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Robert Ian: Ex-protestante

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Por Robert Ian WilliamsTradução: Carlos Martins Nabeto

 

A IGREJA E O PROFESSOR

 

“Como você pôde fazer isto? É serio mesmo a sua conversão?Você agora idolatra Maria? Como você pode contar os seus segredos mais íntimosa outro homem na confissão? Por que você se converteu? Como você pode aceitarensinamentos que não se encontram na Bíblia?”

 

Estas são algumas perguntas que tenho recebido desde que fuirecepcionado na Igreja Católica. À medida que vão passando os anos, têm setornado mais freqüentes desde que decidi colocar os fatos no papel parainformar os curiosos. Espero que este pequeno resumo ajude os católicos aentender a mentalidade “evangélica” e também ajude os evangélicos a pensar umpouco sobre o problema central que jaz no coração deste assunto: a autoridade.

 

Minha filiação à Igreja Católica não foi uma conversãopaulina, como a ocorrida no caminho de Damasco. Embora seja certo que Deus podefazer coisas assim, meu caminho para a fé romana foi uma experiência educativae gradual. A conversão é, em suma, um assunto espiritual, porém, muitos fatorespodem contribuir para que ocorra. Meu desagrado pela confusão em que se encontraa cristandade evangélica foi o ponto de partida. Creio que foi a graça de Deusque me permitiu discernir a debilidade desse sistema religioso.

 

Mas antes que a minha insatisfação se fizesse sentir, estavaeu muito feliz no Cristianismo evangélico. Confiava em Cristo, acreditava queos meus pecados seriam perdoados e pensava que conhecia os Evangelhos e o NovoTestamento. Pensava também que todas as demais religiões estavam erradas e viaa Igreja Católica como uma igreja apóstata, cheia de corrupção medieval, queobscurecia o Evangelho para a ruína das almas. Estava convencido que a Palavrade Deus na Bíblia era a única autoridade para o crente (Sola Scriptura) e queeu era justificado apenas por minha fé e nada mais que a minha fé (Sola Fide).Estes eram para mim os principais lemas da batalha da Reforma. Quandoencontrava algum católico, ia logo mostrando a “verdade” e tentava levá-los aoconhecimento de Cristo. Eu era tão anticatólico que me negava a orar na capelaexistente na universidade onde dava aula. Sabia que a União Evangélica Cristãbuscava converter os católicos e pensava, então, que todo assunto católico eranada mais que pura hipocrisia.

 

Porém, a graça de Deus começava a operar em meu coração.Tudo começou com o tema do batismo. Os cristãos evangélicos estão bastantedivididos a este respeito. Alguns aceitam o batismo de crianças e outros crêemque o batismo é apenas para o crente adulto. Estudei os fatos e não encontreinenhuma referência explícita ao batismo de crianças no Novo Testamento; assim,decidi investigar quanto tinha sido inserida esta prática entre os cristãos.Será que poderia remontar aos tempos dos Apóstolos ou tinha se infiltrado naIgreja durante os primeiros séculos? Ao seu tempo, descobri que o batismo decrianças era claramente apoiado pelo registro histórico. Se tivesse sido umainovação, deveria então existir algum protesto contra a sua introdução naIgreja. Não pude encontrar nem um só grupo cristão anterior ao século XVI querejeitasse o batismo das crianças. E até descobri que estes primeiros cristãosbatistas apenas aspergiam a cabeça do adulto ao batizá-lo. Achei que a imersão(que também era um ponto importante para alguns evangélicos) não tinha sidoiniciado até o século XVII. Descobri, então, que as igrejas batistas eramfrágeis quanto ao rigor e a continuidade histórica.

