravam esse particular do Padre Pio, se escandalizavam, supondo que esse perfume fosse presente de alguma filha espiritual devota. Quem, no entanto, teve ocasião de percebê-lo sabia que esse perfume especial chegava não somente aos seus fiéis, mas também a pessoas distantes milhares de quilômetros. Percebia-se a distância como “alguma coisa” levada pelo vento e significava a presença espiritual do Padre Pio. Mesmo depois de sua morte, algumas pessoas afirmam tê-lo percebido várias vezes.
O Dr. Jorge Festa, um dos médicos que examinaram as chagas do Padre Pio para atestar sua autenticidade, deixou-nos um testemunho surpreendente, “surpreendente” porque ele não tinha o sentido do olfato. Mais que da pessoa do Padre pio, para o Dr. Festa, era do seu sangue que emanava aquele fragrante perfume. Disse, de fato: Era um perfume agradável, como uma mistura de violetas e de rosas. Considere-se que, entre os tecidos do organismo humano, o sangue é o que mais rapidamente entra em decomposição. Em todo caso, nunca tem uma emanação agradável.
O perfume que emanava do corpo trespassado do Padre Pio era também “sinal” de sua castidade angelicamente vivida, imitando o exemplo de seu seráfico pai são Francisco de Assis e de seu não menos seráfico confrade são José de Copertino (17 de junho de 1603 – 18 de setembro de 1663), o santo dos êxtases e dos vôos que – com exceção das chagas – possuía os mesmos dos ou carismas do capuchinho de Pietrelcina, inclusive o perfume.
Curas
As curas realizadas por Deus pela mediação do Padre Pio foram freqüentemente anunciadas ou precedidas de “ondas” de perfume característico, do qual já falamos. As filhas e os filhos espirituais do Padre Pio teriam podido falar de suas experiências pessoais se a obediência não tivesse selado seus lábios. Mas, afortunadamente, houve peregrinos de passagem por San Giovanni Rotondo e todos os que foram beneficiados de modo quase inesperado, que não se cansam de falar dos prodígios aos quais puderam assistir ou pelos quais foram beneficiados.
Bilocações
O dom ou fenômeno da bilocação consiste em encontrar-se simultaneamente em lugares diferentes. Esse dom é concedido quando há uma urgência, um perigo grave, uma alma ou um corpo que devem ser salvos. É um dom, como todos os dons sobrenaturais ou místicos, que é concedido para o bem das almas dos outros e nunca para a glorificação de quem é beneficiário dele.
A propósito desse dom, o próprio Padre Pio deu uma breve explicação ao Padre Paulino, o qual – durante um recreio, falando da bilocação de santo Antônio que, enquanto pregava em Pádua, foi até Lisboa (Portugal) para livrar seu pai de uma condenação já decretada –, disse: “Queria realmente saber como acontece a bilocação: se o santo sabe o que quer, se sabe aonde vai, mas não sabe se é apenas com a mente ou com o corpo e a alma”. Padre Pio, que estava atento, lhe respondeu: “Ele sabe o que quer, sabe aonde vai, mas não sabe se vai apenas com a mente ou se com o corpo e a alma”. Esse fato é de 1944 ou 1945.
Padre Pio teve sua primeira bilocação já em 1905, e àquela seguiram-se muitas outras. Citamos um caso de bilocação acontecido enquanto era servente no Hospital Militar de Nápoles. Numa noite de novembro 1917, pelo Dom de bilocação, salvou da morte certa o general Luiz Cadorna. Este, depois da desastrosa derrota de Caporetto (24 de outubro de 1917), teve de ceder o posto de comandante supremo do exército italiano ao general Armando Diaz. Tendo-se recolhido no Palazzo Zara, sede do comando, em Treviso, pensava em cancelar a perturbadora humilhação com o suicídio. E, numa noite daquele infausto novembro de 1917, decidiu pôr fim à própria vida. Tinha já empunhado o revólver, quando viu entrar em seu quarto um frade capuchinho de barba negra que, com um tom de voz de desaprovação, lhe disse: “Vamos, General, não faça essa loucura!”. O general sentiu o revólver sair-lhe das mãos e cair no chão, mas não viu mais nem a sombra do frade. As sentinelas, logo interrogadas, juraram que não tinham visto nem deixado entrar nenhum frade no apartamento.
