Por Prof. Alessandro Lima.
1. Introdução
No dia 03 de Outubro de 2006, foi publicado no Veritatis Splendor o artigo “Quem São os ‘irmãos’ de Jesus” (http://www.veritatis.com.br/article/3974) de minha autoria. O mesmo artigo também teve publicação no sítio católico Universo Católico em 16 de Outubro de 2006 como o título “Quem seriam os “irmãos de Jesus”? O referido artigo foi mencionado e comentado em uma lista protestante de orientação batista-fundamentalista(2). Este comentário (1) realizado pelo sr. Hélio de Meneses Silva (também fundador da mesma lista) foi publicado no dia 15 de fevereiro de 2007 e é objeto de nosso presente artigo.
2. Motivação
Este trabalho não é necessariamente uma tréplica à réplica apresentada pelo sr. Hélio, se é que podemos chamar de réplica o seu comentário ao meu artigo, que jugo se de péssimo gosto, não por discordar dos meus argumentos e da doutrina católica, mas por querer convencer o leitor não pela força dos argumentos, mas por questionamentos vagos movidos por juízos de valor denunciados pela forma desrespeitosa com a qual se refere aos meus argumentos. Por esta razão, nosso desejo não é necessariamente contra-argumentar em todos os pontos, nas nos pontos relevantes denunciando ao leitor os artifícios enganadores usados pela apologética protestante no Brasil.
3. Minhas Observações
3.1. A questão da primogenitura de Cristo
No meu artigo (3) comento a objeção protestante em afirmar que Cristo teve outros irmãos porque é chamado de primogênito filho de Santa Maria (cf. Lc 2,7). Argumento dizendo que a palavra “primogênito” não se aplica somente a um primeiro filho, mas também a filhos únicos (cf. Num 3,40; Ex. 11,5; 12,29-30). Desta forma concluo que o termo não é suficiente para se afirmar a existência de outros irmãos de sangue de Jesus.
O sr. Hélio contra-argumenta (1) afirmando que Deus assim se expressou em relação ao primeiro filho pois é normal que casais jovens venham a ter outros filhos. Veja:
“Quando um casal jovem e saudável tem o primeiro filho, faz sentido dizer que ele é o primo-gênito (primeiro-nascido, primeiro-entre-os-vários-nascidos), porque é normal e esperado que eles ainda venham a ter outros filhos. Assim, no instante em que se referiu aos “primogênitos varões entre os israelitas, da idade de um mês para cima” (Num 3:40), Deus, uma vez que estava falando sobre os primeiros filhos de mulheres bem jovens, usa as palavras normalmente usadas pelo povo. Mas, quando o Evangelho de Mateus foi escrito, em torno do ano 37 d.C., quando Jesus já estava morto e Maria provavelmente já estava na menopausa e muito provavelmente já estava viúva, então, se a cinquentona Maria somente tivesse tido um filho, o uso normal da linguagem teria sido a palavra uni-gênito (único nascido, filho único), e não primo-gênito.”
3.1.1 A Etimologia da palavra “primogênito”
O sr. Hélio além de pretender conhecer os pensamentos de Deus, e a idade dos israelitas que estavam no Egito no tempo do cativeiro, sofisma ignorando a etimologia da palavra “primogênito”.
A palavra “primogênito” vem do latim “primogenitis” ou “primogenitum” (primo=primeiro, genitus/genitum=gerado ou nascido). Desta forma, um filho único não deixa de ser primogênito porque não possui outros irmãos. Nosso contendor fundamentalista quer aplicar uma dependência ao significado da palavra que simplesmente não existe, seja na sua etimologia ou seja no sentido bíblico.
Segundo o sr. Hélio, Cristo deveria ser chamado de unigênito se realmente fosse filho único de Sua Mãe. Se nos orientarmos por esta idéia, São João Batista não pode ser considerado filho único de Izabel e Zacarias, pois não é chamado de filho unigênito do casal. Alguém poderia objetar dizendo que a Sagrada Escritura dá testemunho que Izabel gerou somente João Batista, tornando desnecessário o uso do adjetivo. E por acaso o mesmo não ocorre com Maria?
