Apresentamos a pregação completa da cofundadora da Comunidade Católica Shalom, Emmir Nogueira, realizda nesta Sexta-fera Santa durante Retiro de Semana Santa realizado em Fortaleza.
Ele não é indiferente a nós
Bom dia! Hoje vamos juntos refletir um pouco, partilhar um pouco acerca da Paixão de Jesus. É uma tarefa impossível, em minha opinião, para qualquer ser humano. É completamente impossível penetrarmos totalmente no mistério da Paixão e da Cruz de Jesus. É completamente impossível para entendermos com a nossa mente, mas o Espirito Santo nos quer dar a graça de participar com o nosso coração.
Não vamos falar de uma coisa que se entende com a cabeça. O Papa Francisco tem dito que entendemos os mistérios de Deus com o coração, com a alma. Entendemos com aquele espaço mais profundo de nós mesmos, aonde habita a Santíssima Trindade. O que vamos pedir ao Senhor agora é a graça de que possamos nos unir a essa Trindade que habita em nós e que, como Moysés acaba de dizer, participou da Paixão, da Morte e da Ressurreição de Jesus Cristo. Então só nesse lugar aonde a Trindade habita, só pela ação do Espírito Santo nós podemos contemplar a Paixão. Por isso vamos parar para rezar diversas vezes durante esse momento.
O Padre Sílvio pediu que nós víssemos a Cruz de Cristo como uma prova do amor Dele a nós, o Senhor não é indiferente a nós, e nossa resposta de amor que é jamais ser indiferentes a Ele. Vou usar muito a bíblia. Vamos tentar rezar durante toda a palestra.
Vamos começar com a passagem que é o tema do nosso encontro, Efésios 2, quando São Paulo vai nos falar, aquilo que o padre Silvio disse ontem, da salvação gratuita em Cristo Jesus. Nós não merecemos ser salvos, não há nada que possamos fazer para merecer a salvação. A salvação é um dom completamente gratuito, imerecido, ao qual, por gratidão, nós unimos ao nosso coração com obras de fé, de esperança, de caridade, especialmente de caridade. As nossas obras de caridade atestam a nossa gratidão por essa salvação que nos foi dada sem nós merecermos e por essa salvação que nos une a Jesus Cristo e nos eleva a Ele.
Em Efésios 2,4 temos o tema do nosso encontro: “Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou quando estávamos mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo, por amor”. A história que estamos para ver é uma história de amor, a história do maior amor que existe no mundo. A história de Deus que não nos deixou abandonados a nossa própria sorte, de Deus que nos criou e se comprometeu conosco em amor, em caridade, em socorro, em doação, em salvação. Deus, que é rico de misericórdia, Deus que é toda a misericórdia, que é a fonte da misericórdia, pelo grande amor que tem por nós, quando éramos pecadores Ele nos amou.
Deus não nos ama quando nós estamos bonzinhos, maravilhosos. Ele nos ama sempre, mas Ele derrama Sua misericórdia, derrama o Seu amor quando nós estamos ainda pecadores. É aquela promessa que Deus havia feito em Gênesis de que mandaria uma mulher, cujo filho, interpretando à luz do novo testamento, cujo filho salvaria o mundo. Essa mulher que pisaria à cabeça de satanás. Deus quando nos viu pecadores, perdidos, ameaçados de morte, decidiu mandar Jesus Cristo, decidiu em Jesus Cristo nos salvar. E esse Cristo, temos lá no versículo 14, derrubou o muro da separação, o muro do pecado, da inimizade, da indiferença, como tem dito o Santo Padre. Ele derrubou o muro da indiferença na Sua própria carne.
Vemos esse muro hoje rachado. Ontem o muro estava todo inteirinho. O muro da indiferença ontem estava todo inteiro. Hoje o muro da indiferença já parece rachado, e o Senhor Jesus destruiu esse muro não com uma palavra, porque Ele poderia ter feito isso com uma palavra. Não com uma ordem aos Seus anjos, porque Ele poderia ter feito isso com uma ordem aos Seus anjos. Ele decidiu, porque Ele ama e quem ama se dá todo, quem ama não tem medidas, não tem medidas de doação, de entrega. Esse Senhor, porque Ele ama, Ele decidiu livremente quebrar esse muro da indiferença com a Sua própria carne. Diz Efésios: “Tendo derrubado o muro de separação, de pecado, de indiferença, e suprimindo a inimizade na Sua própria carne”. Na Sua própria carne…
Essa palavra vai nos guiar nessa palestra, porque aquele que deu sua vida por nós sofrendo na Sua própria carne, no Seu ser, Ele espera de nos e nós queremos dar a Ele uma retribuição, uma unidade de amor, uma gratidão na nossa própria carne. A gratidão da qual Deus é digno, da qual o Crucificado é digno, a gratidão da qual o Ressuscitado que passou pela cruz é digno, é que nós nos unamos a Ele na nossa própria carne. Tudo o que for menos do que isso é indiferença. Tudo o que for menos do que isso é ingratidão. Tudo o que for menos do que isso não é a gratidão plena, a entrega plena, não é a intimidade plena.
