Ser feliz é desejo de todos. Nem sempre este ideal é alcançado logo. Os atrativos sensoriais e o bem-estar de uma vida prazerosa não são suficientes para tornar a pessoa plenamente realizada. Haja vista a realidade de quem tem tudo o que deseja, como prestígio, bens e prazeres dos mais variados. A propaganda consumista não apresenta, em geral, valores além do material.
Muitos até se abstêm do mais necessário para comprar o supérfluo. A vida modesta com o necessário para se ter e usar o suficiente para a vida digna nem sempre é pensada como um valor. A riqueza, boa em si, pode levar a pessoa a usá-la para o serviço à promoção do bem da comunidade. Nesse encaminhamento, o manuseio da riqueza leva a pessoa a utilizá-la não como finalidade e sim como meio para servir o semelhante.
Os prazeres, buscados comedidamente, dentro do sentido criado por Deus, levam as pessoas a conviverem consigo e os outros de modo respeitador de valores maiores. A posição social e mesmo as lideranças, exercidas com humildade e espírito de serviço, tornam as pessoas sabedoras de seu papel de administradoras das oportunidades para serem promotoras do bem comum.
A felicidade é possível, já neste mundo, para quem tem a sabedoria suficiente de perceber a relação de si com os outros, com o mundo e com Deus. Não somos donos absolutos de nós mesmos. Nossa dependência de ajuda, desde a concepção, mostra-nos a importância de sabermos nos relacionar com tudo. Quando a dependência se torna escravidão, principalmente de nosso egoísmo, a infelicidade é crescente. A escravidão dos vícios, dos prazeres, da matéria e da ambição nos tornam sempre aflitos e insaciáveis.
Isto é base para a tristeza e tanto tipo de estresse e até de depressão. Quanto mais soubermos viver no equilíbrio da dependência de Deus, mais nos tornamos livres. Ele é a fonte da libertação. Seus parâmetros ou orientações nos ajudam a encaminhar nossa vida e todas as coisas do modo melhor para conquistarmos a verdadeira liberdade. A experiência humana mostra isso.
Quanto mais independência e fuga de Deus mais o ser humano se torna escravo de si mesmo e das coisas sensíveis, a ponto de se colocar num beco sem saída para a plena realização de si mesmo. Jesus nos mostra o caminho mais adequado para a felicidade. “Felizes os pobres em espírito… Felizes os aflitos… Felizes os mansos… Felizes os que têm fome e sede de justiça… Felizes os misericordiosos… Felizes os puros de coração… Felizes os que promovem a paz… Felizes os que são perseguidos por causa da justiça… Felizes sois vós quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 3-12).
É tão bom convivermos com pessoas felizes de verdade! Sabem tratar as pessoas, principalmente os pobres, com amor, procurando sempre promovê-las. Sua sinceridade comove. Sua humildade é referência de humanidade. Sua vida familiar é uma felicidade para todos. Sua fé é admirável. Sua colaboração com a comunidade é comovente. Sua capacidade de diálogo provoca o bem-estar entre todos. Sua santidade invade o convívio com os outros!
*Dom José Alberto Moura, 64 anos, é Arcebispo Metropolitano de Montes Claros (MG) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral (CEP) para o Diálogo Ecumênico e Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Fonte: CNBB