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Satanás, mito ou realidade?

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“Então Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto, para ser tentado pelo Diabo.”

Para aquele que crê na Sagradas Escrituras, apenas essa passagem, do meio de tantas outras, bastaria para pôr fim a qualquer faísca de dúvida sobre a existência do mal. Esse dualismo entre bem e mal sempre se fez presente nas dúvidas e indagações do homem, desde a mais remota antigüidade. O homem, como um ser religioso por natureza, vindo das entranhas de Deus – posto que é sua imagem e semelhança – tem uma necessidade ontológica de procurar e perfazer seu caminho rumo ao bem maior, que sempre foi e será Deus. Dele viemos e para Ele iremos, por isso, essa questão nunca deixará de ocupar o pensamento humano. Prova disso é a grande quantidade de idéias e “filosofias” que tentam explicar, muitas vezes à sua maneira, o sobrenatural. Não são poucas as correntes que tentaram taxar o mal como um produto da nossa mente ou simplesmente negá-lo, ignorando as palavras do próprio Cristo que chegou a citar várias vezes o Demônio como nosso principal inimigo. “Vigiai e orai”, ensinou Jesus, pois o “Diabo é como um leão que ronda sua presa”.

O Papa Paulo VI proclamou certa vez, na ocasião de uma audiência pública, que “… o mal não é somente uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e perversor. Uma terrível realidade. Misteriosa e pavorosa”. E termina seu discurso com a sentença: “Sai do ensinamento bíblico e da Igreja quem rejeita sua existência… ou ensina como sendo apenas uma pseudo-realidade”.

Realmente, se formos descer ao ensinamento bíblico e à doutrina da Igreja, veremos que o Diabo é um ser que esteve presente na vida do homem desde a sua criação. Desde o início Satanás procurou meios para perder a alma humana e, nisso, vem parecendo incansável. É um ser invisível, pessoal, dotado de inteligência e liberdade. Empregou toda a sua vontade em vingar-se de Deus através da criatura que Ele mais ama: o homem.

Satanás e os demônios

Nisso devemos fazer uma diferenciação: na Bíblia não se confundem demônios com Satanás (com raríssimas exceções). Pode agir por meio da possessão, fenômeno físico-psíquico e espiritual, que causa padecimento do corpo e/ou da mente. Em sua tentação e seduções, tem por único e exclusivo objetivo a perdição eterna, a condenação da alma.

Satanás é o tentador no âmbito espiritual e sobrenatural. Seja qual for a maneira dele atacar o homem, deve ser encarada com seriedade e confiança na proteção divina. Evitar toda e qualquer doutrina que tente minimizar ou neutralizar a ação do malígno se faz necessário, pois só se vence um inimigo quando se conhece bem suas potencialidades. Fingir que ele não existe, ou mesmo que não oferece muito perigo, é concordar com a própria derrota. Ignorar o adversário que está às portas é consentir a própria perdição.

Muitas pessoas, no decorrer da história, deixaram-se levar por esse engano e as conseqüências foram irreversíveis.

Santa Teresa d’Ávila afirmou certa vez que o que a fez tomar por prioridade a sua salvação, foi, acima de todas as consolações divinas, a experiência que ela teve no Inferno. Deus permitiu que Teresa não só tivesse uma visão do Inferno, como outros santos tiveram, mas que ela participasse e experimentasse das sensações e do sofrimento que o Diabo havia preparado para ela no Inferno. Foi esse episódio que a fez perseguir exaustivamente a santidade de modo que tantos anos pudesse viver nunca esqueceria esses curtos momentos, mas, ao contrário, permaneceriam vivos na sua memória como se fossem recentes. Outros santos, como sabemos, travaram violentas batalhas com demônios. São Bento, nos primeiros séculos da Igreja, já ensinava o modo de escapar de ciladas demoníacas e bastava uma única imposição das suas mãos para os Espíritos Maus fugirem. Santo Antão, o Pai dos Monges, chegou inúmeras vezes a travar duelos físicos com demônios que se transformam em feras ou em guerreiros e, ao final do combate, Antão quase morto, era consolado por anjos. Santo Atanásio, seu biógrafo e que depois se tornaria bispo de Alexandria, nos deu a conhecer os ensinamentos de seu mestre. Antão foi quem, na Igreja primitiva, mais descreveu a ação desses espíritos. “Sabemos que os demônios não foram criados como demônios. Deus não faz nada mau. Também eles foram criados bons, mas decaídos da sabedoria celeste e precipitados na terra, desviaram os gentios por meio de ficções. Invejam a nós, cristãos, e movem tudo para nos fechar o acesso ao céu, a fim de que não subamos ao lugar do qual caíram.

