Diante da situação que se vive atualmente, há quem não queira ouvir a palavra quarentena e, muito menos relacioná-la ao termo quaresma, o qual designa o tempo vivido como Igreja Católica desde a quarta-feira de cinzas.
A quarentena
Em meados de março de 2020, de uma forma desagradável e sem muito preparo psicológico das pessoas, o mundo passou a viver a quarentena, até então desconhecida pelo termo e trazida à tona por força da lei e em cuidado com a saúde da população. Ela exigiu que a maioria da população mundial vivesse a interiorização no sentido físico e familiar. Físico porque o barulho e a movimentação das ruas da grande e da pequena cidade deu lugar ao silêncio e à cada vez menores números de pessoas transitando nestes centros urbanos. Familiar tendo em vista que os familiares passaram a estarem mais juntos.
A quarentena aumentou tanto o conhecimento pessoal como o interpessoal pelo motivo de estarem mais juntos e necessitarem dividir espaços e atividades. Alguns, porém, sofreram com enfermidades e/ou mortes de entes queridos, reaproximando-os por uma causa comum.
A quaresma
A quaresma, no entanto, traz às consequências da quarentena uma potencialização e uma reordenação de tudo para o Amor, transformando movimentos e sentimentos já exigidos por forças externas para uma vivência interior. Ela convida à interiorização, ao silêncio das vozes e barulhos exteriores, ao autoconhecimento e, com tudo isso, ao exercício da caridade com o próximo e ao sacrifício que gera frutos de conversão sincera e fecunda.
De forma concreta, é tempo propício à entrar no mais profundo do próprio ser e contemplar o que nele há, auxiliado por um silêncio que favorece a pacificação dos sentidos e o reconhecimento dos maus e bons habitantes deste espaço sagrado onde Deus deseja reinar.
A quaresma e a quarentena, portanto, não são apenas um jogo de palavras para atrair a atenção, mas a primeira, mesmo que não dependa da primeira, é favorecida pelo estado que ela coloca aquele que está à ela submissa, por força do desemprego, da saúde própria ou de outrem, como também por causa da atual situação do município. Aos que já estão trabalhando e realizando tarefas que ocorrem dentro das leis e decretos sanitários, a quaresma sem estar em quarentena não se torna mais ou menos desafiante de viver, já que esta apresenta por si só o caminho para a ótima vivência dos exercícios quaresmais listados pela própria Igreja.
Matheus Araújo