Uma das verdades bíblicas mais consoladoras é a certeza absoluta da ressurreição dos mortos. Ratificando o que está no Antigo Testamento, Cristo proclamou: “Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor de ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’. Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele” (Lc 20,37-38). Afirmou também: "Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá" (Jo 11,25). A ressurreição de Jesus, fato atestado pelos que conviveram com Ele, foi alicerce da Igreja nascente:"Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. Em todos eles era grande a graça" (At 4, 33)
O agir escatológico de Deus era o fundamento da fé pascal. A ressurreição dos mortos implica o reconhecimento de um Senhor Onipotente absolutamente livre distinto do mundo que tem capacidade de trazer à vida todos que passaram pelo vale da morte. É uma expressão magnífica do poder divino. O Ser Supremo que salva os mortos é também o único que pode justificar o pecador, conforme deixou bem claro o Apóstolo Paulo, falando do “Deus que dá vida aos mortos e chama à existência as coisas que estão no nada” (Rm 4,17). Estas palavras fazem eco ao se lê no profeta Jeremias: "Ah! Senhor Javé, fostes vós que fizestes o céu e a terra com a força de vosso braço. Nada vos é impossível" (Jr 32,17). Eis aí a coerência do dogma da ressurreição. O Todo-Poderoso atua na história e na corporalidade, de tal maneira que o mundo por ele criado se torna o lugar da realização de seu senhorio que vence as forças da decomposição corporal do homem. Deus salva em plenitude aqueles pelos quais Cristo se sacrificou, deixando na sua vitória sobre a morte o penhor do triunfo humano sobre esta pena resultante do pecado original.
A ressurreição, um dia, dos que morreram, será a coroação da obra salvífica do Redentor, a irrupção definitiva da ação salvadora para um mundo que Ele libertou. Há de ser o capítulo final da virada histórica iniciada com a Encarnação do Filho de Deus. Apenas dentro de uma cristologia assim aprofundada é que se encontra a explicação desta verdade, vislumbrada longinquamente pela filosofia, mas afirmada solenemente pela teologia, fundamentada em textos bíblicos inegáveis.
Ao se falar da ressurreição cumpre não fixar a idéia do corpo físico, mas sim da pessoa que com ele se identificou e permaneceu em comunicação com o mundo. Eis o que ensinou São Paulo: “Uma é a claridade do sol, outra a claridade da lua e outra a claridade das estrelas; e, ainda, uma estrela difere da outra na claridade. Assim também é a ressurreição dos mortos. Semeado na corrupção, o corpo ressuscita incorruptível; semeado no desprezo, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita vigoroso; semeado corpo animal, ressuscita corpo espiritual. Se há um corpo animal, também há um espiritual (1Cor 15,41-44). O Pai que implantou terminantemente o seu domínio com o triunfo de Cristo sobre a morte prolonga nos seres humanos por ele resgatados este seu império que se torna universal. É certo que uns ressuscitarão, gozando as delícias da Jerusalém celeste, outros, porém, para a punição perene de suas obras más. Cumpre, então, refletir sempre as palavras de Santo Agostinho: “Aquele que te criou sem ti, não te salvará sem ti”.
Os meios para uma ressurreição gloriosa foram oferecidos por Jesus, a saber, sua doutrina que precisa ser sempre meditada e praticada, sua presença no sacramento da Eucaristia, a renovação incruenta de seu sacrifício na Missa, a comunhão fraterna com o próximo. A união contínua com o Ressuscitado, o vivo sempre presente entre os homens, é que robustece a vida divina, participada através da graça santificante. Com Ele todas as forças malignas são vencidas nesta luta dramática entre o bem e o mal. Por meio das amarguras terrenas, às quais o cristão dá uma aplicação transcendental, se percebe a força da ressurreição do Divino Mestre. Asseverou São Paulo “Anseio pelo conhecimento de Cristo e do poder da sua Ressurreição, pela participação em seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na morte, com a esperança de conseguir a ressurreição dentre os mortos (Fl 3,10). Cumpre, contudo, uma conversão contínua que conduzirá a um final feliz na trajetória neste mundo.
A fé na ressurreição ilumina de tal modo a vida do batizado que se torna o sinal brilhante do que ocorrerá no fim dos tempos.