Formação

São João de Perboyre, evangelizador até o fim

Beatificado em 1889, foi proclamado santo pelo Papa João Paulo II em 1996. Festejado no dia de sua morte, tornou-se o primeiro missionário da China a ser declarado santo pela Igreja.

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No dia 06 de Janeiro de 1802, em Puech, Diocese de Cahors, no Sul da França, a bondade de Deus fez vir ao mundo um ser humano que, no futuro, se tornaria o grande São João Gabriel Perboyre. Com apenas 15 anos de idade, João ingressou no seminário de Montauban. Na época, essa casa de formação de novos padres era dirigida pelos Lazaristas, onde o padre Jacques Perboyre, seu tio, era reitor. Já no início de sua trajetória formativa, aos 16 anos, João dava sinais de que era um seminarista muito consciente da própria vocação.

Concluiu seus estudos em junho de 1823, porém, não pôde ser ordenado de imediato devido à pouca idade. Seu desejo, no entanto, se concretizou três anos depois, no dia 23 de setembro de 1826, retornando, em seguida, para Montauban, para atuar também como professor. Um ano após ser ordenado, foi nomeado Reitor do Seminário de Saint-Flour e, em 1832, diretor do Seminário Interno, em Paris.

Uma notícia dolorosa, que dilatou ainda mais seu coração

Em 1820, João recebeu uma dolorosa e provocadora noticia: estava no Seminário Interno e foi informado do assassinato, ou melhor, do martírio do padre Francisco Régis Clet. Esse servo consumou sua oferta a Deus depois de longos anos de trabalho missionário na China (1791-1820). Alguns anos depois, as relíquias do padre Clet chegaram a Paris. O jovem missionário Perboyre, já como diretor do Seminário Interno, cargo também já exercido por seu coirmão martirizado, exclamou diante de seus formandos: “Quisera eu ser mártir como Clet! Peçam a Deus que minha saúde se fortifique para que eu possa ir à China, a fim de pregar Jesus Cristo e morrer por ele.

A falta de saúde era realmente um grande obstáculo para seus sonhos. Mas padre Perboyre nunca perdeu a esperança. De fato, seu sonho se realizou em 1835, quando partiu para a China, desembarcando em Macau, alguns meses depois. Neste território de domínio português, Padre Perboyre foi recebido por seus coirmãos de Congregação para se dedicar ao estudo da cultura e, principalmente, da língua chinesa, esforço muito frutuoso, tanto que permaneceu em Macau apenas quatro meses. Em terras chinesas, apesar da grande perseguição contra a fé cristã, Padre Perboyre não se intimidou e se lançou de corpo e alma à missão.

Evangelizador itinerante

Seu apostolado consistia, fundamentalmente, em percorrer os povoados da região, pregando o Evangelho do Senhor, anunciando Sua paz e conclamando o povo à conversão e à santidade de vida. Seu zelo missionário despertou muitos resquícios de fé, que por causa do medo e perseguições havia adormecido em alguns corações.

Em meio a essas atividades em terras chinesas, padre Perboyre foi ceifado pela perseguição. Todos os seus projetos e empreendimentos apostólicos seriam, com sua oferta e para a decepção de seus perseguidores, ainda mais fecundos. Sua paixão começou na aldeia de Nankang, num domingo, após a missa. Os soldados saquearam e incendiaram a igreja, com muita violência. Tentando fugir, padre Perboyre se escondeu num bambuzal, depois na casa de um catequista e, no dia seguinte, num matagal próximo. O Sacerdote porém, foi traído por um dos que supostamente, havia acolhido sua evangelização.

Não pisou no símbolo de sua fé, a Cruz

Após ser preso, foi arrastado e, entre uma sessão de julgamento e outra, foi torturado pelos soldados. Interrogado quanto à sua fé, respondeu entusiasmado: “Sou europeu, sou cristão e missionário dessa religião.” No entanto, diante das calúnias e maus tratos, preferia responder com silêncio do que com palavras. Firme em suas convicções, declarou: “Antes morrer do que renegar a fé.”

Padre João Perboyre foi submetido a dois interrogatórios; em Sian Yan Fu, outros quatro, sendo que, em um destes, foi obrigado a ficar meio dia de joelhos, em cima de correntes e preso numa viga de madeira. Em Outchangfou, última etapa de sua paixão e dor, o ardoroso e intrépido missionário ainda sofreu 20 interrogatórios, todos feitos sob intensas torturas.

No entanto, apesar de todo este sofrimento, padre Perboyre não se rendeu às reivindicações de seus algozes. Não negou sua fé, nem forneceu o nome dos demais missionários, para que a perseguição pudesse se estender ainda mais por todo o Império. Não aceitou nem mesmo a realização de gestos de deboches e sacrilégios, como pisar numa cruz. Ato esse reivindicado aos gritos pelos torturadores. Respondia o santo: “Como pisar no sinal claro da salvação e do amor de Deus por mim e pela humanidade?” Esta recusa lhe rendeu 110 açoites de chicotes de uma só vez.

Tudo se consumou, combateu o bom combate, guardou a fé

No dia 11 de setembro de 1840, o oficial do Império proclamou sua sentença, a morte. O Sacerdote foi tirado da prisão, revestido da túnica vermelha dos condenados, para em seguida ser estrangulado. Caminhou descalço, mãos atadas atrás das costas, sustentando uma longa vara em cuja extremidade tremulava o motivo de sua condenação: “Morte por professar a fé cristã.” Chegando ao momento supremo da consumação, de joelhos, ao pé da forca, o Missionário dirigiu a Deus sua última prece. Foi amarrado num madeiro em forma de cruz e ali seus algozes impiedosamente o estrangularam.

João Gabriel foi beatificado no dia 10 de novembro de 1889, por Leão XIII, e canonizado no dia 2 de junho de 1996, por São João Paulo II.

Que o testemunho desse servo fiel nos anime a também não negociamos nossa fé em Deus, por mais
tentadoras que as propostas deste mundo possam ser.

São João Gabriel, rogai por nós!


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