Perder para Ganhar! Acredito ser este o sentido maior que dá ao ser humano a capacidade não só de aceitar, como também de desejar as perdas ao longo da sua vida. Gosto sempre de lembrar o ato do nascimento, momento no qual o bebezinho “perde” o lugar que ocupou durante nove meses ou um pouco menos, para “ganhar” um novo lugar e novas experiências, para ganhar a luz, ganhar a vida. Ao que parece, esta “perda” é desejada com muito prazer, ainda que inconsciente, pois é bem claro que o útero já não lhe servia mais; começava a ficar apertado, com pouco líquido amniótico e o esforço do bebê para sair não é ilusão. Uma visão negativista tende a encarar o nascimento como o primeiro trauma do ser humano, sua primeira perda e o início das suas dores psíquicas. Prefiro aceitar um outro tipo de visão mais existencial, na qual o indivíduo perde para ganhar e este ganho é o que lhe dá sentido e realização plena.
Seria interessante e mais significativo se todas as nossas perdas também fossem desejadas ao invés de temidas… Algumas situações já não nos “cabem” mais; algumas pessoas precisam partir, pois aos olhos do Criador já cumpriram sua missão nesta vida; alguns comportamentos já não se ajustam à consciência; algumas tarefas já não possuem mais sentido (e alguns preferem perder o sentido a perder a tarefa: cuidado!!!).
Ao longo da vida, teremos uma série de outros nascimentos, e nesse processo de crescimento e amadurecimento não podemos deixar de conviver com diversas perdas. O que importa, no entanto, é o sentido que daremos a cada uma delas. A escolha por um sentido é o maior bem que alguém pode conquistar, pois ainda que a vida lhe “roube” o que consistia sua felicidade, dar a esta perda um sentido, é capaz de restituir – é claro que com uma outra face – a felicidade perdida.
Dizia a antiga filosofia grega: “A felicidade consiste em desejar o que se tem”. Existem situações de perda que só nos deixam, a princípio, o sentido a ser construído. E a construção do sentido começa quando se decide por ele, ou seja, quando é assumida a postura de olhar para a frente e seguir dizendo: “o que Deus está querendo me ensinar com essa perda?” Talvez você esteja diante da grande pérola da sua vida e não saiba…
Onde você coloca a maior ênfase da sua história pessoal: nas perdas ou nas conquistas?! Sua vida é marcada por aquilo que você perdeu, ou pelo que ganhou?! Tudo depende de onde colocamos o nosso coração: “Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração” (Lc 12,34). O que tem maior valor para você?!
Gosto muito das parábolas do tesouro escondido e da pérola encontrada, pois nos ajudam a refletir sobre o valor que damos a cada coisa. A escolha por um sentido é a escolha por um valor, como nos diz a parábola: “Um homem encontra um tesouro escondido no campo… cheio de alegria, vende tudo o que tem para comprar aquele campo” (Mc 13,44). Um homem encontra um valor, investe todas as suas forças, meios e bens para adquiri-lo, pois este valor dá sentido à sua vida.
Semelhante a essa história, encontramos muitas outras: “Um(a) jovem dá sua vida em serviço ao Reino, perde seu tempo, seus bens, sua família, seu lazer… para ganhar o Reino dos céus”. Ou ainda, “uma mulher perde seu emprego, seus projetos, para ganhar a boa educação dos seus filhos, ou a saúde e alguns anos de vida a mais dos seus pais enfermos”… Enfim, pessoas que aceitaram com alegria perder para ganhar.
Sou levada a crer que a melhor maneira de ser feliz é perder muito! Como é preciso amar muito, sofrer muito, perdoar muito, chorar muito, plantar muito, colher muito… Mas é preciso perder com uma grande e séria alegria íntima, com vontade, com inteligência, e é preciso sempre procurar saber perder, melhor e mais. Isso conduz a Deus, conduz à fé inabalável. Foi esse o segredo da alegria de tantos santos que, chegando ao extremo de perderem a si mesmos, encontraram a FELICIDADE que não lhes podia mais ser perdida ou roubada.