Muitos anos depois, quando a fama do Padre Pio tinha já ultrapassado os limites da Itália, o general Luiz Cadorna, incógnito e em trajes civis, foi até o convento capuchinho de San Giovanni Rotondo. Meio escondido, num canto do longo corredor, esperou com paciência a passagem dos frades e, entre eles, reconheceu seu visitante noturno. Padre Pio lhe sorriu e, apoiando-lhe amigavelmente as mãos nos ombros, sussurrou-lhe: “Meu caro general, naquela noite tivemos sorte! O que acha?!”.
As bilocações do padre Pio – afirma o padre Nello Castello – “marcavam a sua presença em vários lugares, sem nunca Ter saído do convento”. É um dos seus carismas mais documentados. Muito se escreveu sobre esses seus “transportes”. Como o Padre Pio dizia: “Eu vejo os meus filhos, sigo-os, assisto-os continuamente”. Eram, obviamente, seus filhos e filhas espirituais que, por toda parte, ele seguia e visitava com terno amor paterno.
Milagres
Os cristãos crentes sabem que, rezando com fé, humildade e perseverança, podem obter de Deus os milagre. É, portanto, razoável esperar aquilo que se pede, porque a onipotência de Deus pode tudo. E é razoável pedir com fé aquilo que se espera conseguir, porque foi o mesmo Jesus quem disse: “Pedi e vos será dado! Procurai e encontrareis! Batei e a porta vos será aberta! Pois todo aquele que pede recebe, quem procura encontra, e a quem bate, a porta será aberta…” (Mt 7,7-8).
A quem tinha a ousadia de perguntar ao Padre Pio: “Mas o senhor faz milagres?”, ele simplesmente respondia: “Eu sou somente um frade que reza”. E como era um frade que acreditava no poder de Deus rezava com profunda humildade e fé viva, obtinha o que pedia. Ele mesmo, “milagre vivo”, operava, por vontade de Deus, autênticos milagres. Deus se servia dele para concretizar seu plano salvífico e o fazia também através de milagres.
Para descrever adequadamente os numerosos milagres, físicos e espirituais, acontecidos por intercessão do Padre Pio, seria preciso escrever muitos livros. Limitar-nos-emos a “destacar” três curas miraculosas: duas escolhidas entre as mais conhecidas, enquanto a terceira é a cura de Consiglia De Martino, reconhecida oficialmente pela Igreja para a beatificação do Padre Pio de Pietrelcina.
A cega que vê
Gemma De Giorgio – nascida em 1939 – era cega de nascença. Quando criança, seus pais perceberam que alguma coisa não estava bem com seus olhos e a submeteram a numerosos exames com especialistas. Oftalmologistas ilustres sentenciaram, porém, que a menina não tinha nem as pupilas e que, portanto, nunca poderia ver. Aos 7 anos e meio, chegando o tempo de fazer a primeira comunhão, a avó pensou em levar a neta a San Giovanni Rotondo, onde – tinha ouvido – havia um frade que fazia milagres. Foi recomendado que a menina pedisse ao padre que intercedesse pela sua cura, mas a pequena discordou. Padre Pio, porém, durante a confissão, pousou-lhe as mãos sobre os olhos traçando sobre eles o sinal-da-cruz. Também na comunhão o padre fez o sinal-da-cruz sobre os olhos de Gemma. Durante a viagem de volta, a menina disse à avó que estava vendo claramente. Os médicos tiveram de confirmar, mesmo que, a seu ver, isso fosse impossível, porque sem pupilas não se pode ver.
