Formação

Santa Mamãe, rogai por nós

“Que crianças de sorte estes Pierluigi, Maria e Laura!”, dizemos hoje. “Terem uma mãe tão afetuosa e, além de tudo, santa, canonizada!”

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Diante da canonização de Gianna Beretta, algumas pessoas me abordaram perguntando como os quatro filhos de Santa Gianna rezavam para ela. Será que diriam: “Santa Mamãe, rogai por nós!”?

Claro que achei engraçadíssimo, mas logo depois, fiquei a meditar como deve ser fantástico ter uma mãe canonizada ainda com os filhos em vida. Foi com este pensamento no coração que deparei com a seguinte carta de Gianna, já grávida de dez semanas e sabedora de seu câncer no útero, a seus três “tesouros”, como ela e seu esposo chamavam seus filhos e um ao outro. Na carta, um de seus primeiros testemunhos de fé, de coragem, de caridade, de respeito à vida que não lhe pertence:

“Meus caríssimos tesouros, Papai lhes levará milhões de grandes beijões; desejaria muito ir com ele, mas tenho de ficar de cama, pois estou um pouco dodói.

Comportem-se bem, obedeçam a Mariuccia e a Savina. Pierluigi, que é o mais velho, brinque com suas duas irmãzinhas sem implicar. Mariolina, que é “a maior”, seja boa e complacente com Lauretta.

Trago vocês no coração e penso em vocês a cada momento. Rezem uma Ave Maria por mim, assim Nossa Senhorinha me fará ficar boa logo e poderei retornar a Courmayeur para abraçar vocês e ficarmos sempre juntos.

Com todo afeto, beijos e abraços,
Mamãe”

“Que crianças de sorte estes Pierluigi, Maria e Laura!”, dizemos hoje. “Terem uma mãe tão afetuosa e, além de tudo, santa, canonizada!”

É verdade! No entanto, não consigo deixar de pensar o que diríamos se víssemos no jornal uma manchete assim: “MÃE DECIDE NÃO INTERROMPER A GRAVIDEZ APESAR DE CÂNCER UTERINO”.

E, abaixo, a reportagem: “Apesar de ser médica e conhecedora do risco de morte em levar adiante uma gravidez apenas iniciada diante de um quadro de câncer uterino, a Dra. Gianna Beretta Molla insiste em não interromper a gestação de seu quarto filho. Entrevistados, seus médicos se isentam de toda a responsabilidade sobre a vida da paciente, que fizeram assinar termo de responsabilidade, etc…”

Será que, diante de tal manchete, nossa expressão: “crianças de sorte” não seria substituída por “Que mulher irresponsável! Deixar sem mãe quatro crianças! Tem que pensar nos filhos! No marido!” É muito possível que esta segunda exclamação aflorasse, impensada, aos nossos lábios ou corações acostumados com o superficial, viciados na mania de cuidar de tudo, de ter tudo sob o nosso próprio controle, inclusive a nossa vida e a dos outros, ainda que sejam “apenas” embriões.

No entanto, felizmente, ainda tem gente com têmpera de santo, como o casal que me procurou um dia após a canonização* de Gianna. Humildes e sofridos, esperaram a tarde inteira na recepção. Queriam oração. Ela está com câncer e no terceiro mês de gravidez, como Gianna. Como ela, foi aconselhada pelos médicos a abortar, palavra escondida pelos profissionais sob o eufemismo de “interromper a gravidez”. Felizmente, como a santa, ela e seu esposo optaram pela vida, pela verdade, pela santidade. Enfrentaram os médicos e decidiram levar a termo a gravidez, mesmo tendo pouco tempo de caminhada, mesmo tendo sido evangelizados há pouco, mesmo ainda conhecendo pouco, a nível de informação, a doutrina e a moral. Friso “a nível de informação” porque, a nível de coração, os dois “dão quinal” em muito teólogo moral com seus muitos anos de estudos.

A mãezinha, na conversa, disse que não tinha forças, que não tinha fé. Contei-lhe, então, como sempre dá certo tomar emprestada a fé de Maria. Enquanto orávamos, observava os dois reunirem todas as suas forças e toda a sua fé diante do sacrário, olhava o ventre ainda pouco crescido da mãezinha, a testa franzida do papai e, entregando-os a Gianna, pensava em nossa imensa responsabilidade de anunciar a verdade do Evangelho e formar segundo o que pensa Jesus, mantendo-nos firmes diante do que diz o mundo.

Pensava, sobretudo, o quanto era feliz aquela criança e o quanto é provável que, como Gianna Emmanuella, a caçula dos Molla, ela diga, com toda razão, desde já: “Santo papai, santa mamãe, rogai por mim, rogai por nós!”

*Texto publicado por ocasião da canonização de Santa Gianna pelo Papa João Paulo II, em 16 de maio de 2004


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