Estive num barco entre a Ilha de Marajó e a cidade de Belém do Pará. Um senhor, morador ribeirinho do rio Amazonas, me perguntou: “O senhor é padre”? Resposta: Sou padre do extremo sul, extasiado diante da grandeza do vosso rio. E o homem: “Nós temos um padre que veio de longe. Ele é muito bom, mas tinha um grande defeito, por causa do qual quase o mandamos embora”. É segredo? “Não, é o seguinte: em cada Missa o padre dava um jeito de dizer: vocês têm que trabalhar e economizar! Para ele, trabalhar significava arrancar o máximo de frutas, caçar e pescar o quanto dava, depois amontoar tudo. Para nós trabalhar e economizar significa somente colher as frutas, caçar e pescar o necessário para alimentar a comunidade. Porque nós temos que pensar nos filhos de nossos filhos”! Perguntei: e o padre? “Ele notou a diferença entre o pensamento do povo dele (a Itália) e o nosso. Agora estamos em paz”.
Entre o céu azul e a imensidão das águas meditei: quem está mais atualizado? O missionário sincero, mas com a cultura predatória européia ou o povo amazônico, bem integrado no seu ambiente e cuidadoso para não destruir a natureza, porque temos que pensar nos filhos de nossos filhos?
Alguém resumiu a tragédia da humanidade assim: o ser humano levou milênios para aprender a dominar a natureza e submeter a terra; agora chegou o tempo de o ser humano aprender a dominar o seu próprio domínio. O problema é que para isto não tem milênios, pois já estamos sob ameaça de uma catástrofe ecológica.
Já respiramos ar viciado, bebemos água contaminada; já colocamos na mesa de nossas famílias alimentos envenenados. Como estão nossos rios? E não precisamos nos ater ao Rio do Sinos, com o escândalo mundial de tantas toneladas de peixes mortos! Nossos lagos, nossas praias, os oceanos, as terras, os bosques, os animais selvagens, os pássaros, em resumo a fauna e a flora?
Os promotores da 131ª Festa de São Sebastião, padroeiro de Venâncio Aires, colocaram como tema de reflexão: “Natureza: preservar é viver”. No tempo do brilhante e fiel oficial romano (ano 300) o desafio era a matança sistemática dos cristãos por causa da fé em Deus. Hoje temos liberdade religiosa. Mas estamos diante do risco de um suicídio coletivo, pela morte biológica do nosso planeta.
Hoje é preciso clamar: nossa vida é inseparável do meio ambiente. Da nossa relação com a natureza depende a sobrevivência da humanidade em nosso planeta. Se nós destruímos a terra, desfiguramos a imagem de Deus em nós e no mundo. Mas se nós tratamos a natureza com respeito e amor, preparamos uma morada digna para toda a família humana.
São Sebastião, rogai por nós!
Dom Sinésio Bohn
Bispo de Santa Cruz do Sul