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Beato Pier Giorgio Frassati: o jovem das oito bem-aventuranças

Neste 4 de julho, a Igreja recorda a vida deste jovem rapaz, esportista, generoso, cheio de amor pelos pobres.

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“Eis o homem interior! É assim que nos parece Pier Giorgio Frassati… Ele é o homem interior, amado do Pai porque muito amou”. Foi nestes termos que o Papa João Paulo II evocou a figura deste jovem italiano beatificado em 20 de maio de 1990.

Pier Giorgio Frassati, filho de Alfredo, fundador e diretor do La Stampa, periódico liberal que fez muito sucesso na Itália, nasceu em 06 de abril de 1901.

Apesar do pai ser agnóstico e mãe avessa a qualquer forma de devoção excessiva, Giorgio, bem cedo, foi atraído por Deus. Sua avó, Amétis, é a única pessoa de sua casa que ora. Giorgio herdará dela o imenso respeito pelos mortos.

Esta atração precoce e a relação de amor que ele vai nutrir com Deus, ao longo de toda a sua vida, pela oração, pelo serviço aos pobres, seus engajamentos sociais e políticos vão desligá-lo de um universo familiar opressor que não quer outra coisa a não ser a conquista de uma posição social programada. Ele tem, durante toda a vida, uma admiração pelo pai e uma profunda afeição pela mãe.

Uma vida virtuosa

O que impressiona em Pier Giorgio, de acordo com Karl Rahner, que o conheceu em Berlim, onde seu pai era embaixador, é pureza, esfuziante alegria, piedade, liberdade, amor pela vida e pela beleza, consciência social… A partir de sua infância, ele não pode suportar a miséria que está em torno a si.

Ainda criança, aplica-se a pequenos trabalhos para ganhar dinheiro e distribui-lo generosamente aos pobres. Ele recupera papel prateado, selos para os missionários, economiza bilhetes de trem etc. Renuncia aos pequenos prazeres próprios de sua idade para beneficiar os pobres. Um dia, dá seus presentes à governanta, que encontrava-se necessitada. Tudo fazia na mais perfeita alegria.

Esportista, adorava expedições às montanhas. A montanha era para ele uma diversão, embora exigisse esforço contínuo e ascese, o ajudava a fortalecer sua personalidade. “Aprendei a ser mais fortes em vossa alma que em vossos músculos. Se vós o conseguirdes, então sereis verdadeiros apóstolos da fé de Deus”.

Era o único da família que podia montar um cavalo feroz que pertencia ao pai em passeios de muitos quilômetros. Amava a vida e a agarrou com todos os dentes. Fumante convicto, explicava orgulhosamente a origem desse vício inocente: “Mamãe fumava sobre minha cabeça quando eu mamava!”. Ele amava cantar, mas cantava muito mal. Na igreja, colocava-se em um recanto e não hesitava cantar a plenos pulmões. Quando lhe diziam que cantava mal, respondia sem hesitar: “O importante é cantar”.

A experiência de Deus

Depois de ter sido reprovado no exame de latim, seus pais o colocam no “Instituto Social” dos jesuítas. Ele começa a ir à Missa todos os dias. A oração torna-se uma constante em seu dia. Ama ler a Bíblia, mas particularmente as epístolas de São Paulo e o Evangelho segundo São Mateus. Passa a ler a Bíblia em todo canto, no metrô, na rua, em seu quarto. E quando lhe perguntam o que contém aquele livro, ele responde: “Palavras de vida eterna”.

Seus pais, principalmente sua mãe, percebem progressivamente a atração irresistível de seu filho pela fé católica. Sua mãe tentará tudo para fazê-lo mudar de ideia. Seu medo: que Pier Giorgio se torne padre. Seu pai, mais e mais contrariado com a mudança que acontece na vida de seu filho, vai visitar o pároco: “Que vocês fizeram com meu filho?”. Ele sempre sonha em fazê-lo diretor de La Stampa, seu jornal, futuro certamente mais convencional, mas mais glorioso.

O amor pelos pobres e pelos aflitos

Todo mundo em torno dele, com exceção de sua família, começa a ficar maravilhado com as qualidades excepcionais deste jovem, sempre pronto a servir, generoso, próximo dos mais pobres, alegre, simples… Um dia em que seus colegas brincam ruidosamente na porta de sua escola, ele é o único a perceber a tristeza do supervisor geral. “Que se passa?”, pergunta-lhe. Seu filho único, de 14 anos de idade, acaba de morrer. Giorgio baixa seus olhos e fica perto dele para confortá-lo. No ano seguinte, na mesma data, Pier Giorgio dirige-se a ele. Hoje é o aniversário da morte de seu filho. Vou rezar por ele na Missa”.