3.1.2 O adjetivo “unigênito” e seu emprego na Sagrada Escritura
O adjetivo “unigênito” (“monogenes” no grego bíblico) é aplicado na Sagrada Escritura somente no NT e em pouquíssimas nove passagens (Lc 7,12; 8,42; 9,38; Jo 1,14; 1,18; 3,16; 3,18; Hb 11,17; 1Jo 4,9). Nas primeiras três, Lucas registra a filiação única de um enfermo ou morto para que possamos entender o sofrimento dos pais que estavam perdendo toda sua prole. Em todas as demais, o adjetivo é utilizado com o fim de mostrar que só Jesus é Filho de Deus, segundo a natureza divina, eliminando a possibilidade de outros possíveis Filhos de Deus segundo a natureza divina. Como se vê o uso de “unigênito” não é comum e foi empregado em circunstâncias bem específicas.
3.1.3 A “Regra de Ouro” do sr. D.L. Cooper
Ainda segundo o sr. Hélio, quando lermos “primogênito” deveríamos aplicar o sentido comum, segundo a “regra de ouro” do sr. D.L.Cooper:
“Quando o sentido simples da Escritura faz senso comum, não procure nenhum outro sentido; portanto, tome cada palavra no seu significado literal – usual – ordinário – primário (a não ser que os fatos do contexto imediato, estudados à luz de passagens relacionadas e de verdades axiomáticas e fundamentais, claramente indiquem o contrário)”.
Primeiro, devemos lembrar ao nosso contendor fundamentalista que “Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação pessoal. Porque jamais uma profecia foi proferida por efeito de uma vontade humana. Homens inspirados pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus” (2 Pd 1,20-21). Portanto, as regras de exegese bíblica podem nos ajudar a sondar o verdadeiro sentido da Escritura, mas não é nada conclusivo já que este conhecimento depende da revelação do Espírito Santo.
Segundo, as palavras utilizadas pelo escritor sagrado muitas vezes possuem significado diverso daquele que é empregado em nosso tempo, devido à própria estrutura da língua bíblica e suas expressões. Veja se aplicarmos a “regra de ouro” que o sr. Hélio nos recomenda em Gn 13,8 deveríamos entender que Labão é irmão de Abraão. No entanto é seu sobrinho (cf. Gn 11,27). Ou ainda deveríamos entender que Cristo em Lc 14,26 e Jo 12,25 está nos mandando odiar nossa família para seguirmos o Evangelho. Como na linguagem semítica (hebraico e aramaico) não há superlativo, o verbo “odiar” foi usado para indicar que aquilo que “não se odeia” é preferível ao que “se odeia”.
Como se vê, a “regra de ouro” que o sr. Hélio adota para entender a Escritura não é tão dourada assim, não é mesmo? Acrescentando a isto, o sr. Hélio coloca suas próprias idéias como senso comum, pois só na sua cabeça “primogênito” é o primeiro de muitos filhos, quando quer dizer apenas o primeiro.
3.1.4 O primogênito do Faraó
No meu artigo (3) argumento que segundo a Tradição o Faraó irmão de Moisés só tinha um único filho e que a Escritura se refere a ele como filho primogênito. Neste meu argumento tento demonstrar mais uma vez que um filho pode ser primogênito sem precisar ter outros irmãos.
O sr. Hélio depois de levantar falso testemunho contra a Tradição Católica e ainda sem apresentar provas, recorre a um terceiro que afirma: “segundo Merrill Unger (Arqueologia do Velho Testamento, p.72), o faraó que teria sucedido ao Faraó do Êxodo (muito provavelmente este foi Amenotepe II – que reinou entre 1450-1425 A.C., segundo evidências cronológicas que o próprio autor apresenta) não era o único filho, conforme afirma a errônea tradição católica!”.
Como sabemos, não podemos tomar como certeza algo que esteja no campo do “muito provavelmente”. Eles tomam algo que ainda está no campo da pesquisa para lançar acusações gratuitas à Tradição Católica.
