Formação

Redescobrir o próprio batismo

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Raniero Cantalamessa

 

“Naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galiléia, efoi batizado por João no Jordão. Enquanto saiu da água, viu que os céus serasgavam e que o Espírito, em forma de pomba, baixava sobre ele. E ouviu-se umavoz que vinha dos céus: ‘Tu és meu Filho amado, em ti me comprazo’.”

Será que Jesus precisava, também Ele, ser batizadocomo nós? Certamente não. Ele quis, com aquele gesto, mostrar que se haviafeito um de nós em tudo. Sobretudo queria pôr termo ao batismo de “água” einaugurar o do “Espírito”. No Jordão, não foi a água que santificou Jesus, masJesus que santificou a água. Não só a água do Jordão, mas a de todos osbatistérios do mundo.

A festa do Batismo de Jesus é a ocasião para refletirsobre o nosso batismo. Uma pergunta que freqüentemente as pessoas fazem acercado batismo é: Por que batizar as crianças pequenas? Por que não esperar quesejam maiores e decidam por si mesmas livremente? É uma questão séria, mas podeocultar um engano. Ao procriar um filho e dar-lhe a vida, será que os pais lhepedem antes a permissão? Convencidos de que a vida é um dom imenso, supõemjustamente que a criança um dia lhes estará agradecida por isso. Não se pedepermissão a uma pessoa quando se trata de dar-lhe um dom, e o batismo éessencialmente isto: o dom da vida dado ao homem pelos méritos de Cristo.

É claro que tudo isto supõe que os pais sejam elesmesmos crentes e tenham intenção de ajudar a criança a desenvolver o dom da fé.A Igreja lhes reconhece uma competência decisiva neste campo e não quer que umacriança seja batizada contra a vontade deles.

Ninguém, portanto, diz hoje que, pelo simples fato denão ser batizado, será condenado e irá ao inferno. As crianças falecidas sembatismo, assim como as pessoas que viveram, sem culpa sua, fora da Igreja,podem salvar-se (estas últimas, entende-se, vivem segundo ditames de suaprópria consciência). Esqueçamos a idéia do limbo como o lugar sem alegria esem tristeza no qual acabariam as crianças não batizadas. A sorte das criançasnão batizadas não é diferente da dos Santos Inocentes que celebramos justodepois do Natal. O motivo disso é que Deus é amor e “quer que todos se salvem”,e Cristo morreu também por eles!

Distinto é, ao contrário, o caso de quem descuida dereceber o batismo só por preguiça ou indiferença, ainda advertindo talvez, nofundo de sua consciência, sua importância e necessidade. Neste caso, conservatoda sua seriedade a palavra de Jesus: só “quem crer e for batizado, será salvo”(cf. Mc 16,16). Cada vez mais há pessoas em nossa sociedade que por diversosmotivos não foram batizadas na infância. Existe o risco de que cresçam eninguém decida nada, nem em um sentido nem em outro. Os pais não seocupam mais disso porque pensam que já não é sua tarefa; os filhos porque têmoutras coisas em que pensar, e também porque não entrou ainda na mentalidadecomum que uma pessoa deva tomar, ela mesma, a iniciativa de batizar-se.

Para sair ao encontro desta situação, a Igreja dámuita importância atualmente à chamada “iniciação cristã dos adultos”. Estaoferece ao jovem ou ao adulto sem batismo a ocasião de formar-se, preparar-se edecidir com toda liberdade. É necessário superar a idéia de que o batismo éalgo só para crianças. O batismo expressa seu significado pleno precisamentequando é querido e decidido pessoalmente, como uma adesão livre e consciente aCristo e a sua Igreja, ainda que não diminua em absoluto a validez e o dom querepresenta ser batizado ainda criança, pelos motivos que expliquei acima.Pessoalmente, estou agradecido a meus pais por terem me batizado nos primeirosdias de vida. Não é a mesma coisa viver a infância e a juventude sem graçasantificante!


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