Quando nós somos batizados, somos batizados na Cruz de Cristo, no Sangue de Cristo, na Morte e Ressurreição de Cristo. E a partir daí nós, em nossa própria carne, na nossa própria vida, somos desposados por esse Senhor que desposou a humanidade na Sua encarnação. Nós nos tornamos Corpo de Cristo. Nós nos tornamos esposas de Cristo. Nós nos tornamos Carne de Cristo, como o padre Sílvio disse ontem. Tornamo-nos Corpo de Cristo, segundo São João Crisóstomo, no momento em que no nosso batismo o Senhor nos desposa. A partir daí, a graça santificante, a força do Espírito Santo, o poder do amor de Deus vai quebrar em nós todo muro de pecado e de inimizade, e vai pedir de nós, como uma retribuição de gratidão não porque Ele precisa! Quem precisa somos nós! Mas a resposta de gratidão que nós daremos ao Senhor é uma resposta que supõe a nossa carne, a nossa vida. Não é uma resposta de palavras, nem de ideias, pensamentos. É uma resposta de vida, de comportamento, de doação de vida, de amor incondicional a Deus e aos irmãos. Diante de Cruz de Cristo a nossa gratidão é essa: amor incondicional, concreto, na nossa carne a Deus e ao nosso irmão.
E Efésios continua, dizendo assim, no versículo 15: “Ele suprimiu em sua carne a inimizade afim de criar em si um só homem novo”. Nós somos em Cristo um só homem novo, e é assim que Ele restabelece a paz. Nós que somos da comunidade Shalom, da Obra Shalom, nós que somos chamados a Em Cristo, Com Cristo e Por Cristo ser ministros da paz, não podemos eximir a nossa carne de viver com Cristo a sua Paixão, Morte e Ressurreição.
Vamos para João 12, 23. Vamos começar agora a caminhar com Jesus durante a Sua Paixão. Vamos voltar um pouquinho para pegar o gancho de ontem, mas antes quero pedir que você feche seus olhos e façamos uma oração.
“Senhor, Tu assumiste os nossos pecados, as nossas faltas, a nossa humanidade pecadora e fraca. Tu assumiste na tua própria carne. Queremos te suplicar, Senhor, que nesse momento em que vamos começar a caminhar contigo na Tua Paixão, queremos te suplicar que apesar de todo o grito da nossa carne, o Teu amor e o Teu poder venham conquistar o nosso coração para que ele esteja unido ao Teu, afim de que pelos Teus méritos caia em nosso coração, em nossa mente, em nossos corpos, todo tipo de indiferença e de separação de ti e dos nossos irmãos”.
Oh, Belíssimo Esposo! Mais belo que todos os homens! Santo, Santo és Tu! Belíssimo Esposo! Esconde-me em Teu lado aberto! Em Tua chaga de Amor… De Amor!
Em João 12, 23, Jesus deixa muito claro que Ele tem uma consciência profunda da Sua missão, da prova de amor pela qual Ele vai passar. E Ele que já anunciou a Sua morte, e morte de cruz várias vezes, em João vai falar de uma forma figurada, mas de uma forma muito clara para nós. O Senhor Jesus nesse momento fala para nós. Para nós que somos seus discípulos. Ele quer que nós vejamos a Sua morte em todos os acontecimentos que vem agora, assim, como esses versículos falam. “É chegada a hora”. Chegou o momento. Aquela cruz sobre a qual falei para vocês tantas vezes, aquela paixão, o julgamento, aquele sofrimento sobre o qual eu falei tantas vezes, chegou a hora dele. Chegou a hora em que será glorificado o filho do homem.
Meus queridos, a glorificação de Jesus se dá a partir da Sua morte. Jesus fala em glorificação do Pai e de Si a partir da Sua morte. O que é que nós consideramos glória? É a partir da Sua Paixão, Sua Morte de Cruz que vai desembocar na Ressurreição que Jesus começa a falar em glorificação, onde vai aparecer a glória de Deus, a verdadeira face de Deus, a face de Deus misericórdia. Na bíblia, a palavra glorificar, a palavra glória, significa a face. Glorificar é mostrar a face. Jesus Transfigurado mostrou Sua glória, mostrou Sua face. Agora, a face do Senhor, a face de Deus que é amor vai ser mostrada.
Nós que somos chamados a passar pela cruz com o Ressuscitado, atenção! Nós precisamos saber que também a nossa glória, também aquilo que nós somos, também aqueles que nós somos, começa a aparecer a partir dos nossos sofrimentos, das nossas paixões no sentido de prova, no sentido de dar a vida por amor. Quando nós começamos a dar a nossa vida por amor, a viver isso que Jesus diz “chegou a hora”, chegou a hora deu dar a minha vida por amor a alguém que não me ama, alguém que é indiferente a mim. Chegou a hora de dar a minha vida por amor para salvar alguém que eu nem conheço. Chegou a hora de dar a minha vida por amor por Jesus para que o amor seja fecundo, que o meu amor tenha o poder de salvar os outros. Para que o meu amor tenha o poder de Cristo, para que o meu amor seja uma migalhazinha ínfima unida à migalha de Cristo. Chegou a hora deu ser glorificado, Pai.