Devemos afirmar que outros estudiosos (4) do tema discordam da opinião do Prof. Merril. É o caso do Prof. Larry Richards que em um de seus trabalhos (5) nos informa:
“O antigo inimigo de Moisés, Tutmés III, estava morto. O novo faraó, Amenotepe II, tinha cerca de 22 anos quando foi confrontado por Moisés, com oitenta anos na época. Quando os dois se encontraram, o contraste foi além da idade. Houve também confronto de estilos de vida e de atitudes: um conflito entre mansidão e orgulho. Moisés estivera quarenta anos no Egito, onde aprendera a ser alguém. Durante os quarenta anos no deserto, aprendera a ser um ninguém. Agora Deus estava para mostrar o que é capaz de fazer com alguém que esteja disposta a ser um ninguém”.
Como vemos, para o Prof. Richards, Amenotep não é um filho do faraó que enfrentou Moisés, mas é o próprio.
Mais uma vez o sr. Hélio toma como verdade suprema opiniões muito questionáveis. Aliás, toda opinião devido à sua natureza subjetiva não pode jamais ser tomada como algo indiscutível.
Ainda que o faraó que enfrentou Moisés tivesse sido sucedido por um outro herdeiro seu (o que até me parece muito razoável), nada impede que este outro herdeiro tenha nascido depois da morte de seu primogênito. Afinal, o faraó continuou vivo e casado, com toda a possibilidade para gerar outros filhos. Portanto a existência de um outro herdeiro também não é fato conclusivo para se afirmar que o primogênito referido no Êxodo não era filho único.
3.1.5 “Primogênito” pode ser também “Unigênito”
Um outro exemplo de que a Bíblia não aplica as orientações do sr. Hélio está aqui: “Tu lhe dirás: assim fala o Senhor: Israel é meu filho primogênito.” (Ex 4,22). Estas palavras fazem parte das orientações que Deus mandou Moisés dar ao Faraó a fim de libertar o povo de Israel do cativeiro. Agora pergunto, naquele tempo existia alguma outra nação na Terra que era chamada e escolhida por Deus como um filho? Alguém poderia dizer que Deus estava considerando a futura conversão dos povos pagãos, que então seriam filhos subseqüentes. Entretanto, com o Advento do Cristianismo, não existe Israel e a Igreja, mas todos que crêem no Evangelho, seja judeu ou pagão são chamados a constituir um único povo santo (cf. Rm 10,12; Gl 3,28; Cl 3,11).
O próprio Cristo que é o Filho Único de Deus, também é chamado primogênito: “E novamente, ao introduzir o seu Primogênito na terra, diz: Todos os anjos de Deus o adorem” (Hb 1,6; ver Sl 96,7). Com efeito, Cristo é chamado primogênito em outras passagens do NT (cf. Rm 8,9; Cl 1,18; Ap 1,5) como referência de que Jesus foi o primeiro homem a receber a vitória sobre a Morte. No entanto, este não é o sentido aplicado em Hb 1,6 que se refere somente à filiação divina de Cristo em relação ao Pai.
Temos provas suficientes que filhos “unigênitos” também podem ser chamados de “primogênitos”. As especulações do sr. Hélio não servem para se concluir que somente pode ser chamado “primogênito” um filho que tenha ou que venha a ter outros irmãos.
Toda esta discussão não serve para provar se a Mãe de Jesus teve ou não outros filhos. O que queremos mostrar é que o adjetivo “primogênito” adotado na filiação de Cristo em relação à Sua Mãe, não é conclusivo para se afirmar que ele teve outros irmãos de sangue.
Aqui queremos que o leitor note como a apologética do sr. Hélio de Meneses que transformar suas opiniões pessoais em verdades indiscutíveis, além de querer utilizar “regras exegéticas” bem questionáveis…
3.2 Expressões temporais na Escritura
No meu artigo (3) comento que a expressão “até que” utilizada em Mt 1,25 não pode ser usada para se concluir que José teve relações com Maria após o nascimento de Jesus. Lá lemos: “José não conheceu Maria [não teve relações com ela] até que ela desse à luz um filho”.
Escrevo sobre vários exemplos em que as expressões “até que”, “até” ou “enquanto” são usadas na Escritura para referenciar um ato passado e não um ato no futuro, pois esta é uma construção própria da linguagem semita.