 

Assim, rejeitei o batismo “apenas para adultos”. Para mim,isto era uma parte crucial da verdade e comecei a tentar convencer osevangélicos batistas agora que tinha conhecimento do erro de suas crenças.Alguns me disseram que eu estava obcecado por um assunto de importânciasecundária. Isto me chocou! Como poderia um mandamento solene de Jesus Cristoser considerado como de importância secundária? Fiquei assombrado quando orenomado líder evangélico Martyn Lloyd-Jones, em seu livro “What Is anEvangelical?” (”O que é um Evangélico?”) comentou sobre o assunto da desuniãodas igrejas evangélicas, dizendo: “Outro assunto que devemos pôr na mesmacategoria é a idade e o modo do batismo: a idade do candidato e o modo deadministrar o rito do batismo. Devo pôr, então, na categoria das coisas que nãosão essenciais porque não se pode provar nem um nem outro usando apenas asEscrituras. Lí livros sobre o tema durante 44 anos e creio que sei menos agorado que sabia no começo. Portanto, enquanto afirmo – junto com todos nós – quecreio no batismo, porque é evidentemente uma ordem de Deus, não devemos nosseparar no que tange à idade do candidato e ao modo de administrá-lo”.

 

Aqui temos um homem que, crendo na autoridade da Bíblia comoúnica condutora do crente, não pôde estabelecer o padrão bíblico para oBatismo. Isto é o que eu chamo de “aprender e não chegar ao conhecimento daverdade”. Ironicamente, na mesma obra, Lloyd-Jones ensina a suficiência daEscritura e que o Evangelicalismo é muito mais claro em sua lógica que oCatolicismo! Isto me fez olhar para outras discordâncias que existem entre osevangélicos. Se fossem apenas assuntos secundários, não haveria a necessidadede criar denominações separadas, cada qual esgrimando diferentes teorias para oretorno do Senhor, para o significado da Ceia do Senhor, se o crente pode ounão pode perder a sua salvação, ou as disputas sobre os dons carismáticos. Alista é longa.

 

A minha formação acadêmica é a de historiador e, como tal,me concentrei na História da Igreja. Não pude deixar de me assombrar quando vique não podia encontrar nem um só registro do cristianismo evangélico na Igrejaanterior ao século XVI. Nem mesmo os valdenses e os seguidores de Wyclif tinhamidéia da salvação apenas pela fé. Ambos os grupos participavam dos sacramentosda Igreja Católica e passaram como movimentos de reforma dentro da Igreja e nãocomo igrejas separadas. Nenhum dos Padres da Igreja pregou a salvação somentepela fé. O próprio Wyclif morreu enquanto participava de uma missa, sem ter sidobatizado como crente e contente com seu batismo católico que recebera quandocriança!

 

A teoria de que a conversão do imperador romano Constantinono século IV deu início à corrupção da Igreja é ainda mais inacreditável.Descobrí que a Igreja primitiva cria no batismo das crianças, na regeneraçãopelo batismo, nos bispos, na sucessão apostólica, na presença de Cristo naEucaristia, no sacerdócio sacrificial, nas orações pelos falecidos e de umpapel todo especial do bispo de Roma. Tudo isto se encontra claramente séculosantes de Constantino. Nas palavras do Cardeal Newman, “quem adentra naHistória, deixa de ser protestante”. Não pude achar um só registro dosevangélicos bíblicos, um grupinho de fiéis que se apegaram às crenças quecaracterizam os evangélicos de hoje: somente a Bíblia e justificação apenaspela fé. O tratamento evangélico para a História da Igreja é superficial: nosfala de pessoas como Ambrósio, Agostinho e Atanásio como se fossem cristãos queapenas empregavam a Bíblia, ignorando completamente o contexto católico em queeles viveram. Classifico isto como intelectualmente desonesto.

 

Descobrí que a história dos evangélicos está assentada sobremitos. A Igreja Católica – me afirmavam – tinha queimado as cópias da Bíblia.Pelo contrário, comprovei que a Igreja Católica preservou a Bíblia, definindo oseu cânon e só queimou e proibiu a leitura das edições que eram traduçõesinexatas e heréticas. Por exemplo, Bíblias como a tradução de Tyndale, queostentava notas de rodapé atacando a Igreja e o Papa. Também descobrí versõestraduzidas para os idiomas vernáculos vários anos antes da reforma alemã. OsEvangelhos foram traduzidos para o anglo-saxão muito antes que o idioma inglêsfosse formado!

