A santidade não tem nacionalidade e, conseqüentemente, não tem bandeira porque, afinal, não está ligada a contingências locais e não é identificada por símbolos formais. A santidade é um estado de vida que não se enquadra em limites geográficos e tampouco se restringe a momentos determinados da história. A Igreja tem muita clareza, em relação a isso, ao estender aos fiéis do mundo católico a imitação das virtudes e a invocação intercessora daqueles que foram oficialmente reconhecidos como santos.
Todavia, os santos e santas, como seres históricos, também são conhecidos por sua nacionalidade, uma vez que sua santidade foi tecida num espaço específico e num tempo preciso. Por isso, a Igreja tem no seu calendário santoral os nomes de santos e santas conterrâneos e contemporâneos de Jesus Cristo, como Santo Estêvão e Santa Maria Madalena; os cristãos de diversas partes do mundo, igualmente, têm concidadãos entre os homens e mulheres invocados por sua santidade de vida.
Dessa maneira, a Igreja católica no Brasil também venera a memória de homens e mulheres, na condição de Servo de Deus, como o Pe. Ibiapina, sepultado em Santa Fé, Solânea – PB, em 1883, de Beatos, como os Mártires de Cunhaú e Uruaçu, do Rio Grande do Norte, vítimas da perseguição calvinista, em 1645; está em curso o processo de Beatificação de Irmã Dulce, religiosa que dedicou sua vida aos pobres, em Salvador – Bahia, onde faleceu em 13 de maio de 1992.
O mundo católico cultua Santa Paulina, italiana de nascimento, radicada no Brasil, desde criança, que foi canonizada pelo Papa João Paulo II, em 19 de maio de 2002. A partir de 11 de Maio de 2007, conta com um Santo genuinamente brasileiro que nasceu em Guaratinguetá – SP e morreu em São Paulo, capital: Santo Antônio de Sant’Ana Galvão – São Frei Galvão, (1739 – 1822), canonizado, na cidade de São Paulo, em cerimônia presidida pelo Papa Bento XVI, por ocasião de sua visita pastoral ao Brasil.
Num processo de beatificação e canonização, é necessário que tenham acontecido milagres, “reconhecidos pela Igreja e pela ciência”, graças à intercessão do candidato à “honra dos altares”. “A Igreja Católica exige de um santo que ele tenha, em vida, apresentado algumas virtudes, como fé, esperança, justiça, fortaleza, temperança, pobreza, castidade, obediência e humildade. E que tenha operado pelo menos duas curas milagrosas, que não possam ser explicadas pela ciência, tenham sido imediatas, sem seqüelas e permanentes.”
No caso de Frei Galvão, o primeiro milagre está relacionado com “a cura de uma criança de quatro anos de idade”, em São Paulo, em 1986, recuperada de sua enfermidade, “sem seqüelas”; o milagre foi reconhecido pelo Papa João Paulo II que o beatificou no dia 8 de abril de 1997, em Roma; o segundo milagre permitiu que uma senhora conseguisse levar a bom termo uma gestação com pouca chance de êxito, em razão das características de seu útero que “não oferecia espaço suficiente para o feto crescer.” O nascimento do filho, hoje com sete anos, foi considerado milagroso e foi apresentado à Congregação para as Causas dos Santos, por isso, o Papa Bento XVI o reconheceu, como tal, em dezembro de 2006.
A santidade de Frei Galvão, expressão mais perfeita de sua comunhão com Deus, foi visualizada na sua caridade para com as pessoas que o procuravam, em estado de “necessidades físicas e espirituais”. “Em tempos em que não havia recursos e ciência medica como hoje, Frei Galvão era procurado para a cura. Numa dessas ocasiões, inspirado por Deus, escreveu num pedaço de papel uma frase em latim do Ofício de Nossa Senhora, que poderia ser traduzida assim: ‘Depois do parto, Ó Virgem, permaneceste intacta. Mãe de Deus, intercede por nós!’. Enrolou o papel em forma de pílula e deu a um jovem que estava quase morrendo por fortes cólicas renais. Imediatamente cessaram as dores e ele expeliu um cálculo. Logo veio um senhor pedindo orações e um ‘remédio’ para a mulher que estava sofrendo em trabalho de parto. Frei Galvão fez novamente uma pilulazinha, e a criança nasceu rapidamente.” Por essa razão, as “pílulas de Frei Galvão” continuam sendo tomadas por pessoas com “problemas por cálculos renais, gravidez e parto, e casais que não conseguem ter filho.” As “pílulas de Frei Galvão” são confeccionadas pelas Irmãs do Mosteiro da Luz, em São Paulo, e do Mosteiro da Imaculada Conceição, em Guaratinguetá – SP.
A imitação das virtudes de São Frei Galvão, como será “carinhosamente chamado e venerado”, é o caminho que também nos leva ao encontro de Deus e dos irmãos.
Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares – PE
Fonte: CNBB