Mas o sr. Hélio em vez procurar provar meu possível erro por outros exemplos da Escritura ou até questionando os exemplos citados, fugiu pela tangente apresentando suas próprias idéias, como se elas fossem mais verdadeiras que a construção da linguagem bíblica. Veja um trecho de seu comentário:
“[…]Não precisamos de nenhum pseudo eruditismo em grego (nem em nada) para responder, basta o bom senso comum a qualquer linguagem de qualquer povo: Quando eu falo sobre uma coisa normal (como beber água, marido e esposa se unirem no sexo, etc) e digo que ela NÃO foi feita até um certo instante, fica implícito que foi feita depois disso […]”.
Para o nosso contendor fundamentalista, a expressão “até que” foi utilizada por Mateus não para dar ênfase ao milagre da concepção e nascimento divinos de Cristo, mas para dizer que José teve relações sexuais com Maria. Agora pense o leitor com toda sinceridade, o que era mais significativo apresentar aos cristãos: a certeza de que Cristo é Deus ou que Sua Mãe após seu nascimento teve relações com José?
Devemos lembrar que era comum que as jovens judias fizessem votos que poderiam ser mantidos mesmo depois do casamento com o conhecimento e consentimento do noivo (ver Nm 30). Através de escritos históricos contemporâneos dos evangelhos (9), temos a informação de que Maria Santíssima fez votos de virgindade.
Note o leitor que quando o Anjo faz o anúncio da concepção de Jesus, Santa Maria já estava desposada com José (cf. Lc 1,27), isto é, ela já estava casada com ele ou estava para se casar. Por que então ela se surpreende ao saber que ficará grávida (cf. Lc 1,34) se fosse ter relações sexuais com José?
3.3 “Irmãos” na Sagrada Escritura
No meu artigo também me refiro ao fato de que na linguagem semita, a palavra “irmãos” ou “irmãs” também podem se referir a parentes próximos e, portanto não se pode afirmar que os intitulados “irmãos” de Jesus sejam irmãos de sangue como pretende a tese protestante.
O sr. Hélio de Meneses assim contra-argumenta:
“Ué, mas todos os versos que existem sobre os irmãos de Jesus são do Novo Testamento, em grego, e aqui existe uma palavra perfeita para primo e para prima, que é usada, por exemplo, em Luc 1:36 ‘E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril;’ É Deus o verdadeiro autor de cada palavra da Bíblia, Ele está escrevendo em grego e o domina melhor que ninguém, Ele não usou a palavra primo e sim irmão, por que, com que finalidades vocês querem torcer as palavras gregas de Deus???”.
O “exegeta” Hélio de Meneses talvez parece desconhecer que a palavra grega “suggenes” utilizada em Lc 1,36 não significa primo ou prima, mas parente, membro da mesma família, clã ou nação. É a mesma palavra usada em Mc 6,4; Lc 1,58 e Rm 9,3 só para citar alguns exemplos.
Das versões mais conhecidas em língua portuguesa, somente a Almedia Corrigida e Fiel traduziu “suggenes” como prima. Todas as outras (sejam católicas ou protestantes) traduziram como parenta.
Até mesmo as principais versões inglesas, KJV (King James Version) e a NIV (New International Version) traduziram “suggenes” como “kin”, “cousin” ou variações (“kinwoman”, “kinsfolk” e etc) que significam parente ou membro de um mesmo povo.
A palavra grega que mais se aproxima de primo ou prima é “anepsios”, que no NT só é empregada em Cl 4,10. E mesmo assim tem sentido mais geral.
3.4 O semitismo na linguagem bíblica
O sr. Hélio também parece desconhecer o fato de que a linguagem bíblica, seja ela no hebraico, aramaico, grego, latim, português, inglês e etc, se orienta pela concepção semítica do eterno e terreno, o que se reflete logicamente na linguagem. Mesmo o AT, que foi todo traduzido para o Grego (versão conhecida por Septuaginta ou LXX (10), que por acaso o nosso contendor crê que ela não existiu…) usou a palavra grega “adelphos” (irmão em português) para Ló que era sobrinho de Abrão, quando poderia ter usado “suggenes” ou “kin”. Será que os escribas da LXX não sabiam de tudo isto?