 

Também descobrí que o famoso “Livro dos Mártires”, de JohnFox, um católico apóstata do século XVI, era impreciso. Muitos dos “martires”durante o reinado de Maria Tudor eram anti-ortodoxos, tendo sido queimadosdurante o reinado da rainha Isabel, que era protestante. De fato, Fox apoiou umregime que torturou e assassinou católicos que apenas queriam viver na fé dosseus antepassados. Apoiou também um regime que queimou cristãos evangélicoscomo os batistas! Foram cristãos protestantes os que perseguiram os pais doPuritanismo na Inglaterra do século XIX e esse grupo, por sua vez, jáestabelecido na América, passou a perseguir os seus próprios companheiros defé.

 

Eu tinha aceito a falsa idéia perpetuada por Lloyd-Jones eoutros mestres evangélicos, que os católicos crêem na revelação contínua.Descobrí que, muito pelo contrário, a doutrina católica ensina que a revelaçãopública terminou com o que receberam os Apóstolos e que a fé foi entregue deuma vez aos santos. É dever da Igreja, como “coluna e fundamento da verdade”(1Timóteo 3,15), a interpretação e o discernimento do depósito original da fé.A Igreja Católica não inventou a transubstanciação no século XII, nem inventouo dogma trinitário no século IV. Como evangélico, fiquei perplexo ao meencontrar na mesma situação dos Testemunhas de Jeová que afirmam que a palavra“Trindade” não se encontra na Bíblia. Eu imaginava que a doutrina estivesse alie o termo simplesmente a definia. Porém, acabava tendo por problema o fato denão poder usar este argumento para discutir a questão do Purgatório com um católico.Eu acabava respondendo que o caso do Purgatória não podia ser definidoclaramente. Mas esta era uma resposta bastante deficiente pois erasubjetivamente evangélica. Além disso, Lutero, Calvino, Wesley e uma certaquantidade de outros reformistas “enxergavam” o batismo das crianças, enquantoque Spurgeon, Billy Graham e muitos outros não o encontravam na Bíblia. Oensinamento católico era mais lógico: Deus estabeleceu uma Igreja como árbitrofinal e não pode ela ser culpada pela confusão. O desenvolvimento da doutrina écomo a revelação de um filme fotográfico: a imagem está no filme, mas à medidaque o tempo e as circunstâncias mudam, a imagem se torna mais visível.

 

Não pude encontrar um só texto que afirmasse que apenas aBíblia era suficiente. A famosa passagem que afirma que a Escritura é útil(2Timóteo 3,16) significa claramente que é um apoio, não que seja suficiente.Assim como é útil para mim beber água regularmente, mas não é suficiente como aalimentação completa. Não pude encontrar um só versículo que ensinasse que aPalavra de Deus deveria ser exclusivamente a palavra escrita. Mas encontreiJesus honrando as tradições da fé judaica de sua comunidade, que não seencontravam na Escritura; sua condenação das falsas interpretações dastradições feitas pelos fariseus não era uma condenação da tradição em si mesma,já que a Igreja que Ele fundou sobre os Apóstolos aceitou tanto as tradiçõesescritas [Escrituras] quanto as orais.

 

Nesse momento decidi reexaminar a minha crença em Cristo. Seria possívelalguém ter sido enganado? Seria possível que Cristo fosse um falso Messias?Depois de todos os judeus O terem negado, poderia o povo mais brilhante edurador do mundo ter se equivocado? Portanto, comecei a ler apologética judaicacontrária ao Cristianismo, que centrava seus ataques principalmente afirmandoque as profecias sobre o Messias não tinham se cumprido; afirma ainda que Jesusnunca declarou ser Deus e que os seguidores gentios acrescentaram “conceitospagãos” como o nascimento virginal e a Encarnação. Isto me fascinava porque separecia muito com as acusações que os anticatólicos fazem, dizendo que essasmesmas coisas são acréscimos pagãos. Passei a ver isto como a culminâncialógica da teoria evangélica: se o Paganismo contaminou o Cristianismo, entãocomo pode um ensinamento divino e permanente ser comparável à incorruptívelTorah? Outro livro anticristão me levou ainda mais para essa direção ao mequestionar: se a religião de Cristo é a verdade, por que existem tantas igrejascristãs diferentes? Assim enxerga o Cristianismo o intelectual judeu: como umfracasso.

