Formação

São Francisco de Assis, baluarte da Vocação Shalom

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Afresco de São Francisco de Assis em Sacro Speco, Mount Subiaco, Itália. Pintado por um monge beneditino em aproximadamente 1218. É a pintura mais antiga até hoje conhecida do santo.

Entrevista com Moysés Azevedo, fundador da Comunidade Católica Shalom, sobre a influência de São Francisco de Assis na Vocação Shalom.

Moysés, gostaríamos que você comentasse a influência de São Francisco na Vocação Shalom.

Moysés: O Shalom é uma vocação com sua espiritualidade própria, com características específicas, que recebe mui­ta influência da vocação franciscana.

Ao avaliarmos a ação de S. Francisco na Igreja, vemos que ela foi muito forte. No momento em que a Igreja vivia uma etapa difícil em sua caminhada, o Senhor fez surgir um homem como S. Francisco, com uma missão muito especial, como uma testemunha viva do amor de Deus para a sua Igreja. Pa­ra se ter uma idéia, já fazem aproximadamente 800 anos que S. Francisco viveu na Igreja e ainda hoje ele exerce uma in­fluência muito forte dentro dela.

Essa mesma influência nós trazemos dentro da nossa espiritualidade, quando, por exemplo, no começo da nossa caminhada na fé, ainda nos grupos de oração de jovens, nós fomos conduzidos pelo Espírito a ler livros da vida de S. Francisco e tudo aquilo foi falando muito de per­to ao nosso coração no mesmo apelo que S. Francisco tinha de se consagrar inteiramente a Deus, de se entregar inteiramente a Ele, de ter uma relação íntima no louvor, no despoja­mento.

Assim Deus começou a gerar em nós uma vocação própria, com características que agiram na vocação de S.Francisco, na missão específica que Francis­co tinha no mundo. Então, seguindo mais ou menos essa história e de maneira especial ao livro “Irmão de Assis” do Frei Inácio Larrañaga, que despertou em nós a atenção para os ensinos e para o seu testemunho no meio do mundo e no meio da Igreja, assim podemos dizer que trazemos uma semente de S. Francisco dentro do nosso coração como vocação, co­mo comunidade.

O que de especial você poderia nos narrar sobre influência de S.Francisco na formação da comunidade?

Moysés: S. Francisco foi um homem que encontrou Deus, que teve uma experiência com Jesus Cristo e essa experiência foi tão forte na vi­da dele que foi capaz de fazer com que ele se despojasse de tudo e de todos para se entregar a Deus, pra se entregar no louvor à Deus, na oração à Deus, no serviço dos mais necessitados… Então esse chamamento forte de S. Francisco, essa entrega radical à Jesus Cristo, muito nos falou e muito nos fala na nossa caminhada.

Por exemplo: a própria atitude de S. Francisco diante de seu Pai, do bispo e de toda cidade de Assis de tirar sua roupa como sinal de despojamento total, de entregar o seu Pai e dizer: ” de agora em diante o meu Pai é Deus, de agora em diante a minha vida está consagrada a ele”. Uma renúncia total, e não somente das coisas ilícitas mas também das coisas lícitas, para poder amar e servir a Deus. Este primeiro toque de São Francisco, esse despojamento nos fala muito de perto. A pobreza que S. Francisco viveu, o chamado dele específico, foi único para Igreja.

Muitos outros também se sentem chamados assim, mas o nosso caso esse despojamento, essa pobreza de S. Francis­co nos influência, para, como leigos no mundo de hoje, co­mo comunidade vocacional leiga, possamos também viver no despojamento.Despojando-se das coisas e das pessoas para poder amar e servir melhor a Deus.

Outra característica de S. Francisco que nos fala muito de perto é o louvor. S. Francis­co foi um homem que viveu uma dimensão de louvor de maneira toda especial, que louvou a Deus com todo seu ser, seu corpo, com sua alma! A sua oração se resumiu num louvor eterno a Deus e através do louvor S. Francisco entrou numa harmonia profunda com Deus, com os homens e com a natureza.

Outra característica de S.Francisco foi a vida de oração. Ele não foi um homem que viveu a mediocridade na vida de oração, mas que soube vi­ver sua intimidade com Deus em profundidade. Toda essa dimensão de mergulhar em Deus, de ter tempo pra Deus, de contemplar a Deus é refleti­da no chamado de Deus, que nos faz viver e sentir profunda­mente esse chamado.

