Formação

Pedro, a rocha

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Escrito por Karl Keating

Um dos pontosque eu tento enfatizar quando dou uma palestra é que você pode setransformar num grande apologista muito rapidamente. Não é necessárioesperar até se transformar num doutor em teologia. Trabalhe com aquiloque você sabe; mesmo se souber apenas uma coisa.

Eu tenho um fato bastante ilustrativo disto, e vocêpoderá usar esta técnica da próxima vez que um anti-católico lhe atirarversículos bíblicos.

Há alguns anos, antes que eu passasse a meinteressar em ler a Bíblia, eu evitava missionários protestantes quebatiam à minha porta. Eu já fora ofendido muitas vezes. Para que abrira porta, ou prolongar uma conversa (quando abordado em plena rua) se eunada tinha a dizer?

Com certeza, eu tinha uma Bíblia. Talvez eu a usassecomo você ainda usa a sua: pegando poeira que, sem a mesma, seacumularia no topo da estante. Era uma daquelas "Bíblias de família",cheia de fotos bonitas e coloridas e mais pesada do que o meu filho aoscinco anos de idade.

Como eu disse, eu tinha uma Bíblia. Mas não medirigia à mesma com freqüência. Então, eu tinha pouco a dizer quando umdestes missionários me abordava. Eu não sabia quais os versículos queeu poderia citar para defender a fé católica.

Para um leigo, eu supunha estar razoavelmente beminformado acerca da minha fé – pelo menos, eu nunca duvidei da mesma oudeixei de praticá-la – mas não tinha leitura suficiente que mepreparasse para debates.

Então, um dia, eu tive uma informação preciosíssimaque iria enviar uma onda de choque através do próximo missionárioprotestante que tocasse a campainha. E isto me mostrou que não édifícil se transformar num apologista habilidoso.

Eis o que aconteceu.

Quando eu abri a porta, o missionário se apresentoucomo um adventista do sétimo dia. Ela me perguntou se poderia"compartilhar" comigo alguns pontos da Bíblia. Eu disse que ele poderiair em frente.

Ele viajava de uma página para outra, comparandoeste e aquele versículo, tentando demonstrar os erros da Igreja Romanae a manifesta verdade da sua própria denominação.

Sem muito a dizer.

Alguns versículos, eu já conhecia. Eu não eratotalmente iletrado sobre a Bíblia, mas muitos outros versículos meeram desconhecidos. Conhecidos ou não, como não sabia muito a respeitoda Bíblia, eu não possuia respostas para os mesmos.

Finalmente, o missionário chegou em Mt 16, 18: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei minha Igreja.".

"Espere um momento", eu disse. "Este versículo eu conheço. Nele, Jesus aponta Simão como o chefe universal da Igreja. Ele o aponta como o primeiro Papa." Terminei e abri um sorriso, sabendo o que o missionário diria em resposta.

Eu sabia que, em regra, ele não enfrentava defesasda fé católica enquanto peregrinava de casa em casa. Mas, às vezes, umcatólico iria retrucar, como eu fiz. Ele tinha uma resposta; eu aconhecia e estava preparado para a mesma.

"Eu entendo o teu pensamento", ele disse, " masvocês, católicos, desvirtuam este versículo porque não conhecem grego.Este é o problema com a sua Igreja e com sua hierarquia. Vocês nãoconhecem a língua em que o Novo Testamento foi escrito. Para entenderMt 16,18, temos que ir do inglês para o grego."

"É mesmo?", perguntei, convidando-o a prosseguir. Fingi ignorar a armadilha posta para mim.

"Sim", continuou. "Em grego, a palavra para pedra é petra, que significa uma rocha grande e maciça. A palavra usada como nome para Simão, por sua vez, é petros, que significa uma pedra pequena, uma pedrinha."

Na verdade, todo este discurso do missionário éfalso. Como sabem os conhecedores de Grego ( mesmo os não católicos),as palavras petros e petra eram sinônimos no grego doprimeiro século. Elas significaram "pequena pedra" e "grande rocha" emuma velha poesia grega, séculos antes da vinda de Cristo, mas estadistinção já havia desaparecido no tempo em que o Evangelho de SãoMateus foi traduzido para o grego. A diferença de significados existe,apenas, no grego ático, mas o Novo Testamento foi escrito em gregoKoiné – um dialeto totalmente diferente. E, no grego koiné, tanto petros quanto petra significam "rocha". Se Jesus quisesse chamar Simão de "pedrinha", usaria o termo lithos.O argumento do missionário não funcionou e demonstrou uma falha noconhecimento do grego. (para a admissão deste fato por um estudiosoprotestante, veja D. ª Carson, The expositors Bible Commentary [Grand Rapids: Zondervan, 1984], Frank E. Gaebelein, ed., 8: 368).