 

Então voltei novamente a observar Cristo. Não poderiarejeitar sua divindade. Poderia ver que o Novo Testamento ensinava que Ele éDeus e isto não era um acréscimo pagão. O judaísmo moderno não é igual aojudaísmo da época de Nosso Senhor; é algo que se desenvolveu com o tempo e quetambém se dividiu em seitas. Inclusive, dentro do judaísmo ortodoxo háinterpretações rabínicas que estão em conflito. Continueime apegando fervorosamente à minha crença no Cristianismo “apenas com aBíblia”. A forma de vida e a comunidade evangélicas são muito acolhedoras e,para mim, os cultos católicos pareciam frios quando comparados. Ao mesmo tempo,me desiludia cada vez mais da apologética anticatólica. Livros como“Catolicismo Romano”, de Loraine Boettner (um clássico anticatólico),apresentavam grosseiras distorções da realidade da doutrina e história[católicas]. Lembro-me de ter lido um livro evangélico que ridicularizava adoutrina católica da intenção sacramental. Na verdade, ridicularizava uma márepresentação dessa doutrina. A interpretação evangélica clássica dos textospetrinos cruciais, como Mateus 16, fundamenta-se em uma visão defeituosa e,então, eu já podia vê-la claramente. O jogo de palavras entre “Petros” e“petra” era periférico, uma vez que Nosso Senhor falava aramaico. A maioria doseruditos evangélicos de hoje aceita a visão de que Pedro é a pedra e querecebeu as chaves da autoridade de uma maneira especial, pois assim como osantigos reis de Israel delegavam suas chaves de autoridade ao seu principalministro ou vizir, Jesus designou Pedro como seu representante ou vigário. Aschaves, em qualquer cultura civilizada, representam poder. Me dei conta quedistorciam os escritos dos Padres da Igreja para fazê-los harmonizar com seusargumentos anticatólicos.

 

Há algumas pessoas que propõem a idéia de que os Padres daIgreja estão em desacordo com a idéia de Pedro ser a pedra de que fala Mateus16. Um exame cuidadoso dos escritos patrísticos revela que se referem adiversos aspectos e significados das Escrituras; assim como uma casa éconstruída sobre uma série de alicerces, os escritores patrísticos observam osdiferentes sentidos da Escritura sem se contradizer em absoluto.

 

Ao contrário do que anunciava o mito evangélico, encontreiaí evidência histórica abundante para a presença de Pedro em Roma e oestabelecimento de seu Bispado. Ao ouvir Nosso Senhor dizer [a Pedro] que acarne e o sangue não lhe tinham revelado sua divindade, podemos ver o dom deDeus que é o Papado em sua forma embrionária. Me surpreendeu encontrar, jádesde o século I (quando o Apóstolo João ainda vivia), que o bispo de Romaescrevesse à igreja de Corinto, instruindo e advertindo seus membros que, senão considerassem o seu conselho, estariam em grave perigo. Com o passar dosséculos, a evidência do Papado aumenta. Então descobrí que havia respostasrazoáveis para as objeções evangélicas. Lembro-me muito bem do comentário quelí em um “livro de visitas” de certa igreja anglicana; foi escrito, obviamente,por um visitante católico e dizia: “Onde está Pedro, aí está a Igreja”. Essaspalavras que ficaram gravadas na minha mente, eram as palavras de Ambrósio,proferidas no século IV. A igreja angligana pode ter conservado os edifícioscatólicos erguidos antes da Reforma, porém, certamente, não conservou a antigafé. Apesar de sua “cara de Catolicismo”, a igreja anglicana do século XIX éprotestante. Isso se manifesta na ordenação de mulheres e outras aberrações quenela tomaram forma. O papel de Pedro chegou a estar tão claro para mim, que nemsequer conseguia considerar a pretensão das igrejas ortodoxas orientais de sera verdadeira Igreja de Cristo. Nessas igrejas (ou, melhor dizendo, nessascomunhões) pude apreciar uma formosa liturgia, mas também uma falta de clarezamagisterial. Por exemplo, até a década de 1930, as igrejas cristãs rejeitaramclaramente a anticoncepção como uma coisa instrinsicamente imoral. Em 1930, a igreja anglicana aaprovou e outras [igrejas] a seguiram a partir de então. Isso inclui osortodoxos, que também aceitam o divórico e as segundas núpcias. Apenas a IgrejaCatólica manteve uma posição firme nesses assuntos e isso sob o custo de perdera Inglaterra no século XVI.