Além da oração profunda, a própria vida de S. Francisco na Igreja O chamado feito naquele tempo na Igreja foi muito interessante, ele viveu na época do papa Inocêncio III, época em que a Igreja teve mais poder temporal, muitas riquezas, era um Império Roma­no Ocidental. O Papa exercia seu papel de pastor e ao mesmo tempo exercia papel de Imperador. No auge do poder temporal da Igreja, surge Francis­co de Assis, um homem que renuncia a todo poder temporal, que no começo não foi entendido, não foi compreendido, foi perseguido e até rejeitado, mas mesmo assim a atitude de S. Francisco foi de fidelidade e de obediência ao chama­do que Deus lhe fez.

Seguindo o caminho de obediência à Igreja e ao mesmo tempo de fidelidade ao chamado que Deus lhe fez, S.Francisco levou em frente sua obra, que foi instrumento de renovação da Igreja. Nós também nos sentimos chamados a viver co­mo instrumentos de renovação da Igreja A Igreja sempre está se renovando e o Espírito sempre suscita obras renovadoras na Igreja, corno suscitou S. Francisco em Assis e hoje suscita o Shalom em Fortaleza e em várias cidades do Brasil

A gente sente que a renovação carismática é uma obra, que Deus sus­cita no interior da Igreja para renovação dela. Como Shalom, de maneira muito especial, também nos sentimos leigos no meio do mundo, chamados a sermos sinais de renovação para a Igreja! Sentimos esse apelo como S. Francisco, mui­tas vezes nem tão compreendi­do, as vezes até perseguidos, mas desejosos de servirmos a Igreja na obediência e ao mesmo tempo na fidelidade ao chamado que Deus nos fez. Caminhando assim S.Francisco soube cumprir o seu papel, assim também nós queremos saber cumprir o nosso papel neste momento da Igreja.

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Moysés Azevedo em oração no Congresso de Jovens Shalom, em 2013

Qual a relação do TAU Franciscano, com o TAU que nós usamos na Comunidade Shalom?

Moysés: S.Francisco participou de um concílio e neste concílio, onde o Papa declarou que o SINAL dos eleitos era um TAU e que todos aqueles que carregassem esse “TAU” estariam como que caminhando na garantia da sua salvação. Quando S. Francisco ouviu aquilo ele imediatamente colocou o TAU no seu pescoço e nunca mais retirou dele e, por isso, o TAU se transformou num sinal Franciscano.
Como o nosso chamado, a nossa vocação, traz um pouco da missão de Francisco é porque acreditamos que o TAU é um sinal dos eleitos que Deus chama a exercer uma missão.
Somos conscientes disso e queremos dizer sim a esse chamado, a essa eleição que Deus nos faz.
Pela influência de Francis­co, o TAU é também um sinal de eleição para nós e para o mundo.


Explique melhor por que o TAU é sinal de eleição para o mundo.

Moysés: Porque usamos o TAU, normalmente a maior parte de nós o usamos do lado de fora da camisa e sentimos que isso nos ajuda a ser testemunhos no meio do mundo. Não simples­mente como uma obra exterior, porém, às vezes, as coisas exteriores são símbolos do que nós trazemos no coração. Então o TAU que nós trazemos no exterior com a inscrição Shalom em hebraico, traduz a nossa missão, de como eleitos de Deus, levar este Shalom de Deus para o mundo.
É muito comum as pessoas nos identificarem quando vêem o TAU. Sentem o sinal de que ali elas podem ter segurança, ter um conselho, ali elas podem ter uma palavra de Deus para os seus corações. Então esta é a relação que nós fazemos com o TAU Francisca­no a influência de Francisco mas ao mesmo tempo a característica própria da nossa mis­são no mundo.

Conhecendo a história de São Francisco vemos que ela tem co­mo característica de sua vocação “a missão”, que é também encontrada na vocação Shalom. Qual a relação que tem entre a missão dos Franciscanos e a missão Shalom ?

Moysés: Francisco pro­curou ser imitador de Jesus Cristo, vivendo isso na radicalidade. Uma das ordens fundamentais que Jesus deu aos seus apóstolos foi” IDE e EVANGELIZAI. IDE e FAZEI DISCÍPULOS EM TODAS AS NAÇÕES ‘. Francisco levou a sério isso e a espiritualidade Franciscana tem rio de ‘ IR ‘ e de . LEVAR’ a todos os povos o anúncio de Jesus VIVO. Também nós, como Francisco, desejamos corresponder o apelo de Jesus, a apelo de IR e EVANGELIZAR.