Além disso, os escritores dos Evangelhos e Epístolas sempre tinham em mente as palavras hebraicas, mesmo quando escreviam em grego. Isto vale principalmente para São Paulo. Há uma forte evidência de que São Lucas, em certos pontos, estava traduzindo documentos semíticos com grande cuidado. A LXX, para Mal 1, 2-3, traduz: “Eu amei Jacó e odiei Esaú”. São Paulo, em Rm 9, 13, cita exatamente da mesma forma que a tradução grega. Ainda que os tradutores da LXX conhecessem o hebraico e o grego – e assim também Paulo – utilizaram um modo muito estranho de se expressar em grego, quando poderiam usar “Eu amei mais Jacó que Exaú”.
Outro exemplo, São Paulo, em 1Tes 4, 5 diz que os gentios “não conhecem a Deus”. Ele usa o termo “conhecer” no sentido do hebraico “yada”, um termo amplo que significa conhecer e amar. Com efeito, não são raras as vezes em que podemos afirmar que certa palavra hebraica encontrava-se na mente de São Paulo, que se expressava em grego.
Desta forma, não importa em que língua antiga as Escrituras foram escritas. Mesmo no grego, a estrutura da linguagem é semítica.
3.5 A Carta de São Paulo aos Gálatas
Em Gl 1,19 São Paulo se refere a um Tiago, como irmão de Jesus (“adelphos”). Digo no meu artigo que este mesmo Tiago é referido como um dos apóstolos, portanto não poderia ter sido um irmão de sangue do Senhor, já que os Tiagos apóstolos, um é filho de Alfeu e o outro de Zebedeu.
Transcreverei versículo segundo as mais conhecidas traduções protestantes em português:
“E não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Almeida Corrigida e Fiel).
“Mas não vi a nenhum outro dos apóstolos, senão a Tiago, irmão do Senhor” (Almeida Atualizada).
Vejam agora as principais traduções protestantes em inglês:
“But other of the apostles saw I none, save James the Lord’s brother” (American Standard Version, 1901 e King James Version). Tradução: “Mas dos outros apóstolos não vi nenhum, salvo Tiago irmão do Senhor”.
Mas o sr. Hélio diz que a tradução correta é “E não vi nenhum outro dos apóstolos, mas vi Tiago, o irmão do Senhor”.
Qual seria a razão de São Paulo citar um “irmão” de Jesus totalmente fora do contexto? Por acaso este suposto “irmão” de Jesus que segundo o sr. fundamentalista não era apóstolo era alguma personalidade relevante no seio da Igreja para se citado de forma tão abrupta?
Em Gl 2,9 há fortes indícios de que este mesmo Tiago é referido como uma das colunas da Igreja, junto com Cefas (Pedro) e João.
Mas o sr. Hélio de Meneses quer que acreditamos que sua “tradução” seja preferível a de especialistas no assunto. O Embuste é notório! Já que a Verdade não lhe corrobora, então ele cria uma.
3.6 O Testemunho Histórico de Rufino e Eusébio
Devemos reconhecer que indícios não são provas, mas ajudam a encontrá-las. Por esta razão, os textos bíblicos de Gl 1,19 e Gl 2,0 não são suficientes para afirmarmos que São Paulo se refere ao mesmo Tiago. Para isto precisaríamos do testemunho de pessoas que viveram no tempo dos apóstolos, ou que tiveram a oportunidade de colher informações sobre aquele tempo.
Este é o caso de Rufino e Eusébio, que historiadores da Igreja Primitiva, tiveram a oportunidade de colher informações de outras fontes sobre as personalidades apostólicas (principalmente de Fílon de Alexandria, Sócrates, Heracles, Pápias e Júlio Africano).
O sr. Hélio tenta desqualificar a prova apresentada com a afirmação de que Eusébio e Rufino não foram inspirados pelo Espírito Santo. Ora, será que o sr. Hélio consideram inspirados pelo Espírito Santo as decisões do Sínodo de Jâmnia que restringiram em 90 d.C (em plena Era Cristã!) os livros do sagrados em 66 excluindo, os deuterocanônicos e todo o NT? Será que ele também considera como inspirado pelo Espírito Santo, o historiador judeu Flávio Josefo (séc. I) que afirma que a revelação de Israel acabou no tempo do prof. Esdras enquanto Cristo diz que foi até João Batista (cf. Lc 16,16)? Se ele for coerente com suas afirmações então deve considerar, já que se fundamenta nestas fontes para justificar a mutilação que os protestantes fizeram à Bíblia no séc. XVII.