 

Os ortodoxos abandonaram o sucessor de Pedro para se apegarao poder imperial de Constantinopla. Depositando sua confinça nos príncipes,colheram finalmente um fracasso. Enquanto todas estas coisas me indicavam, semsombra de dúvidas, que a pedra da Igreja Católica era firme, o liberalismo dealgumas pessoas dentro da Igreja me pertubava. Então, ao ler a parábola da casaconstruída sobre a pedra, me dei conta que a chuva e o vento a ferem também. Osexcêntricos e os dissidentes, porém, não podem demolir a casa; podem tirar-lhepedaços da pedra, mas não a pode destruir. Assim foi que descobrí,pararalelamente ao que ocorreu com Nosso Senhor, que a oposição se concentra emtrês áreas principais. Durante o ministério terrestre [de Jesus], asautoridades religiosas se horrorizaram diante:

 

1. Das suas declarações de ser Deus;

2. Do fato de que perdoava os pecados; e

3. De sua declaração que, para ter a vida eterna, deve-secomer de Seu Corpo e Sangue.

Tudo isto continua sendo a razão de uma oposição virulentaentre os evangélicos. Lembro-me muito bem que, quando era evangélico, ironizavao ensinamento católico da confissão a um sacerdote, da crença natransubstanciação, na Missa, na infalibilidade do papa e da Igreja. Lembro-mede ter refutado, afirmando que apenas Deus poderia ser infalível.

 

Meu exame cuidadoso das Escrituras me mostrou também que adoutrina católica sobre Maria se fundamenta na Palavra de Deus e não éimportada do Paganismo. O fato de os pagãos terem cultuado deusas não invalidaa crença em Maria, assim como o fato de os pagãos terem realizado sacrifíciosnão invalida os sacrifícios ordenados na Bíblia. Pude perceber que os católicosnão a adoram mais que os anglicanos adoram a Oliver Cromwell, quando estescolocam flores aos pés de sua estátua nos dias comemorativos.

 

A doutrina católica da comunhão dos santos chegou a ser paramim uma verdade estabelecida. Se “a oração do justo tem muito poder” entãoaqueles que morreram no Senhor, sendo espíritos perfeitos de homens justos,devem possuir um valor superlativo para nós. Isto é ilustrado perfeitamente emApocalipse 5, em que os 24 anciãos representam os santos que oferecem suasorações a Deus. Antes de ingressar na Igreja Católica, uma das últimas linhasde resistência evangélicas é levantar as vidas de certos católicos que sãobastante desastrosas. Essa objeção me foi dissipada ao ler Ronald Knox. Knoxfoi criado em um ambiente profundamente evangélico e logo se converteu aoCatolicismo. Uma vez disse que se ele esquecesse o guarda-chuva na entrada deum templo metodista, ao retornar encontrá-lo-ia ainda ali; porém, não seriapossível assegurar que o mesmo ocorreria em um templo católico. Os metodistasusaram muitas vezes esta frase a seu favor; contudo, na realidade, é umtestemunho contrário a eles. Cristo veio para salvar os pecadores e a rede daIgreja foi lançada para pescar todos os homens. A Igreja não é um clube paraleitores da Bíblia de classe média; a Igreja de Jesus Cristo é uma poçãomisturada e o erro dos reformistas foi acreditar que a Igreja deve ser composta100% pelos eleitos de Deus.

 

Nosso Senhor disse claramente que “muitos são chamados, maspoucos os escolhidos”. Ainda que seja certo que conheci alguns católicos bastantedesviados da fé, também é certo que a grande maioria dos católicos são pessoasde bem que querem viver a vida em conformidade com os ensinamentos da Igreja. Ofato de muitos católicos desobedecerem os ensinamentos da Igreja só confirma aspalavras de Nosso Senhor: “A quem mais se dá, mais lhe será exigido”. São oscatólicos os que terão um juízo mais severo, iniciado pela Casa de Deus, quandoo Senhor, no fim dos tempos, separar o trigo do joio.