Quando nós começamos esta obra de Deus, Ele nos falou através de uma palavra profética que queria construir um grande monumento para sua glória. Apesar de toda a nossa fraqueza, apesar de todo nosso pecado, ele queria que fôssemos “luz das nações”. Então nós nos sentimos ungidos pe­lo próprio Deus a espalhar as graças que ele tem derrama­do no interior da nossa caminhada, da nossa vocação, da nossa comunidade. Sentimos esse apelo forte do Senhor de sermos missionários. Nós não ternos morada eterna aqui, te­mos uma grande tendência a nos fixar, porém sentimos que Deus não deseja isso de nós. Deseja que nós sejamos peregrinos anunciadores do seu Evangelho, por isso que nós, como vocação, temos realiza­do missões em várias áreas do Brasil. Temos espalhado es­se veio missionário, mas não só como missões de enviados que vão e voltam para comunidade, mas até comunidades missionárias nós sentimos que Deus nos chama a formar.

Moysés, você nos disse que S.Francisco foi instrumento de Renovação para a Igreja, em sua época Sabemos, ainda, que hoje a Igreja vive um intenso momento de renovação através da R.C.C. Teria alguma relação, na sua formação?

Moysés: São Francis­co foi um homem totalmente cheio do Espírito Santo, se nós podemos colocar um modelo Carismático, nós vamos apontar S. Francisco de Assis. Se agente vê a própria atitude de louvor de S. Francisco é impressionante, talvez se S. Francisco vivesse hoje, ele estaria com certeza militando dentro da Renovação Carismática Estaria sofrendo as mesmas críticas que a Renovação sofre. As pessoas que criticam a renovação porque seus membros se ajoelham de uma maneira para mui­tos exagerada ou por algum outro motivo, também estariam criticando Francisco, porque esta era também a atitude do Santo.

São Francisco era considerado um louco, mas um louco de amor por Jesus Cristo. Mui­tas vezes taxam a renovação de um bando de loucos. Real­mente! Um bando de loucos apaixonados por Jesus Cristo.

Eu diria que hoje na Igreja, de certa forma, como muitos outros movimentos ou vocações, a Renovação de uma maneira particular tem muita identidade com a missão de Francisco. Francisco foi tudo isso no interior da Igreja e ajudou na sua função particular, a Igreja se renovar. Como nós também, como Renovação, com muita humildade, com o Espírito de obediência e ao mesmo tempo com o Espírito de fidelidade, devemos exercer o instrumento de renovação.

É comum a gente escutar que: “São Francisco é luz de Deus para o mundo”. Comente esta afirmativa

Moysés: É muito interessante a gente ver que o nome da nossa vocação, traz o no­me da nossa missão Shalom, ou seja, levar essa paz plena que o evangelho nos fala Não é a paz.simplesmente sentimento, mas é a paz plena, ou seja, toda sorte de benção espiritual, material, psicológica, humana, que Deus tem preparado para nós, que é a própria salvação e que é o próprio Jesus Cristo. Queremos dizer na verdade que Jesus é o shalom do pai para o mundo, mas ao mesmo tempo Francisco foi um sinal desse shalom do pai para o mundo. Se vemos as orações de São Francisco, a sua espiritualidade, encontramos o que ele mais queria: ” Senhor falei-me instrumento da tua paz.” Francisco foi um homem que soube imitar tão radicalmente Jesus Cristo que pôde possuir essa harmonia, esse shalom de Deus em seu coração, es­sa paz.

Como Francisco imitou Jesus Cristo então ele tem muito a nos falar,principalmente co­mo um caminho para NÓS vi­vermos Jesus no Shalom do Pai e para nós anunciarmos com Jesus, o shalom do Pai para o mundo.

É possível viver isto no mundo?

Moysés: É totalmente possível. Se Francisco tivesse nasci­do no século XX como era que Francisco ia viver o evangelho, ia viver Jesus Cristo?!
Nós não podemos tirar a realidade franciscana do tempo e espaço que ela viveu. Então hoje no mundo como Francisco viveria?! – É mais do que isso, hoje, como é que Deus gostaria que ele vivesse, por­que eu não sou Francisco de Assis e nem você, eu sou Moysés, você é José Nilson e Deus tem uma missão para nós realizarmos no mundo.
Este é o grande desafio: NÃO SERMOS IGUAIS A FRANCISCO, MAS NA VERDADE SERMOS O QUE DEUS QUER QUE SEJAMOS NO MUNDO.


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