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Frei Patrício: Quem não é missionário não é cristão

O cristão mergulhado no Batismo de Jesus, consagrado e ungido por ele, assume toda a vida de Jesus na medida do possível, e um aspecto da encarnação é a missionariedade.

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A Palavra de Deus nos coloca sempre com as costas contra a parede e nos obriga a dar uma resposta positiva ou negativa. Ninguém, diante de Jesus, pode ficar por muito tempo em cima do muro. Vivemos num mundo social e religioso, onde parece sempre mais difícil tomar decisões que tenham caráter definitivo.

Há um medo terrível de pronunciar a palavra sempre, seja no matrimônio, na vida religiosa, no sacerdócio, e mesmo para a vida. Estas teorias da chamada morte feliz, a eutanásia, suicídio assistido… posso compreender que em determinados momentos de dor, de doença se possa invocar a morte. É normal. Mas não se pode aceitar que isso seja apoiado por pessoas que têm sentido humano, fraterno e cristão.

Viver, mesmo numa cama doente, é sempre melhor do que a morte, e Deus ama a vida. Ele nos dá a força para caminhar para a porta da morte, que nos introduz no paraíso, quando o Senhor da história e da vida nos abrirá a porta. Mas eu queria tocar um tema que me parece importante: a missionariedade.

O cristão mergulhado no Batismo de Jesus, consagrado e ungido por ele, assume toda a vida de Jesus na medida do possível, e um aspecto da encarnação é a missionariedade. Por que Jesus se fez carne, veio entre nós? Não por turismo e nem para viver sem compromisso. “Vim trazer o fogo e quero que este fogo incendei a terra, vim para servir, vim para anunciar a liberdade, a vista aos cegos, a saúde aos doentes, o perdão e a misericórdia, especialmente”.

Não podemos esquecer que o mesmo Jesus, antes de voltar para o céu, para o seio do Pai, de onde tinha vindo, ele mesmo nos dá uma ordem clara: Ide pelo mundo afora a pregar o Evangelho e fazer discípulos. Esta é uma missão a qual não podemos fugir, devemos assumir. Quem se diz cristão deve sentir-se enviado a ser missionário.

Uma igreja que não é missionária nega a sua vocação.

O Papa Francisco nos convida diariamente a sermos missionários nas três vertentes.

1. O anúncio com a palavra: falar de Jesus, mesmo que os outros não queiram escutar, devemos anunciar, sempre, sem agressividade, sem triunfalismo, com amor, com respeito pelas outras religiões, mas calar sim é pecado.

2. O anúncio do Evangelho com gestos que são a revelação da fé, da caridade, do amor, do perdão, da solidariedade, sem distinção de pessoas é a melhor maneira para que os outros, vendo as boas obras dos cristãos, glorifiquem Pai do céu.

3. O anúncio do Evangelho com a oração. A força da oração é o fermento da videira da missionariedade. É com esse caminho que o Evangelho se vai estender pelo mundo afora. Tu és cristão, tu és missionário.

Maldito x Bendito

São duas palavras muito usadas na Bíblia, me parece que a encontramos em todos os livros da Bíblia, essas palavras têm um sentido forte e designam quem segue Deus e quem não segue Deus. É claro que Deus não amaldiçoa ninguém, mas qual é a identidade do maldito e do bendito? Maldito, ou seja, sem benção é o ser humano que não confia em Deus e coloca a sua confiança só nas coisas humanas.

Poderá até prosperar aqui na terra, mas não na vida eterna….

É como cardo no deserto, seco e sem alegria… Sem Deus não podemos fazer nada e não somos nada. Infelizmente vivemos colocando mais confiança no dinheiro do que na providência. Eu mesmo, muitas vezes, me surpreendo com isso e tento reconverter-me.

Bendito o homem feliz, que coloca a sua certeza em Deus e sabe que Ele é o pastor que nos conduz sempre por caminhos que às vezes não conhecemos. O homem bendito “é como a árvore plantada na margem das águas correntes: dá fruto na época própria, sua folhagem não murchará jamais. Tudo o que empreende prospera” (Sl 1,3-4).

Não há caminho do meio; ou com Deus o sem Deus. Cabe a nós a escolha.

E se não existisse a vida eterna?

Essa dúvida perturbou também o coração do apóstolo Paulo e de muitos féis de Corinto, e Paulo sentiu a necessidade de dar uma resposta clara, cheia de esperança. Ele é consciente da autenticidade da sua pregação. Jesus Cristo ressuscitou. Ele apareceu a tantas pessoas e por último a Paulo mesmo. Por que tem por aí pessoas que gostam de fazer confusão na cabeça e no coração dizendo que Jesus não ressuscitou? Tinha ontem, tem hoje e terá amanhã… Paulo reconhece que quem não acredita na ressurreição de Jesus é um ser humano fracassado, desesperado aqui na terra. Só a ressurreição nos dá força e coragem. Sem a certeza da ressurreição somos as pessoas mais dignas de compaixão.

Hoje em dia existem tantas ideias contra a fé, que nem quero saber, não me fazem perder a fé, mas me perturbam. Quando do vejo pessoas que querem, depois da morte, espalhar suas cinzas pelas florestas, pelos rios, quase negando a ressurreição, fico triste. Eu repito muitas vezes ao dia: “creio na vida eterna e na ressurreição dos mortos”. Mas, como será isso? Isso não é meu problema. É problema de Deus, e o que para mim é impossível para ele é possível. 

Ser missionário das bem-aventuranças

Sem dúvida, uma das pregações mais belas que Jesus fez foi a das bem-aventuranças. Gosto imensamente do estilo de Lucas, que coloca as bem-aventuranças como via de seguimento do povo de Deus. É tempo de assumir com coragem a nossa missionariedade cara a cara, sem medo de ficarmos sozinhos, de abrir novos horizontes, onde Jesus deve ser sempre o ideal de toda a nossa vida. É através do lento processo de conversão que somos libertos de nossos pecados e capazes, uma vez libertos, de libertar os outros. O melhor projeto de santidade é o das bem-aventuranças.

Por fim, fiquemos com as palavras do Papa Francisco: “A força do testemunho dos santos consiste em viver as bem-aventuranças e a regra de comportamento do juízo final. São poucas palavras, simples, mas práticas e válidas para todos, porque o cristianismo está feito  principalmente para ser praticado e, se é também objeto de reflexão, isso só tem valor quando nos ajuda a viver o Evangelho na vida diária. Recomendo vivamente que se leia, com frequência, estes grandes textos bíblicos, que sejam recordados, que se reze com eles, que se procure encarná-los. Far-nos-ão bem, tornar-nos-ão genuinamente felizes”. (Gaudete et Exsultate, 109).


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