Jesus tem muita consciência de deixa muito claro que a Sua glorificação começa agora, começa a partir da ultima ceia, começa a partir da Paixão. E nós precisamos ter essa visão sobre a nossa doação de vida. A nossa doação de vida não é teórica. A nossa doação de vida é uma união profunda com a Paixão de Jesus. Quando eu sacrifico a minha vida pelo meu irmão não amável, quando dou a minha vida pelo meu irmão indiferente, pelo meu irmão que não me ama, eu estou, por amor a Jesus, concretamente, literalmente unindo a minha carne a carne de Cristo, unindo a minha vida a vida de Cristo, meu sacrifício ao sacrifício de Cristo, a minha paixão a paixão de Cristo, para que a minha vida tenha valor, sentido, porque a nossa vida só tem sentido e valor quando nós a damos em sacrifício de louvor, de gratidão, de amor a Deus e aos homens.
É chegada a hora em que será glorificado o filho do homem. Em verdade, em verdade eu vos digo, se o grão de trigo que cai na terra não morrer, ficará só. Só, estéril, infértil, sem dar frutos. Porém, se ele morrer, produzirá muito fruto. Como é difícil para querermos morrer. É difícil para nós morrermos, mas para querer morrer, é mais difícil ainda. Para nós morrer é uma coisa que pode acontecer pelas contingências da vida, pela humanidade, é normal. Mas para nós, desejarmos morrer para a nossa carne, nossa vontade, para o nosso comodismo, para nós mesmos por causa de Deus e de outra pessoa, é muito difícil. A nossa carne rejeita. Os nossos pensamentos, as nossas fantasias e até numa Sexta-feira Santa desejam, mas na hora H precisamos de muita graça e muito desejo de fazer a vontade de Deus para que possamos de fato dizer: “Eu sou um grão de trigo. Eu nasci para dar frutos. Eu quero morrer”. Você tem coragem de dizer isso comigo? Quem tiver coragem só, tá? Eu sou um grão de trigo. Eu quero morrer para dar frutos. Eu quero morrer para mim mesmo, concretamente, na minha carne, para dar frutos. Eu não fui criado para ser estéril nem para ficar só, mas para me unir a Cristo em favor dos meus irmãos. Se o grão de trigo não morrer, permanecerá só, mas se morrer produzirá muito fruto.
Quem ama a sua vida a perde, mas quem odeia a sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna. Jesus estava falando Dele mesmo. Ele sabia que ia morrer. Ele sabia que para essa morte por amor a nós era necessário que Ele desprezasse a Sua vontade e fizesse a vontade do Pai. Era necessário que Ele desprezasse a Sua própria vida para que nós tivéssemos vida. Ele fala Dele, mas nos ensina o que devemos fazer.
E continua! Se alguém quer servir-me, siga-me. Servir a Jesus não é só trabalhar na lanchonete, no aconselhamento, na pregação, na formação, na rádio, na evangelização. Servir a Jesus é seguir Jesus, é passar o caminho que Ele passou. Não é passar pelo caminho que Ele passou. É diferente, mas passar o caminho que ele passou, viver a vida que Ele viveu. Esse é o verdadeiro seguimento de Cristo. Esse é o verdadeiro serviço a Jesus Cristo. Os ministérios, os serviços, são uma forma de nos fazer não amar tanto a nós mesmos, mas amar o nosso irmão. Quando você vai para um ministério, aconselhamento, missa de cura, a evangelização, quando você vai, está tendo de Deus uma grande oportunidade, uma grande graça para esquecer a sua vida, esquecer o que deseja a sua carne, esquecer o que você no fundo deseja, em prol do seu irmão, em prol da evangelização, da formação, do serviço ao seu irmão. Do serviço especialmente aos mais pobres. Se alguém quer servir-me, siga-me, e onde eu estou estará o meu servo. Jesus está em mim, está no meu irmão. Se alguém me serve, o meu Pai o honrará, e o que eu direi: “Pai, livra-me dessa hora”, é isso o que direi? Mas foi para isso que eu vim. Pai, glorifica o Teu nome. Pai faz, realiza.
E aqui é outra coisa que precisamos pedir a Deus. Senhor, eu vim para servir, eu vim para te amar, para amar o meu irmão. Eu existo para amar, existo para esquecer-se de mim e só me lembrar do outro. Eu vim para amar o que não é digno de amor. Vim para amar o que me ofende, o que me trai. Eu vim para amar aquele que não me ama. É a minha hora. Esse momento é o momento Pai, realiza! Glorifica o Teu nome, realiza a Tua vontade!
Vamos agora passar para João 13, que foi o mistério que vivemos ontem, o Lava pés. O lava pés já vai mostrando em João os sentimentos de Jesus com relação a Sua Paixão. A Paixão de Jesus não é uma sequência de fatos, como num filme que só conte os fatos. A Paixão de Jesus é uma sequência de entregas de amor, sequência de atitudes de amor, e ah se nós tivéssemos tempo para meditar, contemplar essas atitudes de amor de Jesus. Mas hoje e amanhã temos muito tempo para fazer isso em oração em casa.
Vamos começar no versículo 3: “Sabendo que o pai tudo pusera em suas mãos”, e agora vamos para o dois: “Durante a ceia, quando já o diabo pusera no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de entregar Jesus, Jesus soube”. Jesus sabia da traição de Judas, mas vamos voltar a isso mais tarde. Sabendo que tudo o Pai pusera em Suas mãos e que Ele viera de Deus e a Deus voltava, ou seja, consciente da Sua missão. Meus queridos, eu diria para nós: “Conscientes do nosso batismo, conscientes da nossa consagração”.
