Enquanto a Conferência de Aparecida vai enveredando para o seu final, chegamos ao domingo de Pentecostes, quando a Igreja celebra a memória do momento extraordinário, vivido pela Igreja de Jerusalém, quando o Espírito do Senhor se manifestou em abundância sobre todas as pessoas que estavam reunidas no cenáculo.
Bonito cenário, que logo nos faz pensar no outro “cenáculo”, que nestes dias está acontecendo aqui perto de nós, em Aparecida.
É evidente a comparação entre a Conferência de Aparecida e o Pentecostes no cenáculo de Jerusalém. Fica até constrangedor para os bispos reunidos em Aparecida sentirem-se olhados por toda a Igreja, que também neste domingo se sente identificada com os discípulos reunidos em oração, junto com os apóstolos e com a presença especial de Maria.
As semelhanças exteriores podem ser pequenas. Lá a Igreja estava só no começo de sua caminhada histórica, e tudo era expectativa pela frente. Agora, o cenáculo de Aparecida acolhe pessoas já curtidas de longa caminhada pessoal, como responsáveis pela Igreja de Jesus nas dioceses de nosso continente. E a própria Igreja já está calejada de embates históricos, mesmo que aqui neste continente ela seja relativamente recente, contabilizando pouco mais de 500 anos.
Mas a semelhança maior é, certamente, feita da mesma necessidade que hoje a Igreja sente, de receber as luzes do Espírito Santo, para cumprir no mundo de hoje a mesma missão confiada aos primeiros apóstolos de Cristo.
Esta coincidência entre Pentecostes e Conferência de Aparecida coloca com muita clareza o desafio de termos a mesma atitude dos primeiros cristãos. Eles tinham sido preparados, durante quarenta dias de aparições do ressuscitado, e mais os nove dias de oração em comum no cenáculo. Tinham sido provados, e seus corações estavam disponíveis.
Se pensamos na preparação para a Conferência de Aparecida, os caminhos hoje são mais complicados, as situações mais complexas, e talvez nossos corações menos preparados.
Mas podemos, com os apóstolos, ter a mesma certeza da promessa de Cristo, que não falha nunca: “estarei com vocês até o fim dos tempos… Recebereis o Espírito Santo, eles vos conduzirá à plena verdade”.
É com o conforto desta certeza que a Igreja pode se sentir hoje, de novo, enviada por Cristo a cumprir sua missão. Mesmo que as circunstâncias sejam bem diferentes, podemos ter uma certeza: é ainda o mesmo Espírito que continua guiando hoje a Igreja de Cristo.
Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP)
Fonte: CNBB