Como gosto sempre de dizer, a oficina de Deus é a vida e nela são forjados os grandes santos da Igreja. Os séculos IV e V foram um período de grandes ameaças à fé e à solidez doutrinária da Igreja. Essas ameaças deixaram mais lentas as ações e projetos evangelizadores do catolicismo, sobretudo nos ambientes pagãos. Porém, como disse acima, se a oficina de Deus é a vida, a história da humanidade tem muito a ensinar. E é exatamente na história humana que Deus sempre deixa de modo concreto suas marcas perfeitas de amor.
Quando falo de vida, falo de grandes ou pequenos acontecimentos por meio dos quais o Criador vai moldando corações fiéis e dóceis a Ele. Essas almas esposas tocadas pelo Senhor podem ser sacerdotes, bispos, religiosos, teólogos, escritores, pregadores, etc. Mas também leigos como um médico, um professor, um policial, um operário ou funcionário público, etc; talvez um pai ou mãe de família, alguém solteiro, enfim… Deus chama quem Ele quer.
Esses corações, se abertos e dóceis na relação com Deus, tornam-se grandes místicos, que com sua inteligência e fidelidade, podem contribuir para deixar mais consciente e frutuosa a vida e a fé da Igreja. Um desses gigantes, dóceis às investidas da graça, foi São Pedro Crisólogo, um italiano nascido no seio de uma família cristã de Ímola, no ano 380. Esse servo de Deus era ministro de uma catequese profunda e sistemática.
Em suas homilias e sermões, oferecia exposições claras e sólidas da ortodoxia e da fé da Igreja. Em suas obras, encontramos construções teológicas e doutrinárias sólidas e profundas e não apenas especulações. Ele tinha “palavras de ouro”, como afirmam seus comentadores. Foi autor genial de sermões profundos, marcados por grande solidez doutrinal e espiritual, tanto, que lhe valeram o título de doutor da Igreja, declarado pelo Papa Bento XIII, em 1729.
Suas obras são patrimônio doutrinal e espiritual da Igreja
Entre as obras conservadas até hoje, estão 176 profundas homilias, marcadas por um tom popular e bastante expressivo. Nelas, ele explica o sentido teológico e espiritual de cada uma das afirmações do Credo, do Pai-nosso, da Ave Maria, do Glória à Trindade, etc. Sugeria sempre, como referência para seus fiéis, os testemunhos dos santos, exaltando suas virtudes e como modelos de verdadeira vida cristã. Há uma de suas famosas homilias em particular, onde afirma que: “O rico avarento do Evangelho era escravo do dinheiro. Enquanto na lógica de Jesus, o dinheiro é o verdadeiro escravo, servo do homem misericordioso e solidário.”
Esse servo de Deus foi eleito bispo de Ravena em 424. Em sua atuação, se revelou logo como um bom pastor, prudente e sem ambiguidades doutrinais. Tanto os pobres e humildes quanto os ricos e poderosos o escutavam. Seus discursos não promoviam lutas de classes, mas da condescendência, da caridade e da comunhão. Tanto, que a própria imperatriz Gala Placídia encontrou na relação com ele oportunos conselhos, orientações e amizade. Cooperador fiel das decisões eclesiais
Ainda devido às suas virtudes e autoridade espiritual, se dirigiu a ele, por carta, até mesmo o famoso protagonista de uma outra importante disputa no campo doutrinal, Eutíquio, líder do conhecido mosteiro de Constantinopla. Na ocasião, Eutíquio pedia sua opinião a respeito da questão monofisita, que discutia sobre a natureza una de Cristo, justamente na véspera do importante e decisivo concílio de Calcedônia. Pedro respondeu-lhe, com grande senso de comunhão, que seria melhor ele se dirigir ao Papa Leão, e que não deveriam discutir sobre questões relativas à fé sem o consentimento do bispo de Roma. Quanto ao dia de sua páscoa, há duas datas possíveis. A primeira, dia 31 de julho de 451; e a segunda, em 3 de dezembro de 450. Todavia, mais importante do que a exatidão do dia de seu encontro com Deus, foi seu testemunho de amor e fidelidade incondicional até o fim.
Que Deus oriente nossos bispos e sacerdotes, para que, a exemplo desse servo e pastor fiel, possam orientar e conduzir seu rebanho.
São Pedro Crisólogo, rogai por nós.