Uma mãe curada de câncer
Era novembro de 1962. A professora Wanda Poltawska, que trabalhava ativamente na diocese polonesa de Cracóvia, estava no fim da vida por causa de um câncer na garganta, e os médicos não lhe davam mais nenhuma esperança. A notícia chegou rapidamente até Roma, onde, por causa da celebração do Concílio Vaticano II, se encontrava o vigário capitular de Cracóvia. Tratava-se do bispo Karol Woityla, o futuro João Paulo II. O bispo Wojtyla conheci há tempo a família da professora Poltawska e ficou, portanto, profundamente chocado com a notícia que chegara de sua terra. No dia 17 de novembro, de Roma, ele mandou uma carta ao famoso frade das chags, que tivera a oportunidade de encontrar antes quando, jovem sacerdote, tinha estado em San Giovanni Rotondo.
O futuro pontífice escreveu assim: Venerável padre, peço-lhe que reze por uma mãe de quatro meninas, que tem 40 anos e vive em Cracóvia, na Polônia. Durante a última guerra esteve, durante cinco anos, nos campos de concentração da Alemanha, e agora se encontra num estado muito grave de saúde, até de vida, por causa de um câncer. Reze para que Deus, pela intercessão da Beatíssima Virgem, tenha misericórdia dela e de sua família.
No dia 28 de novembro, onze dias depois, foi entregue ao Padre Pio outra carta do bispo polonês: Venerável padre, a senhora que mora em Cracóvia, na Polônia, mãe de quatro meninas, no dia 21 de novembro, antes da operação cirúrgica, sarou de repente. Damos graças a Deus e também a vós, venerável padre. Transmito-vos os mais vivos agradecimentos em nome da mesma senhora, de seu marido e de toda sua família.
Ficou curada depois de um sonho
O milagre que a Igreja – depois de longas e complexas averiguações científicas – reconheceu para a beatificação do Padre Pio aconteceu há apenas poucos anos.
Era o dia 1° de novembro de 1995, quando Consiglia De Martino se viu, de repente, às portas da morte. Consiglia, que todos chamam de Lina, morava em Ogliara, uma cidadezinha próxima de Salerno.
Naquela manhã, sentiu-se mal e descobriu um tumor do tamanho de uma laranja na garganta. Internação no hospital, tomografia e diagnóstico funesto: ruptura do “ducto torácico”; seu corpo já havia sido invadido até o pescoço com o líquido linfático. “Linfoma não-Hodgkin” foi o diagnóstico: uma doença da qual é difícil se salvar. Decidiram operá-la na manhã seguinte, mas, de noite, aconteceu o milagre. Ela, que era fiel do Padre Pio, depois de uma visita a San Giovanni Rotondo, oito anos antes, dirigiu-se em oração ao frade: “Padre Pio, pensa nisso. Confio-me a ti, ajuda-me”.
Dormiu e sonhou que o Padre Pio lhe tocava levemente o pescoço e o tórax, dizendo-lhe: “A intervenção cirúrgica não lhe adianta mais, opero-a eu mesmo”.
Sonho? Aparição? O fato é que de manhã, quando os médicos preparavam a cirurgia, ela percebeu um intenso perfume de flores. Pediu aos médicos que fosse refeita a tomografia, antes de entrar para a sala de cirurgia. Atenderam-na e ficaram estupefatos; o líquido linfático havia-se retirado de todo o corpo; o tumor no pescoço havia-se reduzido ao tamanho de uma noz e, em pouco tempo desapareceu por completo.
Incrédulos, os médicos conservaram-na no hospital ainda durante quatro dias, submetendo-a a toda espécie de exames. No final, se renderam: reconheceram que a cura não era cientificamente explicável e a mandaram para casa. Hoje, Consiglia De Martino está muito bem e ajuda o marido e um dos filhos na direção de um pequeno supermercado.
“Milagre”, disse logo o povo, como para outras curas prodigiosas, inexplicáveis, atribuídas ao Padre Pio. E como milagre reconheceu-o oficialmente a Igreja no dia 21 de dezembro de 1998.
Elena Bergadano
Formação: Janeiro/2008