As crianças as vezes nos surpreendem com fortes questionamentos. Convivendo com algumas, provavelmente você já foi interpelado por suas curiosas interrogações. “Por que o céu é azul? Como o coelho da Páscoa nos dá ovos se coelhos não botam ovos? Ou ainda, como eu vim ao mundo? Por que as pessoas morrem? Por que você está chorando?
Essas e outras perguntinhas, ainda que infantis, são expressões de desejos íntimos e existenciais do coração humano. Elas podem nos fazer mergulhar no sentido profundo das coisas, ter acesso àquela causa eficiente, que é o próprio Deus, sua paz e seu amor perfeito.
Viktor Frankl, o reconhecido neuro-psiquiatra austríaco, refletindo sobre esses e outros comportamentos da psique humana, pega carona nas intermináveis reflexões de Nietzsche. Uma em especial que continua muito atual: “Aquele que tem um porquê para viver, pode enfrentar quase todos os como”.
Estudando a vida dos apóstolos e de todos os santos da Igreja, podemos notar um efeito comum a todos eles: Ao se converterem, terem uma profunda experiência com Deus, suas mentes antes superficiais e rasas, sem muito sentido, tornaram-se reluzentes.
Qual é o sentido da sua vida?
Nota-se aí que nada pode estimular tanto os anseios humanos, levando-os a superação de inúmeros conflitos, tornando-os mais conscientes, responsáveis e lúcidos, como o saber que a vida tem sentido. Qual é o sentido da sua vida? O que significa na sua realidade, amar a Deus sobre todas as coisas?
Quando alguém encontra essas respostas, sua mente e coração tornam-se fábricas criativas de ousadas de soluções. Nenhum drama, nenhum sofrimento, crises ou noites existenciais serão empecilhos, mas ricas oportunidades.
O maior exemplo evangélico que poderíamos encontrar é o da Virgem Maria. Ela que, após ouvir o anúncio do Anjo, e de se inteirar da vontade de Deus, responde com generosidade: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lucas 1,38). Os acontecimentos finais da trajetória messiânica de Jesus na terra, foram sem dúvidas dolorosos e dramáticos para ela.
Porém, o coração generoso dessa mãe não se arrefeceu, não diminuiu em nada suas disposições. Imagino-a, às vezes, fazendo memória do anúncio do Anjo, enquanto seu filho era julgado e torturado. “Eis que conceberá e darás a luz a um filho, a quem porás o nome de Emanuel, que significa Deus conosco” (Lucas 1,31).
Confiança inegociável nos planos de Deus
A pergunta que poderíamos fazer é: Que mãe conseguiria permanecer de pé, diante de uma cena tão dolorosa e terrível? Seu filho sendo tratado de modo tão cruel? Qual foi o segredo dessa mãe que a permitiu ver tudo, sem ter um surto psicótico? O segredo dessa santa Mãe não foi outro senão uma confiança inegociável nos planos e projetos de Deus.
Foi a convicção de que a vontade de Deus é sempre amor, ainda que muitas vezes ela possa se apresentar de modo doloroso e desconfortável. Às vezes, na oração pessoal, gosto de parar e visualizar na minha imaginação, a Mãe de Jesus fazendo memória das frases mais incisivas do seu filho, por exemplo: “Quem quiser me seguir, tome sua cruz e me siga” (Lucas 9,3).
Talvez, esse tenha sido o olhar de São Francisco, Santa Tereza de Ávila, Santa Teresinha e todos os santos da Igreja. Essa foi sem dúvida a convicção que encorajou os mártires a derramarem o próprio sangue. Gostaria de terminar esse texto, com um trecho do Escrito Amor Esponsal de minha Comunidade. Que ele possa animar o seu coração a realizador esse proposito:
“Um coração inflamado por este amor tudo realiza, a tudo se dispõe. Inflamados por este amor, os santos caminharam, os mártires entregaram suas vidas e também nós desejamos prosseguir” (Escrito Amor Esponsal, parágrafo 11).
Desejo que essas palavras tenham gerado no seu coração um desejo mais forte de amar e servir a Deus. Se te fizeram bem, empenhe-se para que elas cheguem a outros corações. Deus te abençoe sempre. Shalom!
Por Rodrigo Santos