 

Comecei a perceber que, tal como os fariseus do tempo de Jesus,os evangélicos tinham um ponto de vista superficial sobre a adoração de Jesus.Isto pode soar um pouco duro, mas de fato muitos cristãos “bíblicos” acumularamuma série de regras que condenam comportamentos certamente inofensivos, como sefossem anticristãos. Primeiro, se favorece a opinião de que ingerir algo épecado e logo se ensina que Jesus bebeu apenas suco de uva, e que o vinho domilagre de Caná não tinha teor alcóolico. A outro pode parecer que dançar éabominável. Pode-se escrever uma longa lista de costumes semelhantes. Háevangélicos que pensam que fumar é evidência de que alguém não é crente, masSpurgeon, comentarista batista do século XIX, fumava. Outros não jogam naloteria, mas investem seu dinheiro na bolsa. É quase impossível criar umestereótipo do crente evangélico, mas é possível dizer com segurança que agrande maioria aceita a anticoncepção. Pagam o dízimo de seu ganho a Deus (oevangelismo não custa barato a ninguém), mas não de seus corpos. Todo o sistemada “Sola Scriptura” é subjetivo. Foi-me contada uma história sobre uma senhoraa quem alguém perguntou se acreditava realmente que ela e seu empregado eram osúnicos cristãos, ao que ela respondeu: “Bom… Não estou muito segura se Jaimeé”.

 

Não estou sozinho, pois nos últimos anos muitos evangélicostradicionais converteram-se à fé católica. E o fizeram ainda que o caminho paraa Igreja estivesse bloqueado por falsas representações semeadas pela oposição.Isto é seguramente uma graça de Deus, pois sempre haverá oposição para aquelesque quiserem cumprir perfeitamente as palavras de Nosso Senhor. A oposiçãoprovém das forças do secularismo, do materialismo, do modernismo e de outrasfilosofias. Tudo isto rejeita os ensinamentos que são peculiares à IgrejaCatólica. A Igreja é a pedra pequena predita pelo profeta Daniel, que destruiráa falsa imagem. É a semente que cresce até se tornar uma forte árvore. É ocaminho que Isaías profetizou e que os homens não poderão deixar de encontrar.É a casa erguida sobre a rocha.

 

O Cardeal Herbert Vaughan (1832-1903) resumiu com palavrasmuito sábias o que usarei como corolário:

 

“É prática comum dos opositores da Igreja Católica tentarfrear as almas apresentando-lhes uma multidão de dificuldades e objeções contraas doutrinas da Igreja. Sobre isto, podemos dizer duas coisas: Primeiro, seriamuito fácil examinar esta lista de dificuldades e publicar um exame das mesmas,o que já foi feito por doutos católicos em grandes obras. Porém, é óbvio quepara contender com tais problemas, deveria ser um teólogo ou passar toda a vidapesquisando, já que é necessário refutar todas as acusações. Por outro lado,temos as obras dos escritores anticatólicos, escritas para cegar ou confundir ocaminho. Obras compostas por calúnias, citações adulteradas e uma misturacuidadosamente dosificada de erro e verdade. Tais [obras] tentam, ao mesmotempo, golpear e alienar tanto no sentido moral quanto no sentido intelectual.Se não conseguem total êxito assim, ao menos semeam perplexidade, ansiedade e oretardamento no caminho da busca de Deus. Porém, ao invés de ingressar em umlabirinto cheio de dificuldades e quebra-cabeças de objeções, a via mais curtae satisfatória deverá ser eleita. Primeiro, encontrar o divino mestre, o pastorsupremo, o vigário de Cristo. Concentre todas as suas faculdades mentais emorais na cabeça terrestre da Igreja de Deus. Essa é a chave para resolver estasituação”.

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Publicado originalmente em inglês na revista “This Rock”Vol. 9, nº 3 em março de 1998.

Robert Ian Williams, oriundo de Gales, é professor emLondres e publicou uma série de curtos tratados sobre a fé católica e suahistória.

 

WILLIAMS, Robert Ian. Apostolado Veritatis Splendor: ROBERTIAN WILLIAMS: EX-PROTESTANTE.


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