Um coração que não escondia sua sede de Deus, nem buscava saciar essa sede em lugares errados, este é João Crisóstomo, o doutor da Igreja conhecido como “Boca de Ouro”, devido à sua eloquência e sabedoria nos sermões. Ele nasceu em Antioquia, por volta do ano 348 ou 349, e foi educado por sua mãe, por sinal, uma grande cristã. Sua sede de Deus era tão profunda que vivia, desde a juventude, ainda em sua casa, uma espécie de vida monástica. Após a morte de sua mãe, partiu para o deserto e permaneceu ali por seis anos, dos quais os dois últimos vividos de modo
solitário.
Apesar da saúde frágil, vivia um intenso e constante retiro espiritual dentro de uma caverna. Seu testemunho ecoou como sino, tanto que foi chamado à cidade e ordenado diácono, dedicando-se ao ministério da pregação. Um tempo depois, foi também ordenado sacerdote pelo bispo Fabiano, destacando-se por um grande zelo e colaboração no governo da diocese de Antioquia.
Foi um grande servo da palavra, pregador eloquente, profundo e sábio. Seus discursos lançavam luzes de conteúdo moral para a vida prática dos seus ouvintes, que vacilavam ante às propostas do mundo.
Combates e provações
Na capital do império do Oriente, São João desenvolveu um significativo trabalho. Suas atividades suscitaram admiração em uns e perplexidade em outros. Atuava em evangelizações rurais, criou hospitais para socorrer os pobres e animou procissões para combater heresias arianas, contando, para isso, com o apoio e proteção da polícia imperial. Seus sermões eram ungidos, “cheios de fogo’’, denunciando os vícios e as friezas espirituais de alguns monges e até de sacerdotes e bispos demasiado sensíveis aos apelos da riqueza.
Os sermões de João duravam horas inteiras, mas o douto patriarca sabia usar com grande perícia todos os recursos da retórica, não para aliciar os ouvidos de seus ouvintes, mas para ensinar e corrigir. Apesar de pregador insuperável, João não era muito diplomático.
Foi deposto ilegalmente por um grupo de bispos chefiados por Teófilo, e exilado com a cumplicidade de Eudóxia, a imperatriz. Porém, logo foi reconduzido às suas funções pelo imperador Arcádio, que havia sido atingido por várias desgraças que sobrevieram ao palácio. Contudo, dois meses depois, João foi de novo exilado, primeiro para a fronteira com a Armênia, depois para as margens do mar Negro.
No exílio consumou sua oferta de vida a Deus, falecendo no dia 14 de setembro de 407. Do sepulcro de Comana, o filho de Arcádio, Teodósio, o Jovem, transferiu os restos mortais do santo a Constantinopla, onde chegaram na noite de 27 de janeiro de 438, entre uma multidão triunfante. Entre seus numerosos escritos, há um pequeno volume sobre o sacerdócio, obra-prima da espiritualidade sacerdotal.
Que Deus abençoe, por intercessão deste grande servo, todos os sacerdotes da Igreja, sobretudo os
que vivem algum combate e provação.
São João Crisóstomo, rogai por nós!