Às vezes nós não correspondemos ao amor de Deus, ao seguimento de Cristo no caminho de Paixão, Morte e Ressurreição porque nós não temos consciência da nossa missão de batizados. Jesus sabia que Ele vinha de Deus e para Deus ia, e nós? Nós nos lembramos disso? Eu vim de Deus, você veio de Deus e vai para Deus. Você foi batizado no sangue de Cristo. Você foi batizado nesse mistério que estamos vivendo essa semana até a ressurreição. Você recebeu uma missão e isso é o mais importante da sua vida, e a sua missão é ser outro Cristo. A sua missão é estar unido à Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. É ser colaborador, missionário, unido a Jesus para a salvação do mundo, mas isso tem um preço que só o amor pode pagar. Isso tem um preço que nada nesse mundo pode pagar. Isso tem um preço que só é pago pelo próprio amor, porque o amor é a recompensa de si mesmo, como Santo Agostinho disse. O amor é a recompensa dele mesmo. Não há o que possa pagar o amor. Não há o que possa pagar o amor. Eu vim para amar, amar concretamente com a minha carne, com minha vida, com minha história.
Jesus, então, levanta-se da mesa, depõe o manto, e tomando uma toalha cinge-se com ela. Meus queridos, nesse momento em que Jesus vê a situação de Judas, vê que chegou a Sua hora, Ele toma a posição de escravo. Ele retira o manto, porque os escravos não suavam manto. Ele levanta sua túnica, põe na cintura, cinge sua túnica, amarra uma toalha e vai fazer o que somente os escravos faziam: lavar os pés dos seus patrões. Naquela época não havia carro nem avião, os pés eram sempre muito sujos, eram a parte mais suja do corpo, e um escravo era pego para fazer o serviço sujo, o serviço imundo, o serviço de lavar as imundícies dos pés dos patrões.
Jesus, ao ver que chegou a Sua hora, ao ver que Judas já tinha ido combinar o preço de Jesus, Jesus nesse momento diz: “Eu sou escravo”. A partir daí Jesus passa a agir e a ser tratado durante a Paixão como um escravo, como um homem sem direitos. Como um homem que no seu entendimento interior, talvez somente no de Jesus e de Maria, que entendiam o valor espiritual do que estava acontecendo, esse escravo era o mais livre do mundo, era o escravo de amor. Jesus assume uma escravidão por amor, uma escravidão de amor, a única escravidão que nos dá liberdade interior. Jesus assume uma escravidão voluntária. Livremente Ele se torna escravo e vai passar, como Ele sempre fez desde que se encarnou, mas agora Ele assume inteiramente, visivelmente essa posição de servo e vai lavar os pés dos discípulos. Coloca os discípulos acima Dele, no amor. No amor! Não objetivamente, mas no amor Ele escolhe servir. Por amor Ele escolhe se fazer servo. Por amor Ele se abaixa e lava as imundícies. Jesus, então, lava os pés dos discípulos e faz visível o que Ele já disse: eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida por muitos.
Há outras coisas na Paixão e Morte de Jesus que mostram esse servo, mostram Jesus sem direitos, Jesus disposto, desejoso de servir. Existe uma diferença muito grande entre estarmos dispostos a servir, porque quando estamos dispostos a servir podemos servir ou não. É como aquele filho que o pai o chamou para a vinha e ele disse: “Sim, eu vou”, e não foi. Santa Teresa diz: “Obras quer o Senhor! Obras quer o Senhor! Não palavras, obras quer o Senhor!”.
Jesus vai ter alguns outros episódios aonde Ele concretamente mostra não só o desejo de servir, mas o serviço concreto. Ele escolhe, deseja e serve. Ele não fica no desejo, não fica na vontade, Ele faz. Para os que são da vocação Shalom, Ele diz: “Sim Pai, eu quero, eu desejo”, tudo bem, agora vem a mais forte: “Eu vou, eu cumpro. Eu faço dessa escravidão de amor um sentido da minha vida”. Nós todos batizados, principalmente consagrados, a escravidão de amor a Deus e ao nosso irmão é um sentido da nossa vida.
Jesus se fez escravo na Sua encarnação, mas passando para a Paixão, que é o nosso tema. Jesus se faz escravo nos Lava pés. Jesus, ao tomar o pão na ceia como disse ontem São José Antônio, Jesus tomou o pão da escravidão, o pão que era o alimento dos escravos, dos hebreus enquanto escravos no Egito. Jesus tomou o pão da escravidão e diz: “Isto é o meu corpo”, e dá um sentido de amor, um amor que fica, que permanece, que se renova em cada Eucaristia.
Jesus também, quando foi vendido por 30 moedas de prata, Jesus foi vendido pelo preço de um escravo. Judas não vendeu Jesus por bilhões. Judas vendeu Jesus pelo preço de um escravo. Ele transformou o seu senhor num escravo, o seu mestre num escravo. Ele quis colocar o seu mestre ao seu serviço, ao serviço das suas fantasias mirabolantes, do seu egoísmo, não dá para julgar o que passava na cabeça de Judas, mas foi pelo preço de um escravo que Jesus foi vendido. Nós muitas vezes também vendemos Jesus pelo preço de um escravo, mas nos não queremos mais fazer isso. Quando nós traímos Jesus, o estamos vendendo pelo preço de um escravo.