Na história do povo de Deus

A história do povo de Deus traz várias passagens e momentos de batalha espiritual com seu maior adversário, dele se referindo de vários modos e utilizando comparações que definem muito bem o caráter pernicioso que lhe é peculiar: Diabo, o acusador, caluniador, mentiroso; Satanás, o adversário, inimigo, oponente (é a forma helenizada do hebraíco Satán); Belial, a perdição, desgraça, inutilidade. É muitas vezes comparado à serpente, para enfatizar sua astúcia e maldade, e à seres monstruosos chamados de dragões. No livro da Sabedoria, escrito pelo ano 100 a.C. procede-se a identificação da serpente com um Diábolus, inimigo do homem e antagonista de Deus. É também comumente chamado de tentador (do grego peirázôn). A mentira é o seu habitat, sua característica. O lugar onde vive e prospera . “…este tem sido homicida desde o princípio e jamais se encontrou na verdade, porque nele não há verdade”. O Diabo faz perecer o Homem mediante a mentira, afastando-o da verdade, ou seja, do Deus verdadeiro e da meta verdadeira. É o príncipe deste mundo, intitulado por Jesus.

Não resta, pois, a nós nem a quem quer que seja, rotular de outro modo a existência e a ação das potências malígnas, mas nos cabe escolher e seguir prontamente os conselhos de Cristo. Se por um lado, vastas são as passagens que indicam a existência do mal, por outro, temos um maior número ainda daquelas que nos encorajam e nos dão a certeza da vitória de Jesus sobre o Reino das Trevas. “Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? (…) Estou convicto de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do futuro, nem forças, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra coisa existente, poderá separar-nos do amor de Deus”. Paulo, em outra ocasião, nos ensina que “em seguida será o fim, quando entregará o Reino ao Pai, quando tiver destruído todo o principado (…) como último inimigo será destruída a morte”. Satanás sabe que seus dias de influência são limitados, que ele já foi vencido pela Morte e Ressurreição de Cristo. “Assim, não nos curvemos em espírito, não raciocinemos em nossa alma sobre suas artimanhas, não cedamos ao terror, dizendo: Oxalá o Demônio não venha me aterrorizar, Oxalá não me arrebate e não me atire (para baixo), Oxalá não pensemos de forma alguma em tais coisas, não nos aflijamos como se fôssemos morrer. Encorajemo-nos e alegremo-nos sempre por sermos salvos e meditemos em nossa alma que o Senhor está conosco, que os pôs em fuga derrotados. Reflitamos e ponhamos bem no coração que, estando o Senhor conosco, os inimigos nada nos fazem.”.

Saber que o mal existe é necessário, porém seria loucura fazer dele o centro das nossas preocupações. O jardineiro que passa os dias preocupando-se com ervas daninhas não encontra tempo para plantar uma flor. Seu jardim torna-se sem vida, não é jardim. Vivamos sabendo que Cristo é o centro da nossa vida e que tudo o que subsiste é por sua permissão. Somos chamados a batalhar hoje, com coragem, aqui na terra, para depois participarmos das “Bodas do Cordeiro”.


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