"Vocês, católicos," prosseguiu, "por desconhecerem ogrego, pensam que Jesus comparava Pedro à rocha. Na verdade, éjustamente o contrário. Ele os contrastava. De um lado, a rocha sobre aqual a Igreja seria construída: o próprio Jesus. De outro, esta merapedrinha. Jesus queria dizer que ele mesmo seria o fundamento daIgreja, e que Simão não estava sequer remotamente qualificado paraisto."

"Caso encerrado", ele pensou.

Foi a vez do missionário parar e sorrir. Ele seguiuo treinamento que havia recebido. Disseram-lhe que, de vez em quando,um católico argumentaria que Mt 16, 18 provaria o estabelecimento dopapado. Ele sabia o que deveria replicar para provar o contrário, e ofizera.

"Bem", contra-argumentei, usando daquela informaçãopreciosa de que falei acima, "concordo que devemos ir do inglês para ogrego." Ele sorriu e concordou com a cabeça. "Mas, com certeza, vocêconcordará que, igualmente, devemos ir do grego para o aramaico."

"Para o quê?", perguntou.

"Para o aramaico. Como você sabe, esta foi a línguafalada por Jesus, pelos apóstolos e por todos os judeus da Palestina.Era a língua corrente da região."

"Pensei que fosse o grego."

"Não", respondi. "Muitos, talvez a maioria, soubessem grego, pois esta era a lingua francado Mediterrâneo. A língua da cultura e do comércio. A maioria doslivros do Novo Testamento foi escrita em grego, pois não visavam apenasos cristãos da Palestina, mas de outros lugares como Roma, Alexandria eAntioquia, onde o aramaico não era falado.

"Eu disse que a maioria dos livrosneo-testamentários foi escrito em grego, mas não todos. O Evangelho deSão Mateus foi escrito pelo próprio em aramaico ou hebreu (sabemosdisto por escritos de Euzébio de Cesaréia) e traduzido para o grego,talvez pelo próprio evangelista, muito cedo. De qualquer forma, ooriginal se perdeu (como todos os livros originais do Novo Testamento),e, hoje em dia, somente resta a versão grega."

Parei por um instante e observei o missionário. Eleparecia desconfortáve, talvez duvidando que eu fosse um católico, poiseu parecia conhecer o assunto de que estava falando. Continuei.

O Aramaico do NT.

"Sabemos que Jesus falava aramaico devido a algumasde suas palavras que nos foram preservadas pelos Evangelhos. Veja Mt.27, 46, onde ele diz na cruz, ?Eli, Eli, Lama Sabachtani?. Isto não é grego, mas aramaico, e significa, ? meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste??

"E tem mais," prossegui, "nas epístolas de S. Paulo(por quatro vezes em Gálatas e outras quatro vezes em 1 Coríntios),preservou-se a forma aramaica do novo nome de Simão. Em nossas bíblias,aparece como Cefas. Isto não é grego, mas uma treansliteração do aramaico Kepha (traduzido por Kephas na forma helenística).

"E o que significa Kepha? Uma pedra grande e maciça, o mesmíssimo que petra. A palavra aramaica para uma pequena pedra ou pedrinha é evna. O que Jesus disse a Simão em Mt 16, 18 foi ?tu és Kepha e sobre esta kepha construirei minha igreja.?

"Quando se conhece o que Jesus disse em aramaico,percebe-se que ele comparava Simão à rocha; não os estava contrastando.Podemos ver isto, vividamente, em algumas versões modernas da bíblia eminglês, nas quais este versículo é traduzido da seguinte forma: ?Youare Rock, and upon this rock I will build my church?. Em francês,sempre se usou apenas pierre tanto para o novo nome de Simão, quanto para a rocha."

Por alguns momentos, o missionário parecia perplexo.Obviamente, ele nunca tivera esta informação. Sua testa se franziu empensamentos, enquanto ele tentava encontrar uma contra-argumentação.Então, algo lhe ocorreu.

