Dom Luiz Demétrio Valentini
Oque mais falta no Natal é reflexão. Se parássemos para pensar um pouco,perceberíamos melhor o seu significado. E nos daríamos conta de quantoo mistério da encarnação ilumina a humanidade. De tal modo que onascimento do Menino Jesus, em Belém de Judá, confere sentido a “todohomem que vem a este mundo”.
OEvangelho observa, com perspicácia, que a primeira reação de Maria,diante da proposta do anjo Gabriel, foi pensar. “Maria começou a pensarqual seria o significado daquela saudação” (Lc 1,29).
Começar a pensar é, portanto, a primeira recomendação do Natal.
TambémJosé fez a mesma coisa. Ele também se pôs a pensar. Enquanto mergulhavanos seus pensamentos, pôde compreender a missão que o Senhor lheconfiava. Sem pensar, não teria se colocado em sintonia com a vontadede Deus, que o convidava a assumir uma missão que empenharia porinteiro sua vida, e lhe daria uma dignidade inesperada.
Depoisdo nascimento de Jesus, Maria continuou a pensar. “Maria guardava todasestas coisas, meditando-as no seu coração.” (Lc 2,19).
Aencarnação do Filho de Deus é um fato que transcende as circunstânciashistóricas em que ela aconteceu. Seu significado vai além dasingularidade das pessoas diretamente envolvidas no cenário históricodo acontecimento de Belém.
ComoMaria, também somos convidados a continuar pensando no seusignificado. Para dar-nos conta de como o mistério de Deus, que assumea natureza humana, repercute em toda a humanidade. De tal modo que todacriança, em qualquer época, em qualquer lugar, em qualquer povo, emqualquer cultura, de qualquer raça, todo nascimento, todos os sereshumanos, são agora assumidos por Deus, e carregam uma dignidade nova,que lhes é conferida pelo fato de Deus ter assumido nossa condiçãohumana, pela encarnação do seu Filho.
Ascircunstâncias históricas do nascimento de Jesus são contingentes etransitórias. O fato fundamental é o mistério de encarnação, cujosignificado permanece, desafiando nossa inteligência.
E´ preciso resgatar o alcance universal do mistério da encarnação. Erelativizar as contingências históricas em que ele se deu. Para nãoaprisioná-lo dentro destas circunstâncias, impedindo que ele possa serapropriado por todos os povos, em todos os tempos.
Ofato do Filho de Deus ter nascido em determinado país e em determinadopovo, não o torna propriedade exclusiva de tal povo ou de tal lugar. Opróprio Jesus fez questão de se desvencilhar das amarras de Nazaré e deseus familiares, para se sentir à vontade entre aqueles que acolhiam amensagem transcendente que ele anunciava.
Elemesmo, quando adulto, não deu importância a Belém, o lugar onde tinhanascido. Ficava tão perto de Jerusalém, bem que podia ter passado porlá, e mostrado aos discípulos onde tinha nascido! A contrário, preferiu atravessar as fronteiras ao norte, sinalizando a destinaçãouniversal do seu Evangelho.
Depoisde dois mil anos, o Natal de Jesus nos faz procurar sua repercussão nemtanto na extensão geográfica de sua Igreja. Mas na profundidade docompromisso de Deus com a humanidade, simbolizado pela encarnação doseu Filho.
Pensandobem, os fatos de Belém ainda nos convidam à meditação. Para entendermoscomo a encarnação de Deus, acontecida plenamente em Jesus, repercute emtodos os nascidos, não só em Belém, mas em Pequim também. E em todacriatura humana, em qualquer época e em qualquer lugar deste mundo.