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Pena de Morte?

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TAMARA, mulher cristã do Usbequistão, me contou entre lágrimas a tragédia de seu filho, condenado à morte e cruelmente executado. O Usbequistão é um país islâmico. O Estado tinha interesse em mostrar seu poder de controle sobre a população. Houve um crime e acusaram um jovem cristão: o filho de Tamara. Como o advogado não conseguiu provar logo a inocência do jovem, o Estado teve pressa e executou o menino.

A mãe desabafou: “Matando meu filho, mataram a minha alma. Sanguinários, assassinos, quiseram ver sangue. Seu coração estava cheio de ódio, de vingança, de violência, de baixeza, de inveja; hipócritas, não queriam a prova da inocência ou o arrependimento do acusado, mas sua morte”. Tamara decidiu lutar em favor da comutação da pena de morte para outros jovens. Salvou mais de vinte jovens islâmicos. Em 2008 será abolida a pena de morte no Usbequistão!

No Brasil, se estou bem informado, o último cidadão condenado legalmente à morte foi um escravo negro. Depois se descobriu que o autor do crime fora o filho do patrão!

Se introduzirmos de novo a pena de morte no Brasil, sem ser profeta, já sei quem vai morrer: os jovens e os pobres!

É uma lástima, mas o povo pensa que será o filho do outro a morrer. E pensa também que enchendo o coração e a sociedade de ódio e de violência, o país há de melhorar.

Então, a solução é mudar a idade penal!? Quem mesmo é responsável pela destruição da família!? Pode haver personalidade harmoniosa se a criança e o adolescente não têm um ambiente de amor estável? Quem é responsável pela miséria abaixo do nível mínimo tolerável? Quem destrói a cultura, os valores, os referenciais estáveis do povo? Os responsáveis por esta verdadeira devastação não serão os mesmos que semeiam o ódio, o desejo de vingança e clamam pelo sangue de nossos meninos, criados sem amor, sem profissão, sem educação?!

É claro, importa combater a criminalidade! Há 25 anos atrás o lucro anual da venda de drogas rendia 181 bilhões de dólares só na América Latina. Hoje será muito mais. Nos bolsos de quem vai parar esta fortuna? Certamente não no dos jovens e pobres que apodrecem em nossas prisões!

Qual é a posição oficial da Igreja Católica? O Catecismo (nº 2266), ensina: “O ensinamento tradicional da Igreja reconheceu como fundamentado o direito e o dever da legítima autoridade pública de infligir penas proporcionais à gravidade dos delitos, sem excluir, em casos de extrema gravidade, a pena de morte”.

Mas observa que “os meios não sangrentos… estão mais conformes à dignidade da pessoa humana”.

Não esqueçamos a advertência de Deus a Caim (Gn 4, 10-12): “Ouço o sangue de teu irmão clamar por mim. Agora és maldito”!

Dom Sinésio Bohn
Bispo de Santa Cruz do Sul

Fonte: CNBB


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