E Jesus, finalmente, foi escravo na cruz. A cruz era o tipo de morte dos malditos, dos escravos, dos humilhados, dos que não tinham valor. Por isso Filipenses vai dizer: “Abaixou-se até a morte, e morte de cruz”, morte dos malditos, dos amaldiçoados. Foi a morte que Deus escolheu para si. A morte que o Pai escolheu para o seu filho e o filho, consequentemente, escolheu para si. Jesus e o Pai escolheram para si a morte de um escravo. E nós, que seguimos Jesus, que queremos ser como Jesus, porque nós O amamos, nós reconhecemos que Ele é Deus, Senhor e Salvador! Nós resistimos à escravidão de amor. Nós resistimos a nos tornar escravos dos nossos irmãos. Nós resistimos a nos tornar escravos de Deus. Nós resistimos a nos tornar escravos uns dos outros, porque para nós isso é humilhação. Para Jesus, para Deus, isto é glorificação, porque o amor glorifica, o amor eleva, o amor humilha e exalta. O amor requer rebaixamento e vem uma consequente exaltação. Rebaixamento daquilo que em nós é orgulho, daquilo que em nós é julgamento, preconceito, crítica, vaidade, presunção, os frutos da carne. Rebaixamento da carne para que Deus eleve a nossa vida a vida de seguidores de Jesus. Jesus então escolhe ser escravo, assume ser escravo, concretamente no Lava pés, no pão, nas moedas, na morte de escravo.
Vamos para o versículo 16, que talvez seja o versículo chave. Em verdade, em verdade eu vos digo: o servo não é maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. O servo obedece. O servo, o escravo, obedece. Ele não se mede com o seu senhor, não se faz maior do que o seu senhor. Ele obedece porque ele escolhe ser menor. É uma opção de amor. Para servir o meu irmão, para servir à salvação do meu irmão, à salvação do mundo, eu escolho ser menor, eu escolho servir, escolho não ser o senhor, eu escolho não ser reconhecido. Mas é exatamente esse abaixamento de Jesus que vai fazer com que o Pai o sobre eleve acima dos céus, das terras e dos infernos.
O versículo 17 é mais do que uma pérola. Ele vai dizer: Se compreenderdes que o servo não é maior do que os eu senhor, se compreenderdes tudo isso que eu fiz a vocês, me colocando na posição de escravo. Se compreenderem que o grão de trigo precisa morrer para dar frutos. Se vocês compreenderem toda essa conversa que nós tivemos até agora e o praticardes, porque não adianta compreender com a cabeça. Não adianta nem mesmo compreender com o coração. É preciso praticar, viver na carne, na carne! É preciso compreender e praticar. Jesus não só compreendeu o que o Pai queria Dele. Jesus disse sim ao que o Pai queria Dele. Jesus compreendeu e praticou. Isso nos leva ao Getsêmani, mas antes quero pegar um versículo com vocês, o 21.
Antes do versículo 21, coloque a mão na pessoa da sua direita e peça a Jesus que essa pessoa diga sim ao seguimento de Cristo na escravidão de amor.
Oh, Belíssimo Esposo! Mais belo que todos os homens! Santo, Santo és Tu! Belíssimo Esposo! Esconde-me em Teu lado aberto! Em Tua chaga de Amor… De Amor!
Quando pedimos ao Nosso esposo, com quem somos uma só carne, que nos esconda nas Suas chagas de amor, estamos dizendo: “Eu quero as Tuas chagas na minha carne”, porque é passando pela cruz que eu tenho a ressurreição. A razão pela qual dizemos ao nosso Esposo que eu quero me esconder nas Suas chagas de amor, que eu quero ter as Suas chagas de amor, a razão é: porque eu te amo! Eu não sou indiferente Jesus ao Teu sofrimento, como Tu não és indiferente ao meu, nunca fostes!
Mas Jesus, em João 13, 21, aqui Ele é, a meu ver, espantoso! Tendo visto isso Jesus perturbou-se. Jesus não deu uma de repórter do jornal de TV. Jesus estava sofrendo muito, muito. Só quem passou sabe o que é. Jesus perturbou-se em Seu Espírito profundamente, o mais profundo que alguém pode se perturbar. Não foi uma perturbação em nível de inteligência, de razão, nem a nível de emoção ou moral. Foi uma perturbação no Seu Espírito, muito mais profunda, e declarou, ele não disse, eu gosto muito dessa tradução que diz: “E declarou”. Jesus fez uma declaração. Ele não simplesmente disse. Ele não simplesmente revelou. Ele solenemente declarou: “Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me entregará”.
Meus queridos, o Pai, Jesus e o Espírito Santo poderiam ter feito com que Jesus fosse crucificado fazendo com que os guardas do sinédrio chegassem lá no templo, pegassem Jesus e arrastasse. Jesus tinha falado abertamente. Jesus não tinha se escondido, mas tinha pegado no templo, ali debaixo do nariz deles. Mas atenção! Jesus escolheu. O Pai escolheu. O Espírito escolheu para Jesus a traição. A traição de um dos doze. Não a traição de um homem qualquer que fosse passando pela rua e que tivesse visto Jesus e fosse entregar ao sinédrio. Não! A traição de um dos doze.
