São José percebeu a gratuidade de sua vocação excepcional. Quantas vezes ele não deve ter se questionado:
– Por que razão o Altíssimo me deu o Seu Filho Unigênito para custodiá-Lo? A mim, pobre carpinteiro? Por que não este ou aquele outro homem da Judeia ou da Galileia? Por que não em outro século ou em outra circunstância?
Quantas vezes nós também não nos deparamos com questionamentos semelhantes em nosso coração? Por que você? Por que eu?
Foi unicamente o livre beneplácito do Pai o motivo pelo qual José foi livremente preferido, escolhido e predestinado desde toda a eternidade; antes daquele outro homem da Judéia ou da Galiléia a quem o Senhor poderia ter concedido essa excepcional missão. Antes de escolher uma outra pessoa da sua família ou algum outro colega de escola ou trabalho. O livre beneplácito escolheu você.
Possuindo o maior dos tesouros, ele não se vangloriou desses dons ou não contou privilégios nem vantagens, antes ocultou-se o quanto pode dos olhos dos mortais. “José tem em sua casa motivos para atrair todos os olhares da Terra, e o mundo não o conhece; possui um Deus Homem, e não diz nenhuma palavra”. A vocação é este tesouro que trazemos nos vasos de argila que são nossos corações, em nossas casas, em nossos trabalhos e atividades cotidianas. Nossa eleição deve gerar em nós gratidão pois também a vocação que o Senhor nos deu pode atrair os olhares da Terra; mas, se assim acontece, é pela humildade de cada servo que acolhe com gratidão e pequenez cada sublime chamado.
Servir, servir de maneira autêntica no secreto do coração, na contemplação do mistério de nossa eleição como São José.
O conhecimento do valor dessa graça e da sua gratuidade absoluta, longe de prejudicar a humildade de José, confirmou-a. Por isso ele não se envergonhou de apresentar no templo duas pombinhas, a oferta dos pobres, ao apresentar o Salvador. E nós? Que podemos apresentar ao Senhor para bem servi-Lo?
No serviço ao Senhor a obscuridade não tarda em aparecer na vida dos eleitos: o carpinteiro era um homem pobre antes e tornou-se ainda mais pobre quando recebeu sua missão. Ele foi o primeiro em seu coração a sentir a dor desta percepção: “Não há lugar para o Salvador no último dos albergues de Belém”. José deve ter sofrido ao ver que não tinha nada para oferecer à Maria e a seu Filho. Mas sua confiança n’Aquele que era o Provedor de tudo manifestou-se nas provações, como quando Herodes pretendia matar o menino e foi-se preciso fugir para o Egito.
O chefe da Sagrada Família devia esconder Nosso Senhor, partir para um país distante, onde ninguém o conhecia e onde não sabia como poderia ganhar a vida. Partiu, colocando toda a sua confiança no Pai das Providências. Tal confiança nos mostra a potência de sua fé e a sua fidelidade n’Aquele que o conduzia. Só experimenta verdadeiramente da fidelidade de Deus quem se abandona a Ele com fidelidade, confiante em Sua voz e na Sua promessa.
Também a nós este chamado ao serviço na fidelidade se renovam neste dia. Isso, longe de ser apenas uma história distante, de um homem que um dia sonhou com um anjo, é também um convite para juntos com ele vivermos o chamado que o Senhor nos faz, de realizar o que Ele sonhou para nós, na vida do serviço humilde e sempre fiel.
“São José, servo confiante, que não temestes tomar sob vossa proteção e sustento a Maria e Jesus e, abandonado às mãos do Deus das Providências os servistes durante toda vossa vida sem reter para vós nada do fruto do vosso trabalho, ensinai-nos a acolher a graça do completo abandono nas mãos do Pai que cuida de nós muito melhor do que nós mesmos” (Trecho da Novena a São José).
Baseado no texto “Virtudes e dons de São José” – Reginald Garrigou-Lagrange, O.P
Por Paulo Vitor, Shalom Guarulhos