Fazem mais ou menos 15 anos que entendi melhor o sentido misterioso e amoroso da Eucaristia e cada dia que passa este sacramento me atrai e me seduz mais, pela sua beleza e pelo seu conteúdo. É Jesus que se faz presente entre nós no seu corpo e sangue. É a presença do Verbo que, em forma diferente, permanece entre nós e fixa sua morada no nosso coração.
O povo se aproximava de Jesus para lhe pedir pão, saúde, milagres, curas de doenças do corpo e do espírito, mas nunca ninguém se aproximou de Jesus para lhe dizer: “Deixa-nos o teu corpo e sangue”. O amor não se pede, ele se dá livre e gratuitamente e, na medida em que se ama, não se quer deixar coisas, mas a própria vida.
Corpo e sangue
Jesus, na sua loucura de amor pelo homem, procurando um “dom” para nos deixar antes de partir, viu que nada poderia ser maior e melhor que o seu corpo e sangue. Na semana santa somos arrebatados por este mistério que a Igreja nos convida a celebrar dentro de um gesto simples, de amor e de humildade, o lava-pés, onde o Senhor Jesus se faz para nós gesto de amor e de serviço e nos convida a fazer o mesmo, se queremos ser felizes.
A plenitude da felicidade que tanto procuramos está no próprio dom de si: “Não há maior amor do que dar a vida por aquele que se ama”. A última páscoa de Jesus celebrada antes de sua morte foi “dramática”. Ele quis mostrar, através de gestos e palavras, que era chegada a sua “hora” e por isso nos recorda como a última ceia foi “desejada ardentemente por Ele”. E quis dar a esta celebração um sentido novo, de uma aliança que nada e ninguém poderia romper.
De onde surgiu a Eucaristia?
A Eucaristia surgiu do coração de Jesus e somente pode ser compreendida pelo caminho do coração, do amor, do dom de si. A ceia nos recorda intimidade, amizade, diálogo, partilha, onde tudo é colocado na mesa. Assim Jesus nos fala do seu amor para conosco e também do desamor que tinha entrado no coração de Judas, que tramou a traição por um punhado de moedas. O dinheiro, com seu poder, destrói o amor, a gratuidade e nos faz produtos de venda e vendedores dos valores mais sagrados, como a amizade, o amor, a fidelidade. A Eucaristia, vista com os olhos do amor, não pode ser um gesto isolado, vivido uma única vez, necessita ser celebrado constantemente para tornar novamente presente e vivo entre nós o mesmo Cristo, fonte e finalidade de toda celebração.
A Eucaristia é “fonte e cume” de toda liturgia e de nossa fé. Cristo nos mandou celebrar esta última ceia como “memória viva e perene”. O Papa João Paulo II, na sua encíclica “Igreja da Eucaristia”, como mestre sábio, nos toma pela mão e nos conduz a reviver este mistério nos recordando como, desde o início, ela foi celebrada no seio da comunidade e como Maria participava com amor imenso e intenso das primeiras eucaristias celebradas por Pedro, João, Tiago…
Ação de graças
A memória do Senhor no sacramento do seu corpo e sangue foi, ao longo dos séculos, assumindo vários nomes que permanecem até hoje e nos evocam a vida do mesmo Jesus, dom do Pai à humanidade. É bom nos lembrar que a palavra Eucaristia, já presente na comunidade apostólica, significa “dar graças, bendizer, louvar a Deus” pelo dom do seu Filho Jesus Cristo. Tudo na Eucaristia é agradecimento, louvor, adoração. Mas também a Eucaristia é chamada, a partir do texto dos Atos dos Apóstolos 2,42-47, “fração do pão”, palavras que nos recordam os discípulos de Emaús que reconheceram Jesus “ao partir o pão”. Era o gesto tão especial, próprio e familiar que tantas vezes tinham visto Jesus fazer e que por isso não podiam se enganar.
No repartir o pão da Eucaristia manifestamos toda a nossa unidade e amor. Os místicos nos recordam que “reparte-se o pão, mas não se reparte Cristo, que permanece todo e intacto em todos os mínimos fragmentos da hóstia consagrada”. Daí surge a exigência de receber com carinho e com amor a hóstia consagrada que é presença de Jesus. O amor nos faz atenciosos e compenetrados na presença do Amado. Quem come o corpo de Cristo e bebe o seu sangue, diz Agostinho, torna-se Cristo.
Mais tarde, a Eucaristia começou também a se chamar “missa”, que quer dizer “missão”. Todos os que participavam desta memória de Jesus tornavam-se também enviados e mensageiros do mesmo Senhor Jesus, que continua em cada celebração a nos enviar a sermos apóstolos do amor. Os nossos olhos não vêem, mas o amor e a fé nos transmitem a segurança da presença do Senhor: “Neste pão está escondida a fonte da vida”. Santa Teresinha, com seu amor simples de criança, nos diz: “Sempre que comungo recebo na minha alma um beijo de Cristo e dou um beijo na alma de Cristo”. Não amar a Eucaristia, não se sentir atraído por ela, e não sentir saudade de receber e estar com Jesus é, no mínimo, uma falta de amor pelo Amigo de todos os amigos.
Frei Patrício Sciadini, OCD