Esse fato mostra que Jesus não é indiferente aos nossos sofrimentos nem a quando nós sofremos a traição. Todos nós, sem duvida, de forma mais ou menos dramática, já passamos por traições de alguém a quem nós amamos e que pensávamos que nos amasse. É uma experiência muito dolorosa. Você que passou por essa experiência, você não passou só. Jesus escolheu essa experiência para si, de formas que para nós sermos traídos é uma honra, é um privilégio. Eu estou passando por aquilo que o meu senhor escolheu passar. Eu não estou só. E ao invés de ficar me lamuriando, me lamentando, reclamando, murmurando, eu escolho o que o meu Senhor escolheu: transformar a dor da traição numa dor redentora, numa dor salvadora, numa dor purificadora. E isso se faz unindo a dor da traição de Cristo a nossa dorzinha da nossa traição.
Versículo 26. Estavam perguntando a Jesus quem era que ia trair, e Jesus respondeu: “É aquele a quem eu der o pão que umedecerei no molho”. Vejam bem! Esse era um sinal de amizade. Vou repetir! Esse era um sinal de amizade. O anfitrião molhava o pão no vinho e dava como prova de amor, honrando o seu convidado. Foi essa a resposta de Jesus à traição de Judas. Foi essa a resposta de Jesus. Ele deu a Judas uma prova de amizade. Claro, Ele morreu na cruz também por Judas, e essa é a maior prova de amor, mas naquela ceia, Ele molhou o pão no molho de vinho e o entregou a Judas: “Você conta com a minha amizade. Você conta com o meu amor. Ainda que me tenha traído. Ainda que me tenha feito sofrer”. Jesus está sofrendo. Jesus está perturbado no seu Espírito, e Jesus mesmo disse, com relação ao Getsêmani, que Ele estava triste de uma tristeza mortal. Mas Jesus não para em si. É preciso amar, e amar como escravo, amar como servo, amar dando a sua vida, sua carne, seu ser, tempo, tudo o que ele é em serviço de amor ao outro, ainda que o outro me traia.
Oh, Belíssimo Esposo! Mais belo que todos os homens! Santo, Santo és Tu! Belíssimo Esposo! Esconde-me em Teu lado aberto! Em Tua chaga de Amor… De Amor!
Deus nos faça entender que aquele que nos faz sofrer, aquele que nos trai, se unirmos nossa dor a dor de Jesus, está nos fazendo um grande gesto de amizade, está nos fazendo passar pela dor que Jesus passou na sua paixão.
Mas Jesus vai se despedir dos seus discípulos no versículo 31. Ele já disse que nós seremos felizes se nos fizermos escravos dos outros, escravos Dele, escravos de amor. Ele já disse que nós seríamos felizes se escolhêssemos morrer para nós mesmos para dar muitos frutos. No versículo 31, quando Ele se despede, quando Judas sai e ele fica só com os onze que não o haviam traído e até esse momento não o haviam abandonado, Ele diz: “Agora o filho do homem foi glorificado e Deus foi glorificado Nele. Se Deus foi glorificado Nele, também o glorificará logo”, e já vimos o que isso significa. Ele vai dizer: “Filhinhos, por pouco tempo ainda estou convosco. São as minhas ultimas palavras. Eu não sei se ainda vou ter oportunidade de falar com vocês”. São as ultimas palavras de quem vai morrer. “Eu estou com vocês ainda por pouco tempo. Vos me procurareis, e agora eu digo a vocês como disse aos judeus: para onde eu vou, vos não podeis ir”.
E aqui estão as ultimas palavras de Jesus aos Seus discípulos: “Eu vos dou um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”. Como foi que Jesus nos amou? Escolhendo ser escravo. Escolhendo ser traído. Escolhendo a morte de um maldito, de um malfeitor. Escolhendo o lugar mais baixo. Escolhendo se dar concretamente na Sua carne, na Sua carne! Essa expressão tem um valor cada vez maior. Sem ela nós não vamos entender a ressurreição. Escolhendo sofrer na Sua carne concreta, no Seu ser, no Seu corpo, escolhendo sofrer para que nós possamos encontrar o caminho da escravidão de amor, para amarmos os nossos irmãos como escravos de amor, ainda que isso doa. Para nós amarmos os que nos traíram como escravos de amor, ainda que isso doa.
Jesus, na Sua Paixão, Ele não pensa em si. Ele pensa no Pai e em nós. Jesus em nenhum momento disse que estava doendo. Jesus disse: “Pai, se não é possível que eu passe sem beber este cálice, faz então a Tua vontade e não a minha”. Pai, eu sou Teu escravo de amor. Eu obedeço. Eu me dou concretamente na minha carne, em tudo o que eu sou, porque quem ama se dá todo e não pela metade. Deus escolheu nos salvar se dando todo, e nós não temos outra opção de amar a não ser nos darmos todo, especialmente a quem nos machuca, nos maltrata, nos trai e nos faz sofrer. Nós não temos outra opção, o caminho é esse: amai-vos uns aos outros. Pai, faça-se a Tua vontade e não a minha!