Pier Giorgio é um católico militante nas associações, um movimento político, não pelo prazer de militar, mas para servir aos mais pobres e defender seus interesses. “O fundamento da fé, diz ele, é o amor, sem o qual a religião desmorona, porque nós não somos verdadeiros católicos quando não conformamos nossa vida aos dois mandamentos de Cristo que constituem o essencial da fé católica: amar a Deus com todas as forças e ao próximo, quer dizer, todo homem, como a si mesmo”.

Ele se engaja nas Conferências Vicentinas para continuar a servir aos mais pobres. Encontra, assim, situações muito delicadas: famílias divididas, filhos ilegítimos, homens que tinham problemas com a justiça. Ele faz sua aquela exortação de Cristo: “Quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra”. Visita os doentes… e é em contato com um deles que ele contrai, sem dúvida, sua poliomielite.

“Viver cristãmente é um renunciar contínuo, um sacrifício contínuo que, portanto, não pesa mais, quando se pensa que estes poucos anos passados na dor não se podem comparar com a visão da eternidade, onde a alegria não terá limite, onde gozaremos de uma paz impossível de se imaginar. É preciso aderir fortemente à fé: sem ela, que valeria nossa vida? Nada! Teríamos vivido em vão”.

A última renúncia

Pier Giorgio se apaixona por uma jovem que conhece na Juventude Católica. Órfã, Laura é uma moça corajosa e que estuda Matemática com muito sucesso. É secretária da pequena associação de jovens que Giorgio fundou. Ele a convida para tomar chá com sua mãe e sua irmã para sentir a reação de sua mãe a vista de Laura, sem lhe falar de seus sentimentos. Ele conta seu segredo a sua irmã, que lhe faz compreender que não pode ir mais longe com essa moça: seria um escândalo para a família. Com medo de decepcionar seus pais e percebendo, no fundo de seu coração, que sua morte está próxima, Pier sufoca seus sentimentos com relação a Laura. Este seria, para ele, um sofrimento, um grande sacrifício.

Um enterro fora do comum

Seu tempo, de fato, estava contado. Pier Giorgio pressente que seu tempo sobre a terra chega a seu termo. Depois que sua avó morre, ninguém percebe que ele está prestes a deixar esta terra. Reclamam mesmo que ele ficou doente num momento errado! Ele vai-se consumir docemente, sozinho, preocupado em não dar trabalho, sem que ninguém se aperceba do que ele passa, todos preocupados com a morte de sua avó. Mesmo sendo contagiosa sua poliomielite, ninguém fica contagiado.

Seus últimos dias são uma verdadeira tortura, física e moral, mas ele não se queixa. Pier Giorgio morre três dias depois de sua avó. A notícia corre rapidamente em Turim. Uma multidão numerosa corre a sua casa para vê-lo uma última vez: pessoas do povo, pessoas pequenas, artesãos, mães com seus filhos. O enterro foi fora do comum: a Igreja tornou-se pequena, a praça superlotada de gente, todos meio confusos, que vieram prestar homenagem a este jovem de 24 anos. Tal afluência seria incompreensível para uma pessoa pouco conhecida. Foi assim que seus pais tomaram conhecimento do renome de seu filho, o dia de sua partida.

Pier Giorgio foi simplesmente um jovem rapaz, estudante, generoso, alegre, amoroso… Com um ardor apaixonado, ele se engajou ao serviço dos mais pobres e expandiu aquela alegria que vem do alto: a alegria das bem-aventuranças. João Paulo II, em um discurso em 27 de março de 1977, aos universitários, disse:

“Em Pier Giorgio vemos o homem das oito bem-aventuranças, que traz consigo a graça do Evangelho, da alegria da salvação oferecida pelo Cristo… Ide e olhai como era o homem das oito bem-aventuranças! Em verdade, nós desejamos todos tornar-nos homens das oito bem-aventuranças. Lá está a verdadeira riqueza. Lá está a maturidade. Nelas reside toda a plenitude que Cristo nos traz, em nós e conosco; a isto se chama salvação do mundo, do mundo inteiro”.

Lo ïc Joncheray


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