Faltam poucos dias para o Natal. Estou um pouco preocupado, mesmo que no Egito não haja tantas preocupações em dar presentes, mas em receber presentes. Sonhei que devia comprar um presente para Jesus e fui para todos os shoppings e todos os mercadinhos de ruas para encontrar alguma coisa para dar a Jesus. Lembrei que os reis magos levavam ouro, incenso e mirra, mas eu não sabia onde poderia encontrar essas coisas, e estava chegando a noite.
Apareceu no meu caminho um menino, que olhando para mim, disse “ghedu” – que em árabe quer dizer “avô” –, onde você vai e que está buscando? Expliquei que queria comprar um presente para Jesus e não sabia nem o que comprar e nem onde. O menino me olhou e disse: “baba” – que quer dizer Pai –, Jesus não quer persente de coisas, mas Ele quer outro presente para o Seu nascimento. Vem comigo.
Fui, o segui e ele me levou numa Igreja e disse: o presente que Jesus quer de você é que você reze, se confesse e recomece todos os dias de novo a ser bom. Isso não se compra com o dinheiro, mas é Deus que dá, dê a Jesus o presente que ele quer. Acordei cedo. Nenhum sinal do menino, mas compreendi que era necessário não comprar presentes para Jesus, mas Ele nos dá o presente do Seu amor. Faltam poucos dias para o Natal.
Colocar um vestido novo sem uma boa confissão desentoa, cheira mal. Precisamos correr enquanto é tempo para uma purificação interior e viver com amor a nossa vocação.
Quero convidar todos os meus leitores a fazer o mesmo, não se preocupar em comprar presentes para Jesus, mas de dar-se a Ele como persente. O nosso coração e o nosso amor para viver em plenitude este novo renascer no Espírito para uma vida nova, cheia de beleza e de graça. É Natal. Colocar um vestido novo sem uma boa confissão desentoa, cheira mal. Precisamos correr enquanto é tempo para uma purificação interior e viver com amor a nossa vocação de missionários, anunciadores do novo tempo de salvação.
Dos pequenos surgirá o Salvador
Sempre gostei do profeta Miqueias. É o menor, quase desconhecido, perdido na floresta dos grandes profetas. A sua mensagem é forte, é corajosa, ele não tem medo de dizer a verdade. Ele é contemporâneo do grande Isaías, contempla a situação de Israel, que vive na escravidão, não consegue se libertar dos inimigos externos e internos. Vê um povo agitado e sem caminho, surdo aos convites de salvação. O profeta então assume uma atitude corajosa e proclama para todos: “Precisamos recomeçar de novo do início, continuar caminho que temos tomado não leva a nada”.
Há um momento na vida em que percebemos que estamos no caminho errado e insistimos a ir em frente e mais vamos em frente e ficamos mais perdidos no emaranhado das vielas da vida. Precisamos parar e voltar atrás e então recomeçar o caminho com novo entusiasmo e coragem. O profeta exalta a pequena cidade de Belém é pequena, desconhecida, mas é a “casa do pão”, e é de lá que precisa recomeçar o novo caminho de libertação, desta cidade vai sair o Messias, o Pão novo, Jesus que irá matar todas as fomes e consolar todos os sofredores. Jesus é a nova Belém, a casa do pão, e o mesmo pão, o novo Pastor que se preocupa com todas as ovelhas para que a ninguém falte sustento e amor.
Deus está cansado de sacrifícios
Você consegue imaginar que maravilha que é na véspera de Natal a Igreja nos propor como texto meditativo um trecho da Carta aos Hebreus, o teólogo, o místico do Novo Testamento que quer provar como Jesus é o esperado e a síntese da antiga e Nova Aliança? Na verdade, o autor é anônimo, sem nome, mas influencia a nossa vida e nos diz algo que devemos meditar bem. Não há maior sacrifício que fale de salvação e de amor de Deus do que a oferta do Seu único Filho Jesus, enviado ao mundo para realizar a pacificação com todas as coisas e com a humanidade. Uma paz que é possível pelas palavras do mesmo Jesus ao entrar no mundo: “eis-me aqui para fazer a tua vontade”.
Jesus veio, se fez carne, habitou entre nós e nos mostrou assim qual é caminho que devemos seguir para entrar no Céu: fazer a vontade do Pai. E qual é esta vontade? Amar, fazer o bem, ser oferta agradável, ser sacrifício sem mancha, este sacrifício novo, não é mais touros e cordeiros e pombas, mas sim o corpo sem defeito do mesmo Senhor Jesus. O Natal nos chama a oferecer a nós mesmos como presente a Deus, à imitação de Jesus, e a dizer com fé e confiança “eis-me aqui para
fazer a tua vontade”.
A bem-aventurança da fé
Quando estou muito feliz leio este texto do Evangelho e quando estou muito triste leio este texto, porque considero a bem-aventurança da fé autêntica, verdadeira, o cântico que precede o grande cântico do Magnificat, encontro de quem tem fé na força do Senhor. A fé de Isabel, que canta a fé da Virgem Maria e a fé de Maria, que canta a fé de Isabel, nós devemos reaprender o elogio da fé do outro e sentir-nos, cada um de nós, apoiado pela fé e pelo exemplo dos que caminham conosco. Caminhando juntos, o caminho se faz menos difícil e menos duro. É cantando e caminhando que as distâncias desaparecem. Sempre quando queremos superar as dificuldades cantamos a Deus e agradecemos.
A fé de Maria nos convida a colocar-nos a caminho para visitar os que necessitam de nossa ajuda, o que alegra como um presente o mesmo Jesus que trazemos no nosso coração. Maria vai feliz e com pressa, mas não tem pressa para voltar, vai ficar o tempo que é necessário para ajudar. A fé de Maria nos insere no mistério dos pobres de Javé, que esperam tudo do Senhor e de si mesmos, dando tudo o que tem, coragem, coisas, fé, caminhando juntos, nunca separados. É Natal. Vamos com Maria a visitar as “Isabéis” que esperam ajuda, e com Isabel saibamos agradecer às Marias que nos trazem Jesus. Façamos nossa orações com o primeiro capítulo de Lucas.