“Um coração inflamado por este amor tudo realiza, a tudo se dispõe.” (Escritos Amor Esponsal 11). Esta frase de um dos escritos da Comunidade Católica Shalom transmite muito bem o que os grandes santos, principalmente os mártires, viveram. Entre essas fiéis almas esposas de Deus, está Santo André Kim e seus companheiros, que foram brutalmente assassinados, mas não abriram mão de sua fidelidade e amor a Deus.
A Igreja presente na Coréia tem, talvez, características únicas no mundo católico. Ela foi fundada apenas por leigos. As mais significativas ações se deram no início do século XVI, a partir dos contatos anuais das delegações coreanas que visitavam Pequim, na China. Essa nação, como sabemos, sempre foi uma referência no extremo Oriente para troca de cultura.
Foi ali então que alguns cidadãos coreanos tiveram o primeiro contato com Jesus e seu Evangelho de Paz. Um autor cristão, cuja obra foi muito explorada, foi o grande Sacerdote Mateus Ricci. Entre suas obras, a que mais se popularizou foi “A verdadeira doutrina de Deus”. Lee Byeok foi o primeiro católico leigo que, inspirado pelos escritos de Mateus Ricci, resolveu fundar a primeira comunidade cristã católica atuante na Coréia. E foi ali, nesse contexto, que se deu a oferta de vida de Santo André e seus companheiros.
Início das provações desse anunciador da Paz
Santo André era muito prudente em suas visitas à China, porém, embora cheio de precauções, suas autoridades, líderes da Igreja da Coréia , foram informados pelo bispo de Pequim de que suas atividades precisavam seguir a hierarquia e organização ditadas pela Santa Sé, com sede em Roma. As atividades precisavam ser geridas por um sacerdote, o qual foi enviado oficialmente para lá em 1785. O plano deu certo. Em pouco tempo, a comunidade cresceu, possuindo milhares de fiéis.
Não demorou e começaram as perseguições por parte dos governantes coreanos, inimigos da liberdade, da justiça e da fraternidade pregadas pelos missionários. Tentando dizimar a Igreja que se firmava com sólidas bases, começaram a matar os fiéis. Eles patrocinaram uma verdadeira carnificina entre 1785 e 1882.
No total, foram 10 mil mártires, cujo nomes são bem representados por André Kim Taegon, o primeiro sacerdote mártir de naturalidade coreana. O que os governantes não se davam conta é de que o sangue dos mártires é semente de novos cristãos, como bem já havia dito o imperador Tertuliano, no início da Igreja.
Ações ousadas de evangelização
André nasceu em 1821, pertenceu a uma família cristã coreana e de origem nobre. Seu pai, devido às fortes perseguições de seu país, formou uma “Igreja particular” dentro da própria casa. Inspirava-se na Igreja dos primeiros séculos. Ali rezavam, ouviam a palavra e recebiam os sacramentos.
Tudo funcionou bem até serem denunciados. O pai de André foi assassinado aos 44 anos de idade, mas não renegou sua fé em Cristo. Na época, André tinha 15 anos e sobreviveu com os demais familiares, graças à ajuda de alguns missionários franceses que os enviaram para a China, onde o jovem André se preparou para o sacerdócio, retornando para sua pátria em 1844, como diácono. Depois, viajou novamente sob grandes perigos, tanto na ida quanto na volta, devido ao clima de perseguição e foi ordenado sacerdote pelo bispo de Shangai.
Inteligência a serviço da missão
Devido à sua condição de nobre e conhecedor dos costumes e pensamentos locais, André obteve ótimos resultados no seu apostolado de evangelização. Até que, a pedido do bispo, um missionário francês, seguiu-o em comitiva num barco clandestino para um encontro com as autoridades eclesiásticas de Pequim, que aguardavam documentos coreanos a serem enviados ao Vaticano. Porém, foram descobertos e presos.
André por ser de origem nobre, foi interrogado até pelo rei, no intuito de que renegasse a fé e denunciasse seus companheiros. Como não o fez, foi severamente torturado por um longo período e depois morto por decapitação, no dia 16 de setembro de 1846, em Seul, Coréia. Na mesma ocasião, foram martirizadas 103 pessoas das mais variadas classes: homens, mulheres, adultos, idosos, leigos, sacerdotes, pobres e ricos.
Nem mesmo as crianças foram poupadas. O sangue dessas almas esposas de Deus parece ter atuado como álcool em fogo. De nada adiantaram as torturas, pois a jovem Igreja coreana floresceu ainda mais com esses mártires. Em 1984, o Papa João Paulo II, cercado de uma grande multidão de cristãos coreanos, canonizou santo André Kim Taegon e seus companheiros, determinando o dia 20 de setembro para a celebração litúrgica em memoria deles.
Que Deus abençoe toda a Igreja por intercessão desses servos fiéis, sobretudo, onde existem opressão e falta de liberdade de culto a Deus.
Santo André Kim e companheiros mártires, rogai por nós!