A abertura humana à verdade e à beleza, com a inclinação para o senso moral e o amor à liberdade, fazem aflorar em nós a grande aspiração à felicidade. Esta é um sentimento de plena satisfação e de ausência de todo o mal. Tal pólo nos magnetiza e faz convergir para ele todo o nosso dinamismo. Sem isso a vida perderia o seu sentido. Somos os únicos seres do cosmos em cuja mente fulgura a idéia de plenitude, estímulo de todo o progresso humano.
Vejamos os caminhos diversos por onde se procura alcançar essa felicidade.
1 – Busca dos bens materiais, mas como dons relativos. “Vejam – diz o filho de Davi – a felicidade do homem está em comer e beber” (Ecl 2, 24). Esses prazeres são bons, mas não preenchem a plenitude da nossa felicidade. Assim: esforço pela aquisição de dinheiro como uma necessidade da vida; vigilância permanente pela saúde do corpo, como dom inestimável; alegria por comidas e bebidas gostosas; vivência da sexualidade no matrimônio. Tudo isso para o cristão é lícito procurar, mas com espírito crítico.
2 – Há um segundo nível, que são as alegrias do espírito, que vão muito mais longe na escala da felicidade. Assim, abrir-nos à fruição da honra e do prestígio pessoal; ter grande auto-estima; sentir o prazer de uma descoberta intelectual; explorar a beleza da música, da pintura e das artes; alegrar-se com o progresso humano, são áreas potenciais de alegrias mais duradouras. A entrega a esses prazeres é estimulante para a realização pessoal, e o cristão pode buscar essas alegrias.
3 – Mas não nos esqueçamos de que a origem do desejo de felicidade vem de Deus. Ele quer atrair-nos a si, pois só Ele pode satisfazer plenamente o coração humano. Caso contrário incidiremos num equívoco fundamental, em sempre buscarmos a felicidade, e jamais encontrá-la. “Alegre-se o coração dos que buscam a Deus” (Sl 105,3). Contemplar a Deus na oração e no estudo, ver suas maravilhas na criação, descobrir a importância da caridade fraterna, aceitar a salvação em Cristo, purificar o coração de más tendências, tudo isso nos alça para paisagens imperturbáveis de felicidade. Aninhada em nosso coração a virtude da esperança do encontro com Deus, esta virtude purifica nossas buscas, encoraja os desalentos, dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna, e encarna em nós as promessas feitas ao povo eleito. “Todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus”(Rom 8,28).
Dom Aloísio Roque Oppermann scj – Arcebispo de Uberaba, MG
Fonte: CNBB