Em outra ocasião Jesus terá dito: “Então, eu não hei de beber o cálice que o Pai me dá para beber?”. Tem cada coisa que acontece na nossa vida, não é verdade? Cada coisa que acontece na nossa história. Cada coisa que acontece independente de nós que cai em cima de nós como uma montanha. A nossa resposta deve ser a mesma de Jesus. Uma enfermidade, uma depressão, uma angustia, uma enfermidade séria, uma morte, traição, perda de alguém, decepção, um acontecimento que nos deixa numa situação difícil: Pai, então eu não hei de beber o cálice que me dais para beber? Jesus dá a Sua adesão a vontade do Pai livremente, e livremente Ele escolhe o único caminho de liberdade, que é fazer a vontade do Pai.
Quando estamos sofrendo, nós em geral nos tornamos escravos do sofrimento. Jesus foi livre em toda a Sua Paixão, porque Ele escolheu sempre amar o Pai e amar a nós, e quem escolhe amar é livre, porque só o amor vai me libertar. Só o amor unido ao amor de Cristo vai me libertar.
Pensa naquele espinho que você tem, naquele sofrimento que trouxe e traz, e para unir o seu sofrimento ao de Jesus, porque sem o sofrimento de Jesus os eu não tem nenhum valor, diga comigo: então Pai, não hei de beber o cálice que o Pai me dá para beber? Então não hei de beber o cálice que o Pai em oferece?
Durante a Sua Paixão, Jesus pensando em nós vai falar varias vezes de perseguição, e em João 17 Ele vai orar ao Pai por nós, porque como Ele, nós seremos perseguidos. Como Ele, nós vamos sofrer ofensas, vamos ser rebaixados. Como Ele, nós vamos ser humilhados, traídos, cuspidos, espancados, e Jesus reza por nós. Jesus pensa em nós quando Ele é preso, e Ele diz: “Vocês estão buscando a mim? Deixe esses outros e me leve”. Jesus não tenta se salvar, não tenta salvar a sua vida. Jesus não diz: “Essa reca aqui veio comigo”, não. Jesus disse: “Me leve, mas deixe esse pessoal aqui”.
Vamos agradecer ao Senhor que pensou mais em nós do que em si, e vamos nos esconder novamente nas chagas de amor de Jesus, pedindo que pensemos mais no Pai, mais Nele e no nosso irmão do que em nós.
Oh, Belíssimo Esposo! Mais belo que todos os homens! Santo, Santo és Tu! Belíssimo Esposo! Esconde-me em Teu lado aberto! Em Tua chaga de Amor… De Amor!
Como escravo de amor, Jesus sofreu todo tipo de cusparada, todo tipo de zombaria, todo tipo de má interpretação. No julgamento de Jesus, em Mateus 26, 61, acusam Jesus de algo que Ele não disse, algo que parece o que Ele disse, mas Ele não disse. É um momento de como almas esposas nós unirmos a Jesus não só os acontecimentos difíceis, não só as enfermidades, os desafios de convivência, os desafios de amar o não amável, o que não nos ama. Não só o desafio de amar a quem nos trai, mas mais uma coisa que nos faz sofrer em geral. É quando as nossas palavras são deturpadas ou mal interpretadas. Todos nos já sofremos isso, todos nós. E esse é o momento em que você, enquanto ouve no sue coração, você pode unir a Jesus as vezes em que você falou uma coisa e entenderam outra, as vezes em que inventaram coisas que você falou nessa maldição da fofoca, como diz o Papa.
No versículo 61 acusam Jesus: “Este homem declarou posso destruir o templo de Deus e edifica-lo depois de 3 dias”. Jesus não disse isso. As palavras são quase iguais, quase iguais! Mas por inveja de Jesus, para incriminar Jesus, torceram as Suas palavras. Precisavam colocar uma blasfêmia na boca de Jesus para que Ele fosse condenado. Jesus não disse: “Posso destruir o templo e eu o construirei”. Jesus disse: “Destruí vós esse templo e eu o erguerei em três dias”.
Jesus foi coroado de espinhos e na coroação de espinhos disseram a Jesus também, estamos falando das palavras, em Mateus 27, 27: “Em seguida os soldados do governador levando Jesus para o pretório, reuniram com ele toda a corte. Despiram-no”. Jesus foi despido duas vezes na Sua Paixão. Uma pessoa que é despida com certeza violentamente e sem nenhum respeito, com certeza com escárnios. Despiram Jesus, puseram lhe uma capa escarlate. Depois, tecendo uma coroa de espinhos, puseram lhe na cabeça e um caniço na mão direita, e ajoelhando-se diziam a verdade, como se fosse uma chacota: salve rei dos judeus. E Jesus, despido, tendo sobre ele apenas um manto escarlate, uma coroa de espinhos e o Seu próprio sangue que o cobria da cabeça aos pés, literalmente, coroado de espinhos sobre os quais ainda se tinha batido para doer mais, Jesus é saudado com zombaria por aquilo que Ele de fato é. Salve, rei dos judeus. Assim como Pilatos mandaria escrever sobre a Sua cruz: “Este é o rei dos judeus”. É verdade. É verdade.
