Shalom

Ronaldo Pereira foi uma torrente, que cumpriu em brevíssimo tempo os desígnios divinos

“A vida dele era como uma corrente, no sentido de alguém estar o tempo todo se dando, e se dando e se dando para os outros”, afirma Padre João Wilkes Chagas.

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No dia 17 de fevereiro de 2020, com grande louvor, celebramos os 25 anos da páscoa de Ronaldo Pereira da Silveira, primeiro consagrado da Comunidade de Vida a adentrar na eternidade.

Certa vez, o padre João Wilkes Chagas, missionário da Comunidade de Vida, referiu-se ao Ronaldo da seguinte forma: “A vida dele era como uma corrente, no sentido de alguém estar o tempo todo se dando, e se dando e se dando para os outros. E por isso é como a água corrente. Se ele fosse uma pessoa que se guardava para si, seria como água parada e aí os defeitos dele apareceriam. Mas como ele estava sempre se doando (…) pela doação total sua vida se transforma em água corrente”. 

“A vida dele era como uma corrente”. Esta frase me fez recordar de uma aula a respeito da geografia bíblica, na qual o professor citava o exemplo da torrente de Carit, mencionada no primeiro livro de Reis, donde Elias bebeu no tempo da grande seca enviada pelo Senhor: “A palavra do Senhor foi-lhe dirigida nestes termos: ‘Vai-te daqui, retira-te para o oriente e esconde-te na torrente de Carit, que está a leste do Jordão. Beberás da torrente, e ordenarei aos corvos que te deem lá alimento’” (I Rs 17, 2-4).

A torrente é um curso passageiro de água formado no tempo das chuvas na região de Israel. Aquela área é basicamente constituída de montanhas e vales, sendo uma terra em que predomina o clima árido e seco. O curso dessas correntes de água era traçado justamente pelos desfiladeiros e inclinações provenientes dos montes. No período chuvoso, a água se acumula no alto das montanhas e desce com força pelos vales, possibilitando que os habitantes da região por onde passam tenham uma quantidade de água suficiente para a sobrevivência durante o ano.

A vida do Ronaldo foi uma torrente

Foi exatamente assim a vida do Ronaldo: uma torrente. Não era uma corrente calma, tranquila, de movimento quase imperceptível. Não! Ronaldo tinha pressa em viver. A vida dele foi veloz, intensa, dinâmica, puro movimento. Uma corrente forte, que foi canal da água viva do Espírito Santo de Deus, a fim de saciar a sede de muitos ao seu redor.

Rocaia Dutra, que secretariou Ronaldo pelos últimos sete meses de sua vida, partilhou a respeito desta vitalidade: “Ele tinha essa energia, esse vigor. A gente queria ser igual a ele, a gente queria servir a Deus como ele servia, a gente queria ter a empolgação que ele tinha. (…) A gente queria imitá-lo porque ele era uma referência. Um jovem que servia a Deus, que deu a vida dele para Deus. A gente queria fazer igual. A história dele era referência”.

Quando uma torrente passa, ela arrasta muitas coisas consigo, gera vida, a paisagem ao seu redor é transformada. O que era seco, torna-se verde, revigora-se pela água que jorra em abundância, até que se encontra com o mar e, em sua imensidão, cumpre o destino do encontro com algo maior. Vem-me à memória a passagem de Isaías 43,19-21, tão cara e fundamental para a vocação Shalom: 

“Eis que vou fazer obra nova, a qual já surge: não a vedes? Vou abrir uma via pelo deserto, e fazer correr arroios pela estepe. Os animais selvagens me darão glória os chacais e as avestruzes, pois terei feito jorrar água no deserto, e correr arroios na estepe, para saciar a sede de meu povo, meu eleito; o povo, que formei para mim, contará meus feitos.”

A promessa, a obra nova do Senhor para nós, é como uma torrente, um arroio pela estepe, uma água que jorra na terra seca, um rio que corre como via pelo deserto, transformando tudo o que toca.  Ronaldo encarnou em sua vida esta profecia fundamental da nossa vocação de forma tão bela, radical e irrevogável, que fez do seu viver um anúncio explícito e fecundo do Novo que Deus quer realizar no mundo através do Carisma Shalom.

A vida humana é como um rio

Se pararmos para observar a hidrografia da terra, podemos constatar que a maior parte dos rios do planeta corre para o mar, uma pequena porção desemboca em lagos, lençóis freáticos e outros rios maiores, e somente um rio em toda a Terra deságua em um deserto. Trata-se do rio Okavango, que desemboca no Deserto da Namíbia. O padrão de normalidade, portanto, é que os rios ou torrentes deságuam no mar ou em porções de água maiores do que si mesmos. 

Podemos, assim, comparar a vida humana a este rio que corre em direção a algo maior: Deus e seu infinito mar de misericórdia. Deus nos criou em estado de caminhada, com a perfeição e beleza próprias, mas não acabados. A meta de nossa vida é o encontro com Ele. Uma das características essenciais de um rio é que ele sempre corre. Nunca é parado. Em alguns trechos, pode até ter um curso suave, quase imperceptível, mas nunca imóvel. A vida humana é como este rio porque nunca está parada, mesmo que aparentemente imóvel, continua a caminhar para Deus. Essa caminhada é o processo de conversão, que é o trabalho de uma vida inteira.

Assim aconteceu, pelos méritos divinos, com o Ronaldo. Sua vida correu como uma torrente, cumprindo em brevíssimo tempo os desígnios divinos para si como filho, irmão, amigo, ovelha, pastor, pai espiritual, batizado, consagrado, Shalom. Podemos concluir, portanto, que Ronaldo, com toda a radicalidade e intensidade próprias da juventude, desde cedo buscou incessantemente um sentido maior para sua vida, descobriu a alegria de pertencer inteiramente a Deus, trabalhou incansavelmente pela evangelização e, por fim, no tempo que lhe era devido, em dezessete de fevereiro de 1995, aos vinte e quatro anos, lançou-se nos braços de Deus, velozmente, como uma torrente que passa espalhando vida e, no fim, cumpre o seu curso, encontrando-se com o mar.

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