Um documento histórico não precisa que seu autor seja inspirado para comunicar a Verdade, caso contrário deveríamos considerar como inspirados Pero Vaz de Caminha, Rui Barbosa e outros.
Os registros de Eusébio e Rufino são históricos e não tratados teológicos. Ainda que fossem tratados teológicos, os mesmos não precisam ser inspirados para comunicarem a Verdade, basta que sejam coerentes com ela.
Se Rufino e Eusébio escreveram ou não inspirados pelo Espírito Santo, isto não abona e nem desabona seus respectivos testemunhos históricos. Porém, (até que alguém prove o contrário) merecem crédito por terem sido pessoas próximas ao tempo dos Apóstolos e terem tido acesso a escritos de historiadores mais antigos, escritos estes que não chegaram até o nosso tempo.
Enquanto o sr. Hélio nega que Tiago (filho de Alfeu) foi primo de Cristo, baseando-se em conjecturas, nós temos a nosso favor testemunhos históricos que confiram este parentesco. Em resumo ele apresenta como prova o subjetivo e eu o objetivo. A quem se deve dar a razão?
4. Conclusão
Conforme o leitor pode observar, esta é mais uma prova do tipo de apologética que os protestantes se prestam a fazer. Por que não apresentam argumentos sólidos, com fundamentos acadêmico, histórico ou científico? Por que não contra-argumentam de forma sóbria e elegante?
O motivo é claro. Quem não tem razão tem mais é que apresentar argumentos mais do que subjetivos, tentar a todo custo desqualificar evidências objetivas, dizer que o contendor é um tolo para baixo e seus argumentos são ridículos. E foi exatamente isso que o sr. Hélio fez em sua “refutação” (melhor dizer reclamação!).
Embora a Escritura seja materialmente suficiente, ela não o é formalmente. Significa que toda Verdade está na Escritura (suficiência material), mas a Escritura não é suficiente para demonstrar toda Verdade (insuficiência formal). Por exemplo, na Escritura podemos encontrar a instituição do Batismo, mas não podemos apenas por ela provar se batismo deve ou não ser ministrado às crianças.
Devemos lembrar que o testemunho comum dos Pais da Igreja é de que Jesus não teve outros irmãos de sangue. Tal é o testemunho de Pápias (6), Jerônimo (7), Agostinho e Basílio Magno (8) e tantos outros (Efrém da Síria, Ambrósio de Milão, Epifânio de Salamina, João Crisóstomo, São Cirilo de Alexandria, Idelfonso de Toledo e João Damasceno). Não foi diferente com os Pais da Reforma (11).
Caso a Mãe de Jesus não tivesse permanecido Virgem até a morte, não teria sido venerada como a “Sempre Virgem” nas liturgias da Igreja Primitiva desde o séc. II (12).
Notas
(1) http://br.groups.yahoo.com/group/solascripturatt/message/2525.
(2) Acreditam que somente o texto da Tradução Tradicional (TT) contém o verdadeiro texto sagrado das Escrituras.
(3) “Quem São os ‘irmãos’ de Jesus”. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/3974.
(4) Bíblia de estudo indutivo (São Paulo: Editora Vida, 1997), 86. http://www.metodistalondrina.com/santidadebiblica/exodo.htm; http://www.caditaguai.com.br/conteudo/estudos/arquivos/pentateuco.pdf
(5) Unger, Merril H. Arqueologia do Velho Testamento. Editora Batista Regular. São Paulo: 1980. p 72.
(6) Pápias de Hierápolis – Outros Fragmentos. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/330.
(7) Da Virgindade Perpétua de Maria. http://www.veritatis.com.br/article/3688.
(8) pud Gregory Alastruey, Tratado da Virgem Santíssima, BAC, Madri, 1952, p. 36.
(9) Proto-Evangelho de Tiago em Apócrifos e Pseudo-epígrafos da Bíblia. Editora Novo Século. São Paulo: 2004.
(10) Tradução da LXX para o inglês. Disponível em http://www.ecmarsh.com/lxx/
(11) Os Reformadores Protestantes e Maria. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/54
(12) Maria, Sempre Virgem. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/3876.
Fonte: www.veritatis.com.br