Há poucos dias, foi publicada a Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis (Sacramento do Amor), Documento que estava sendo muito esperado, pois ainda não havia sido publicada uma palavra do Papa acerca do Sínodo sobre “A Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja”, realizado em Roma de 2 a 23 de outubro de 2005.
O Papa não foge à tradição das Exortações Apostólicas anteriores, recolhendo as propostas dos padres sinodais e fazendo-as suas. Mas também relaciona as reflexões do Sínodo com os eventos que marcaram a Igreja Católica nos anos apenas passados, como o Grande Jubileu do ano 2000, o Congresso Eucarístico Internacional de Guadalajara, a Carta Apostólica Mane nobiscum Domine e a Encíclica Ecclesia de Eucharistia.
Ao mesmo tempo que recolhe a riqueza da doutrina tradicional da Igreja sobre a Eucaristia e propõe de maneira renovada suas implicações pastorais, o Documento também traz o toque .pessoal do Magistério de Bento XVI, que ao povo cristão uma relação nova e aprofundada entre o Mistério Eucarístico, a ação litúrgica e o “novo culto espiritual”, que deriva da Eucaristia e se manifesta sobretudo na caridade.
A Exortação Apostólica é desenvolvida em três partes, que trazem os títulos sugestivos de: Mistério acreditado, celebrado, vivido. Na primeira e na segunda parte, o Papa apresenta a fé da Igreja na Eucaristia e aborda diversos aspectos pastorais sobre a celebração da Eucaristia; na terceira parte entra em questões muito práticas da vivência cristã em torno do Mistério Eucarístico.
O texto, riquíssimo e de fácil leitura, prima pela preocupação pastoral, para ajudar o povo católico a compreender bem o significado da Eucaristia e a organizar sua vivência cristã em torno da Eucaristia, “fonte, centro e ápice da vida da Igreja”.
Para nós, católicos, de fato, a Eucaristia representa bem mais que uma “coisa sagrada”, ou um rito religioso, apenas. Ela é o Sinal-Sacramento da doação amorosa e plena da vida de Jesus Cristo por toda a humanidade, que nos envolve com o perdão, o amor restaurador e a vida de Deus. Na Eucaristia, nosso ser e nossa vida são unidos intimamente ao Filho de Deus feito homem, Jesus Cristo, “em comunhão”, para “termos parte com ele” (cf Jo 13,8). No dizer do Papa, na Eucaristia Jesus Cristo “nos atrai para dentro de si”(cf n. 11) e nos transforma nele.
É por isso que toda vida do cristão pode e deve gravitar em torno da Eucaristia, sinal sensível da permanente presença e atuação de Jesus Cristo no meio de nós: “Ele está no meio de nós!” Por aí também compreendemos o motivo pelo qual o Papa relaciona com a Eucaristia os diversos estados de vida (casamento, sacerdócio, vida consagrada, o trabalho, a saúde e a doença) e as diversas maneiras de atuar a vida cristã em todos os âmbitos do mundo, como expressões do “novo culto” prestado a Deus. Celebrar e viver a Eucaristia é o mais alto modo de prestar culto a Deus, pois se trata do Sacramento do Sacrifício pascal de Cristo oferecido ao Pai celeste, por amor, em nome de toda a humanidade; a esse Sacrifício único, os fiéis unem seus sacrifícios e suas vidas, para também serem agradáveis a Deus.
A Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, de fato, é um convite a redescobrir a centralidade de Jesus Cristo na vida da Igreja e dos cristãos, e para a vida do mundo. Não estamos sozinhos, a debater-nos com a estreiteza de nossos horizontes e com nossos problemas: “Ele está no meio de nós!” Bento XVI convida-nos a reencontrar a alegria de sermos cristãos, olhando para a “beleza” e a riqueza que brota da nossa fé na Eucaristia. A Exortação é dirigida a todos os membros da Igreja. Vale a pena ler e saborear.
Dom Odilo P. Scherer
Bispo Auxiliar de S.Paulo
Secretário-Geral da CNBB
Fonte: CNBB