O Ano Novo sempre traz um sabor agridoce. Você sente o gostinho amargo de 2020 misturado à doce esperança de que 2021 seja melhor. Dessa vez, a gente não esperou dezembro chegar para refletir sobre a vida, a pandemia empurrou todo mundo desse precipício. Em queda livre, apenas certos das incertezas, refletimos sobre o significado da vida, sobre as nossas prioridades e sobre a nossa total impotência. Estar vivo em dezembro é um privilégio, mas ele chegou muito antes para todos nós.
Nada como tropeçar na finitude da nossa existência para buscarmos o Infinito. Se 2020 provou alguma coisa, foi que o aviso de “frágil” não vem somente em caixas com produtos delicados, mas também em cada ser humano.
Entre o pânico e a ansiedade, a gente dava uma puxada de ar para tentar respirar, porque até a respiração, ato realizado regularmente pelo nosso corpo, tornou-se privilégio para alguns. O pulmão de milhares de pessoas ao redor do mundo parou… os nossos ficaram assustados com a possibilidade de terem o mesmo destino…
A ansiedade fez todo mundo “tremer nas bases” e nos deu uma amostra de como nos sentiríamos se o ar realmente nos faltasse. Finalmente o fôlego soprado em nossas narinas tornou-se tão valioso quanto o tempo perdido com individualismos e vaidades. Cada manhã em que o cheiro do café era inalado era uma vitória. A gratidão apressou-se em fazer as malas e em morar em nosso coração. A simplicidade do cotidiano e os detalhes que perdíamos por estar sempre correndo começaram a saltar aos nossos olhos. O canto dos pássaros, o sol aparecendo por detrás das cortinas de nuvens… tudo ganhou um grande valor.
A impressão que eu tenho é que a pandemia foi o divisor de águas que precisávamos para fazer cair as escamas da pressa e da desvalorização daquilo que realmente importa.
A nossa vida poderia ter acabado em 2020. Se sobrevivemos, foi apenas pela misericórdia do Senhor. Se ela não tivesse nos consumido, nós teríamos sido consumidos. O medo de partir revelou o quanto estamos envolvidos com as coisas desta terra. Para a nossa vergonha, constatamos que o nosso tesouro era qualquer coisa, menos o próprio Cristo. Se assim fosse, a alegria que “infecta” o nosso corpo ao estamos com Ele iria se replicar como um vírus e dominar os nossos corações. Mas porque Deus é bom, Ele tratou os nossos olhos como a lente de uma câmera de alto valor, e reajustou o nosso foco. Purificados, vamos enfim recomeçar.
2020 foi um lembrete da brevidade dos nossos dias. E mesmo que tenha sido um ano agridoce, Deus fez todos os 365 dias valerem a pena e mostrou a sua soberania sobre cada um de nós, deixando bem claro que temos uma missão e que, morrendo ou vivendo, a nossa meta deve ser o próprio Cristo.
Meu desejo nestes últimos dias do ano, é que você não gaste tempo fazendo uma lista de metas totalmente centradas em você mesmo em 2021, mas que você invista tempo em seu relacionamento com Deus e com o próximo. E que assim como o Senhor mudou minha oração desde que a pandemia chegou, que Ele também mude a sua. “Senhor, não me deixe ser inútil”, foi o que Ele me levou a dizer. E nada é mais inútil do que uma vida focada em si mesma.
Que em 2021 o medo não lhe prenda às coisas dessa terra, mas que ele seja substituído pela esperança de estar com Cristo e de poder contar tudo como perda. Que você não fique triste ao se esbarrar com as amargas mazelas temporárias deste mundo (as quais você não controla), mas que sorria ao pensar na doce alegria que a eternidade lhe trará.
Um 2021 com gosto de Céu.
Vanilton Lima
Missionário da Comunidade Shalom