Nós como cristãos muitas vezes vamos receber zombarias porque nós somos cristãos. Desprezo, escárnio, exposição, vão nos despir por aquilo que nós somos, porque nós somos cristãos. Cada vez mais vamos ser despojados por causa da verdade. Cada vez mais vamos ser perseguidos por causa da verdade. Cada vez mais teremos problemas por causa da verdade, e Jesus já passou por isso.
Outra verdade é quando nos acusam de nosso pecado. É verdade, o nosso pecado é verdade, e muitas vezes sofremos por causa do nosso pecado e achamos que estamos sofrendo por causa de outro. Mas quando zombaram por nós por causa do nosso pecado, estão zombando de nós por causa da verdade. Nós precisamos, então, como Jesus, silenciar.
Zombaram de Jesus na cruz: “Desce daí. Se tu és realmente o filho de Deus, salva te a ti mesmo e nós creremos”, olha a tentação! Se você descer da cruz vamos crer. Não entenderam, como disse ontem na Adoração o Moysés, a dinâmica do amor. A dinâmica do amor não é fazer uma coisa espetacular para que os outros creiam. A dinâmica do amor é deixar-se morrer, deixar-se matar, desejar fazer-se escravo de amor, morrer por amor ao outro.
E, finalmente, em Mateus 27, Jesus vai dizer: “Meu Pai, meu Pai, porque me abandonastes?”. Vejo as pessoas passarem por momentos de dificuldade na sua vida espiritual, por momentos de dificuldade na sua vida do dia a dia, e desprezarem esse momento, espernearem, acharem ruim, recamarem, quando na verdade aquele aparente abandono de Deus já foi assumido por Jesus na cruz. E o segredo é entregarmos a Jesus esse abandono, para que esse abandono tenha sentido.
Jesus, finalmente, não foi indiferente a nós na cruz, em João 19, 19, quando Ele disse: “Eis a minha Mãe. Ela estará com vocês nos sofrimentos de vocês. Ela não me abandonou”. Como Nossa Senhora ao pensar em Jesus estava orando, como nós ao pensarmos em Jesus já estamos orando, Nossa Senhora acompanhou em oração, em amor. Nossa Senhora amou Jesus no Seu coração durante toda a Sua Paixão. Ela que se havia feito serva do senhor na Sua Encarnação, fez-se serva até a morte, e morte de cruz, cruel, humilhante do Seu Filho.
Que Nossa Senhora nos ensine essa escravidão de amor de um deus que tendo tomado sobre si os nossos pecados, nos ensinou a ser gratos através da doação da nossa vida e tomou cada sofrimento nosso, destruindo todo pensamento de indiferença que nós possamos ter, “ah, Deus não liga para mim”, mas assumiu tudo. Nele tudo tem sentido. Nele tudo se transforma em amor.
Eu hoje pedi a Jesus um sinal de que era isso que eu devia falar. Quando fui abrir o oratório lá de casa, vi que meu neto, e eu tenho um neto que é doido por cruz! Ele não pode ver uma cruz que corre para beijar! E o meu neto tinha posto lá dentro essa cruz. Eu tenho muita estima por essa cruz. Uma cruz simples, tortinha, mas nela está escrito “solo dios basta”, “só Deus basta!”. Que nós paremos de valorizar aquilo que na verdade não tem valor. Que passemos a transformar em chagas de amor todos os acontecimentos da nossa vida, porque eles fazem parte de um único mistério de redenção no qual nós participamos pela linguagem das almas esposas, que se unem em sua carne ao senhor, dando sentido a toda a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
Ele não está só, não estará nunca. Sempre o Espírito Santo vai suscitar almas esposas que digam como Santa Teresa: “Só Deus basta!”.
Oração:
Senhor, nós no batismo fomos desposados por Ti. Alguns de nós nos consagramos a Ti. Nós somos Tuas almas esposas, unidos a ti, unidos ao amor da Trindade que passa pelo Teu coração e se faz concreto, visível, palpável, próximo, salvação no meio de nós. Une-nos Senhor, une os nossos corações, une as nossas almas. Une Senhor o nosso espirito a Ti. Não deixe que nós, sendo almas esposas, desprezemos aquilo que tu escolheste para Ti. Não permite Senhor, que nós, almas esposas, desprezemos aquilo que tu escolheste para Ti e que o Pai escolheu como cálice para nós.
Senhor, nós queremos ser escravos de amor, queremos beber até o fim, até a última gota o cálice que tu tens para nós. Unidos a Ti, unidos a Tua Paixão e Morte, como almas esposas que se unem ao seu Esposo em qualquer situação. Peça ao Senhor, isso não é uma coisa humana, não é uma graça que você possa fazer com a sua vontade. É uma graça de Deus, graça de Deus! Dom gratuito de Deus! e canatndo, imploremos ao Senhor: Oh, Belíssimo Esposo! Mais belo que todos os homens! Santo, Santo és Tu! Belíssimo Esposo! Esconde-me em Teu lado aberto! Em Tua chaga de Amor… De Amor!
Ave-Maria. Maria aos pés da cruz, porta do céu, rogai por nós!
Transcrição: Irlanda Aguiar
Semana Santa – 2015
“Deus rico em misericórdia” (Ef 2,4)
Sexta-feira Santa, 03/02/2015