O eminente biólogo Francis Collins, coordenador do grandioso projeto Genoma Humano, escreveu um livro (“Linguagem de Deus”), no qual demonstra que Ciência e Deus não se excluem. Em entrevista foi lhe perguntado se a fé religiosa ainda se justifica, tendo em vista tantas atrocidades que foram praticadas em nome de Deus. As respostas de Collins foram muito boas. Mas eu também quero entrar na conversa, e esticar um pouco o arrazoado. Considero que o mundo de hoje merece uma resposta explicativa. E da nossa parte o esforço pela busca da paz duradoura deve ser incansável.
Tenho para mim que uma das piores chagas da humanidade é o fanatismo, seja de que espécie for (inclusive o religioso). Ser fanático é deixar o raciocínio, e abandonar-se aos impulsos agressivos. É falta de capacidade de ver as razões do outro lado. Já as Escrituras nos advertem de que devemos “oferecer a Deus um obséquio racional” (Rom 12, 1). Todos conhecem a crueldade do fanatismo político, capaz das maiores injustiças, e de abrir feridas de difícil cicatrização. No decurso da história a maioria dos conflitos armados – também nos dias atuais – tem como fonte venenosa o ódio que se aninha nos corações fanáticos. O fanatismo religioso também é um perigo, que devemos evitar a todo custo. Houve, no decorrer da história, inúmeras guerras de cunho nitidamente religioso, expressões perfeitas de fanatismo. Não queremos excluir dessa classificação nem as Cruzadas.
Mas daí a generalizar que a fé religiosa é que provoca as guerras, vai um passo enorme. Pode chegar a ser uma afirmação irracional, que beira ao fanatismo. Peguemos alguns exemplos aleatórios: guerra do Paraguai, guerras napoleônicas, as duas grandes guerras mundiais, guerra do Iraque…Todos são conflitos que tem como motivação a hegemonia política ou comercial. Então, vamos devagar. São Paulo rechaçou as acusações contra os cristãos: “Quem acusará os eleitos de Deus?” (Rom 8, 33). Por acaso, nesse caldeirão de religiões que é o Brasil, existe o mais mínimo esboço de enfrentamento? Cuidemos todos para que o bem triunfe pelo diálogo, pela caridade fraterna, pelo reconhecimento dos próprios erros. A misericórdia é mais poderosa do que a justiça. “Justiça e paz se abraçarão” (Sl 85, 10). Sem apelar para a guerra, diga-se.
Dom Aloísio Roque Oppermann scj