"Um momento", disse. "Se kepha significa petra, porque a versão grega não traz ?tu és Petra e sobre esta petra edificarei a minha Igreja?? Por que, para o novo nome de Simão, Mateus usa o grego Petros que possui um significado diferente do petra?"

"Porque não havia escolha," eu disse. "Grego e aramaico têm diferentes estrururas gramaticais. Em aramaico, pode-se usar kepha nasduas partes de Mt 16,18. Em grego, encontramos um problema derivado dofato de que, nesta língua, os substantivos possuem terminaçõesdiferentes para cada gênero.

"Existem substantivos femininos, masculinos e neutros. A palavra grega petraé feminino. Pode-se usá-la na segunda parte do texto sem problemas. Masnão se pode usá-la como o novo nome de Simão, porque não se pode dar, aum homem, um nome feminino. Pelo menos, naquela época não se podia. Háque se masculinizar a terminação do nome. Fazendo-o, temos Petros, palavra já existente e que também significava rocha.

"Por certo, é uma tradução imperfeita do aramaico;perdeu-se parte do jogo de palavras. Em inglês, perdeu-se tudo. Mas, emgrego, era o melhor que poderia ser feito."

Além da evidência gramatical, a estrutura danarração não permite uma diminuição do papel de Pedro na Igreja. Veja aforma na qual se estruturou o texto de Mt. 16, 15-19. Depois daconfissão de Pedro acerca da identidade de Jesus, o Senhor faz o mesmopara Pedro. Jesus não diz: Bendito és tu, Simão Bar-Jona. Pois não foia nem carne nem o sangue que te revelou este mistério, mas meu Pai, queestá nos céus. Por isto, eu te digo: és uma pedrinha insignificante, esobre a rocha edificarei a minha Igreja. … Eu te darei as chaves doreino dos céus." Jesus abençoa Pedro triplamente, inclusive com o domdas chaves do reino, mas não mina a sua autoridade. Sustentá-lo écontrariar o contexto. Jesus coloca Pedro como uma forma de comandanteou primeiro ministro abaixo do Rei dos Reis, dando-lhe as chaves doReino. Como em Is 22, 22, os reis, no Velho Testamento apontavam umcomandante para os servir em posição de grande autoridade, paragovernar sobe os habitantes do reino. Jesus cita quase que verbalmenteesta passagem de Isaias, o que torna claríssimo aquilo que Ele tinha emmente. Ele elevou Pedro como a figura de um pai na família dos cristãos(Is 22, 21), para a guiar e guiar o rebanho (Jo 21, 15-17). Estaautoridade era passada de um homem para outro através das tempos pelaentrega das chaves, que se usavam sobre os ombros em sinal deautoridade. Da mesma forma, a autoridade de Pedro foi transmitida,nestes dois mil anos, através do papado.

Minha vez de silenciar.

Parei e sorri. O missionário devolveu-me umdesconfortável sorriso, não dizendo nada. Trocamos sorrisos por cercade trinta segundos. Então, ele olhou no relógio, comentou sobre como otempo voara e desculpou-se. Nunca mais o vi.

Então, o que veio deste encontro? Duas coisas: uma para mim, outra para ele.

Eu desenvolvi um sentido de confiança. Percebi quepodia defender a minha fé se me esforçasse em fazer minha "lição decasa." Quanto mais lição de casa, melhor a defesa.

Percebi que qualquer católico letrado (inclusivevocê) pode fazer o mesmo. Não é necessário que você desconfie davalidade da sua fé quando não puder responder a um ataque.

Se você desenvolver um sentido de confiança, poderádizer para si mesmo: "talvez eu não tenha a resposta para isto, mas seique acharei esta resposta se mergulhar nos livros. A resposta está lá,basta que eu dedique um tempo para procurá-la."

E o missionário? Ele levou algo do encontro? Achoque sim. Acho que ele partiu com uma dúvida acerca de seu entendimento(ou falta de) sobre os católicos e sobre a fé católica. Espero que taldúvida tenha amadurecido no sentido de que talvez (talvez), oscatólicos tenham algo a dizer em nome de sua religião e que ele deveriaolhar, com mais carinho, esta Fé que, tão confiantemente, estavacombatendo.


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