Ana Carla Bessa
Consagrada na Comunidade de Aliança Shalom
A agressividade juvenil, que antes era relacionada somente às gangues, se torna cada vez mais freqüente nas escolas e no meio familiar, preocupando toda a sociedade e destruindo muitas vidas na flor da idade. Como famílias cristãs, somos chamados a contribuir para a prevenção do surgimento de novos casos em nossas famílias ou naquelas as quais temos acesso, esclarecendo-as e ajudando-as. Assim, apresenta-se diante de nós mais uma oportunidade de trabalharmos pela construção da paz e de um mundo novo à espera dAquele que vem!
Os fatores implicados na violência juvenil que precisam ser observados para ajudar nesta prevenção são os aspectos pessoais da criança, como temperamento e condições físicas(neurológicas e cognitivas), mas também e sobretudo os conflitos familiares que a criança vivência e os outros contatos sociais que ela mantêm.
Há uma agressividade natural transitória que surge na criança quando esta entra em contato com as primeiras regras e obstáculos à realização dos seus caprichos. É quando começam os choros, as birras e as pancadas. Estas atitudades infantis agressivas, com o passar do tempo, devem passar da forma física para a verbal, terminando por ser canalizada, na adolescência, para as atitudes competitivas, que são extremamente saudáveis nesta idade. Já a agressividade que foge ao desenvolvimento natural da criança permanecerá se manifestando exageradamente na primitiva forma física até as idades mais maduras.
Há crianças que desde cedo costumam apresentar um temperamento que popularmente chamamos de "genioso". Essas crianças, devido à sua conduta explosiva, tendem muitas vezes a fazer a família e os professores cederem aos seus caprichos, às vezes confusos e envergonhados diante daqueles que presenciam suas "cenas".
Em outras ocasiões, a birra infantil pode despertar no adulto que lida com ela, uma espécie de retrocesso ao próprio comportamento infantil, em forma de trocas agressivas das quais nada resultarão. Em matéria de resultado, ambas as reações do adulto, embora contrárias, podem levar ao mesmo fim: acabam por endossar mais ainda na criança a idéia de que a agressividade é a única forma possível de obter o que quer.
Gritar com uma criança para que ela se cale é um contra senso. Mas por outro lado fazê-la calar cedendo aos seus caprichos é incentivar sua agressão. Mais vale optar pela regra de ouro dos educadores que está contida na Palavra de Deus: "Que seu sim seja sim e seu não seja não". Muito mais do que impor seus desejos uma criança precisa da presença de um adulto ao seu lado que lhe transmita segurança.
O "mundo" da criança, na sua primeira infância, pode-se dizer que é formado por aqueles que estão mais próximos dela, e mais atenta a tudo do que qualquer adulto, capta toda hostilidade e tensão familiar para si, enquanto muitos pensam que ela nada percebe e está vivendo num "mundo à parte".
Assim, a agressividade excessiva da criança pode ser um convite para nós, adultos ao seu redor, examinarmos qual está sendo nosso próprio comportamento diante dela, que pode estar refletindo tudo o que fazemos como se fosse um espelho diante de nós.
Os graves conflitos que algumas crianças presenciam entre os membros da sua família se torna a sua primeira "escola de violência", que junto com outras causas podem compor um comportamento agressivo voltado para fora ou para dentro de si, sendo estes últimos manifestados pelo alcoolismo, drogas ou suicídio.
Isto não significa que nós, adultos, devamos assumir uma postura de "culpados" diante de nossas crianças, ou fazermos um grande "segredo" para elas de nossos desentendimentos com os outros. Elas devem aprender de nós, sim, que as pessoas as vezes se desentendem, mas que podem buscar o entendimento pelo diálogo, e não pela imposição da força física.
Além do mundo familiar, a criança encontra ainda dentro de casa o mundo da Mídia, que de tantas maneiras traz cenas de violência ao vivo e em atraentes cores chamando sua atenção como um propaganda normal e até positiva em alguns casos, e confundindo suas "cabecinhas" ainda incapazes de refletir sobre incoerências humanas. Diante de homens que declaram guerras absurdas em nome de uma suposta "construção da paz", ela acaba assimilando que sempre "é necessário usar de violência, até para conter a violência".
Aqui mais uma vez, é preciso muita presença da família, não somente a presença física, mas conseguir tempo para sentar junto da criança e ouvir dela como tem chegado ao seu entendimento as mensagens da Mídia. Isto pode ser feito até num simples jogo de dominó, ou diante da TV, ou vendo revistas juntos. Esta será uma ocasião algumas vezes bem mais propícia do que a hora do famoso "sermão" depois das eventuais desobediências.
Por fim, a escola da violência pode estar fora de casa, onde a criança geralmente tem seus primeiros contatos na escola, e começa a perceber que os limites da sua atuação "esbarram" nos direitos de seus coleguinhas. Aí acontecem as primeiras rixas e acordos a serem observados e somente quando necessário, mediados pelos professores.
A escola também pode influir na prevenção de problemas de conduta avisando aos familiares quando detecta excesso de agressividade nas crianças, mas assumindo junto aqueles o problema, na busca de orientação e no desenvolvimento de programas de estímulo à socialização e resolução de conflitos entre os alunos. Uma postura de colaboração é essencial entre pais e escola, pois ambos estão buscando a mesma finalidade, que é a educação da criança.
Quanto aos contatos sociais extra-escola e extra-família, variam muito conforme o meio social com o qual convive, o que não é pré-determinado por fatores econômicos. Não se pode dizer que necessariamente as crianças economicamente desfavorecidas ou moradoras das periferias sejam companhias violentas e nem que as favorecidas sejam pacíficas. Por isto torna-se desnecessário colocar a criança numa espécie de "redoma", evitando qualquer de seus contatos ou vendo "perigos" em tudo, o que acabará prejudicando-a ainda mais, mas em proporcioná-la uma liberdade assistida, orientada, observada.
Isto implica em estarmos atentos, imitando o olhar do Criador, que está sobre nós incessantemente, e cuja certeza nos dá a segurança que necessitamos para superar nossas dificuldades, sejam elas quais forem. Que apoiados na Palavra de Deus que nos diz que "os filhos são uma bênção de Deus. Feliz aquele que encheu deles a sua bolsa", encontremos no próprio Deus a sabedoria para guiar nossos "pequeninos" pelos caminhos da paz!